O senador baiano Otto Alencar, do PSD, fez um conjunto de perguntas sobre a Covid-19 ao ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que não soube responder, ficando claro, mais uma vez, que no Ministério encontrava-se alguém preparado apenas para implementar o negacionismo do presidente
“O senhor não sabe nem o que é a doença, não sabe nada da doença, não poderia ser ministro da Saúde, pode ter certeza absoluta”, cobrou o senador Otto Alencar (PSD-BA) ao ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, durante a tomada do depoimento na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, desta quinta-feira (20).
Pazuello compareceu novamente à CPI porque passou mal na quarta-feira (19) e ainda começou a sessão do plenário do Senado durante a oitiva.
Diante destes fatos, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) decidiu suspender a reunião e reconvocá-la, porque faltavam mais de duas dezenas de senadores que ainda não haviam feito suas perguntas ao ex-ministro.
Médico, Otto afirmou ter ficado muito animado que Pazuello havia dito que era necessário questionamentos e perguntas “mais profundas” e “mais completas” sobre a Covid-19 e fez uma série de perguntas técnicas sobre o vírus ao ex-ministro da Saúde, que não soube responder.
TERGIVERSASÃO
Diante das perguntas desconcertantes, o ex-ministro, que dirigiu a pasta da Saúde por quase 1 ano, se defendeu falando que nem todos que comandaram a pasta eram médicos. No entanto, o senador voltou a debater as falas do general e apontou o senador José Serra (PSDB-SP), que também não era especialista da saúde quando assumiu o Ministério da Saúde, de 1998 a 2002, e desempenhou trabalho competente.
“Para conhecer e tratar uma doença antes de tudo o senhor tinha que estar com a consciência certa de que tinha o domínio do que era a doença e o senhor confessa que não sabia absolutamente nada”, cobrou o senador.
Otto Alencar ainda disse que a gestão de Pazuello durante o período em que esteve à frente do cargo foi insatisfatória e criticou o governo do atual presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia.
GOVERNO DESUMANO
“Isso só acontece no Brasil e nesse governo. É um governo que não tem compromisso com absolutamente nada na saúde. Governo em que o presidente nunca visitou um hospital de campanha”, asseverou.
“Nunca teve a humanidade, solidariedade a caridade humana de entrar em um hospital e pegar na mão de um doente e dizer: ‘vou trabalhar para te salvar’. Foi [andar de] lancha, passeio de praia, e as pessoas morrendo à míngua”, criticou.
Sucessor de Teich e antecessor de Queiroga no Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello começou o depoimento dele na quarta-feira (19). Inicialmente, ele seria ouvido em 5 de maio, seguindo a linha do tempo do comando da pasta, mas alegou que estava em isolamento após contato com pessoas com suspeitas de Covid-19.
AULA QUE PAZUELLO FALTOU
O senador, com as perguntas que fez expôs que o general intendente não estava preparado para assumir os compromissos diante dos monumentais desafios projetados pela pandemia da Covid-19. E também que Pazuello não se preocupou, durante o tempo em que esteve à frente da pasta, em se preparar.
“Doutor, vou repetir. Eu não vou nem colocar a resposta assim, dessa forma, só para não agredir a área médica. Eu não sei mesmo”, respondeu Pazuello. “Mas o senhor tinha que saber — tinha que saber”, retrucou o senador.
“Então, para conhecer e tratar uma doença, antes de tudo o senhor tinha que estar com a sua consciência certa de que tinha o domínio do que era a doença, e o senhor confessa que não sabia absolutamente nada. Então, isto é uma coisa muito grave: aceitar [a responsabilidade de assumir o ministério sem estar preparado]”, cobrou novamente o senador.
USO DE MÁSCARA
“No começo agora do ano, em janeiro, o senhor deu uma declaração de que a máscara não tinha importância nenhuma, está nos jornais isso. O senhor deu essa declaração. Pois eu vou instruir o senhor sobre respeito”.
“Da máscara, eu desconheço essa declaração”, mais uma vez o ex-ministro fingiu esquecimento.
“O senhor sabe, ministro, que em 2012 teve uma manifestação do coronavírus. O Mers — “m”, “e”, “r”, “s” —, causado pelo coronavírus. Isso foi na Ásia Menor, Arábia Saudita e outros países. O senhor sabe por que as mulheres se contaminaram menos do que os homens na Arábia Saudita? Porque as mulheres, nas suas vestimentas, usam a máscara”, perguntou e explicou Otto Alencar.
“Então, para cada 10 contaminados, 8 eram homens; 2 eram mulheres. Então, o senhor deu uma declaração irresponsável no começo do ano de que não precisava usar máscara. Ela [Essa] é importante para quem está com a doença — a máscara — porque ele [esse, o vírus] não contamina e quem não tem doença também, com a máscara, não vai se contaminar”, novamente esclareceu o senador.
“A máscara salvou muitas vidas na Ásia Menor porque as mulheres as usam na sua vestimenta. Mas o senhor disse que não. O presidente da República não usa máscara. Certo? Nunca. Em todo ambiente a que ele vai, com aglomeração, ele não usa máscara”, fustigou Alencar.
BLINDAGEM E CONTRADIÇÕES
Para confrontar que o ex-ministro protege o presidente da República que diz que o mesmo não orientou posições contrárias aos protocolos de combate à pandemia. “Por exemplo, ontem mesmo, o senhor falou que não vale, que não valia o que o presidente dizia nas suas entrevistas pelo Brasil afora”.
“O presidente Bolsonaro é claramente contra a vacina. O senhor vai só ouvir o que eu vou ler aqui para o senhor, ministro Pazuello. Declarações do presidente da República. Eu vou ler para não botar o vídeo, para não constranger demais”, disse o senador.
FRASES DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO
“Primeira: ‘Procura outro [para] comprar a tua vacina”, se dirigindo ao [governador João] Doria, que, finalmente, com o Butantan, conseguiu as vacinas. Hoje, a cada 10 pessoas vacinadas, 8 são CoronaVac”, lembrou.
“Todas compradas pelo Ministério da Saúde”, respondeu Pazuello.
“Exatamente, mas, para comprar, no dia 22 de outubro, o presidente fez um discurso contra, mas, quando ele viu que ele estava acuado, porque é difícil de ele reconhecer o erro — os homens erram, os grandes homens assumem os seus erros —, e nem nisso o presidente tem coragem de assumir que errou. Ele acha que está certo até agora, prescreve a hidroxicloroquina até agora, recomenda até agora.”
“Eu vou só ler aqui as mensagens”, continuou o senador.
“A pressa da vacina não se justifica”. “Toda e qualquer vacina está descartada”. O presidente. “Toda e qualquer” — ele dizendo.
“Eu sou o governo […]. Não vai comprar vacina também não, o.k.?”
“Já mandei cancelar [a compra da vacina ao ministro, porque] … O presidente sou eu. [Sou eu o presidente]”.
“Se você virar um jacaré, é problema [seu]”. “[…] idiota que a gente vê nas mídias sociais, na imprensa, ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe!”.
“O presidente da República, general! Para o senhor, que é general, cabe uma situação dessa? Não cabe! É um absurdo, é uma afronta a quem está morrendo sem oxigênio, sem hospital”, cobrou mais uma vez postura do ex-ministro.
“Eu não vou tomar [vacina]. […] falam que eu estou dando péssimo exemplo”. “Claro! Péssimo exemplo. Os grandes líderes estadistas do mundo tomaram — todos eles tomaram. Só não tomou o presidente [Bolsonaro]”.
M. V.