
Em sua última visita a São Paulo, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), além de cumprir extensa agenda política, concedeu entrevista exclusiva ao site BRPolítico, do Estadão, na segunda-feira (20). Ele destacou ao jornalista Gustavo Zucchi, que está empenhado em construir uma ampla frente democrática para o enfrentamento ao grupo político de Jair Bolsonaro.
Perguntado se ele se vê como candidato em 2022, respondeu: “se Deus quiser estarei finalizando o governo do Estado deixando a população do Maranhão com políticas sociais capazes de termos um retrato melhor do que quando eu assumi. E como decorrência dessa meta, espero estar nas urnas concorrendo a algum mandato eleito. De que natureza, ainda é um processo bem distante”.
Sobre a frente, Flávio Dino lembrou que “se nós olharmos a história brasileira, sempre vamos encontrar que avanços democráticos e sociais decorreram de alianças, de frentes políticas, de articulações envolvendo setores com vinculações diferentes”.
“Ou seja, é preciso sempre, consultando a história, entender que nós só vamos retomar um ciclo de desenvolvimento com justiça social no Brasil se o campo progressista, democrático, popular, da esquerda, ver condições de reeditar, a exemplo desses outros momentos, essas articulações mais amplas”, destacou o governador, que lembrou o momento do enfrentamento da ditadura militar.
Sobre as dificuldades e resistências de setores da esquerda em ampliar a frente para superar o projeto entreguista de Bolsonaro e suas milícias protofascistas, Flávio Dino reafirma que é necessária a frente para que o Brasil possa avançar e superar esse momento trágico.
“Há dois pontos fundamentais a destacar. O primeiro deles é que essas alianças mais amplas e plurais não são inéditas na vida brasileira. Se nós lembrarmos da luta contra a ditadura, depois as campanhas pelas Diretas (Já), as campanhas pela anistia, o processo eleitoral que se seguiu, você tinha alianças entre parlamentares e lideranças de vários partidos políticos”, afirmou o governador.
“Eu cito como exemplo o palanque histórico da eleição de 1989 em torno da candidatura do ex-presidente Lula, em que estavam presentes o Mário Covas que era do PSDB, Ulysses Guimarães (MDB) e Leonel Brizola (PDT). Ou seja, havia pluralidade. O segundo ponto a mencionar é que nós teremos em um grande número de cidades, no caso das eleições municipais, e também no caso da eleição nacional de 2022, eleições em dois turnos. Então o que eu busco é a melhoria do ambiente de diálogo. Quanto mais você melhora o ambiente de diálogo, distensiona e diminui a intolerância, você cria relações de confiança, você cria possibilidades de em segundos turnos haver confiança mais ampla para derrotar um mal maior”, observou.
Otimista, Dino crê que consegue o que hoje parece improvável: unir campos diversos contra Jair Bolsonaro. Nas últimas semanas, Dino se encontrou com Luciano Huck, possível candidato à Presidência pelo Cidadania, mas não foi o único. O governador tem boa convivência com nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
O governador crê até mesmo que o PT, que manteve Fernando Haddad como cabeça de chapa em 2018 e atrapalhou os planos de Ciro Gomes, poderia até mesmo abrir mão do “exclusivismo”, mesmo tendo o protagonismo por ser o maior partido de esquerda.
Mesmo reconhecendo a liderança de Lula e o peso do PT na sociedade brasileira, Flávio Dino assinalou que o fato de ser protagonista “não significa exclusivismo”. “Essa nuance que creio que o próprio PT compreende bem. Tanto que, citando o caso do Maranhão, eu não sou filiado ao PT e agora em 2018 tive o apoio do PT”, lembrou. “Posso citar tantos outros exemplos. Não creio que haja obstáculos para que o PT abra mão da cabeça de chapa em eventual eleição, em uma chapa mais ampla.
“Vimos, por exemplo, na Argentina, a própria Cristina Kirchner fez esse movimento e que resultou na vitória do campo político que ela lidera, mesmo ela sendo a pessoa mais representativa”, destacou Flávio Dino, acrescentando que “isso vai se dar mais adiante, em 2022, para ver quem agrega mais, quem tiver mais condições, acho que há um clima de bastante cordialidade que permitirá esse diálogo”.
Para Dino, Ciro Gomes é um aliado de peso em todo esse processo. “Ele [Ciro] viverá em 2020, nessa eleição municipal, um processo de reaproximação do nosso campo político. É o que eu desejo e esse será o meu empenho”. “É normal que o PDT e qualquer outro partido político tenham uma política de alianças mais flexível, uma vez que não dá para enquadrar todos os municípios em um modelo rígido, mas o certo é que muito seguramente o PDT fará aliados a partir da esquerda em muitas cidades”, afirmou o governador.
“Então, inevitavelmente, haverá compartilhamento de palanques de campanhas por parte do Ciro em relação a outros partidos do campo da esquerda. E ele pertence a esse campo. Então há uma distensão, um distanciamento nesse período que sucedeu a eleição de 2018, mas acho que não é algo imutável”, acrescentou.
Em outra entrevista, agora ao site UOL, na quinta-feira (23) Flávio Dino falou sobre seus diálogos com setores liberais, entre eles o empresário e apresentador Luciano Huck.
“A origem filosófica do liberalismo político tem mais proximidade conosco do que com a extrema direita. As declarações de Direitos Humanos são conquistas liberais, a separação de poder e democracia. Tancredo Neves era liberal – e qual o problema de a esquerda ter apoiado? Ulisses Guimarães, liberal enorme. O Brasil vive uma conjuntura de trevas. Há uma ameaça objetiva à vida democrática, a dissolução da nação. O nazismo está entronizado como política de Estado. O vídeo desse secretário [Roberto Alvim] não é algo isolado. É preciso ter responsabilidade. Sei do tamanho dessa ameaça. Todos os democratas do Brasil têm a obrigação de saber o risco. Às vezes, a gente ri um pouco, que é uma característica positiva, mas ele tem um lugar na construção dos discursos. Hitler, no início, também era minimizado como algo anedótico e virou o que virou”, advertiu.
Com informações do Estadão, UOL e do Portal Vermelho