Fachin já havia rebatido as ameaças feitas à véspera. “Quem questiona as urnas eletrônicas demonstra apenas motivação política ou desconhecimento técnico do assunto”, disse. Com 33 milhões passando fome, ideia fixa do “mito” é roubar a eleição
Jair Bolsonaro voltou a ameaçar o processo eleitoral, nesta terça-feira (14), ao tentar desqualificar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão responsável pela condução e a lisura dos pleitos no Brasil. “Quem eles pensam que são? Ninguém pode tudo”, disse, referindo-se ao TSE, em evento com empresários de São Paulo.
Em seguida, Bolsonaro deixou escapar o que realmente o está deixando nervoso. “Não tenho medo de eleição”, disse ele, ao atacar o ex-presidente Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto.
O TSE, em nota, já havia desarticulado na véspera um outro ataque de Bolsonaro contra as eleições democráticas, desta vez envolvendo as Forças Armadas. A insistência de Bolsonaro no assunto, mesmo com os esclarecimentos dados pelo TSE, revela que medidas mais fortes terão que ser tomadas pela sociedade para garantir o voto democrático no país.
O que está indignando as pessoas também é o fato do Brasil estar vivendo um momento de crise grave, com a inflação explosiva corroendo o poder de compra dos trabalhadores, a fome estar batendo à porta de 33 milhões de brasileiros e 12 milhões de pais e mães de família não estarem encontrando trabalho, enquanto o presidente da República não faz outra coisa a não ser tramar contra o voto popular e a democracia.
Ele não apresenta soluções para nenhum desses problemas. Sua ideia fixa é atacar as urnas eletrônicas, ameaçar ao voto democrático e tentar envolver as Forças Amaradas em seus planos antidemocráticos de permanência no poder.
Antes deste novo pronunciamento de Bolsonaro, Edson Fachin e o TSE já haviam respondido, na véspera, a outros ataques antidemocráticos. O órgão lembrou que a Justiça Eleitoral brasileira há 90 anos é responsável pela condução das eleições em substituição aos desmandos e fraudes que existiam no país na época dos coronéis da Velha República, dos votos impressos e suas tumultuadas salas de apuração. A ideia fixa de Bolsonaro é reimplantar o voto de cabresto.
Sua última alegação, de que as FFAA teriam cobrado, sem sucesso, uma apuração simultânea do pleito, foi desmentida por Fachin. “Peço licença para expor, no ensejo, um esclarecimento. A JE está preparada para conduzir a Eleição de 2022 de forma limpa e transparente, tal como tem feito há 90 anos. Quem questiona demonstra apenas motivação política ou desconhecimento técnico do assunto. Refiro-me agora especificamente a uma entrevista de alta autoridade da República em que menciona não ser possível contagem simultânea de votos. A crítica é indevida. Disse ontem, dia 12, a alta autoridade que “a apuração simultânea de votos foi uma alternativa ‘muito importante’ que ficou de fora”. Com o devido respeito, há um erro de informação”, disse o presidente do TSE.
Mostrando que não desiste do golpear a democracia, ele insistiu novamente em envolver as Forças Armadas em suas artimanhas. Afirmou que a eleição “é uma questão de segurança nacional”, ao citar o papel dos militares no processo e nos recentes questionamentos ao TSE. Mas é exatamente por ser uma questão de segurança nacional e de garantias democráticas, que o processo deve ser conduzido por uma Justiça Eleitoral isenta e não pelas partes interessadas.
Na véspera, Fachin já havia respondido ao ofício do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, sobre o tema das urnas eletrônicas. Ele reforçou a “elevada consideração” da Corte Eleitoral “às Forças Armadas e a todas as instituições do Estado democrático de Direito no Brasil”, mas reafirmou que a Justiça já está pronta para conduzir as eleições de forma justa, limpa e transparente.
Desde o ano passado, os militares fizeram 88 questionamentos ao sistema de votação, além de sugestões de mudanças nas regras do pleito. O TSE informou que acolheu parte das sugestões enviadas pelas Forças Armadas, assim como de outros órgãos convidados a opinarem pelo TSE. Segundo o documento da Comissão de Transparência das Eleições, das 15 sugestões apresentadas pelo representante das Forças Armadas na comissão dez foram acolhidas total ou parcialmente; quatro serão analisadas no próximo ciclo eleitoral; e uma foi rejeitada.
No discurso de improviso aos empresários, nesta terça-feira (14) Bolsonaro de novo ameaçou não cumprir decisões do STF, ao citar o tema do chamado marco temporal das terras indígenas, ainda sem prazo para votação no tribunal. Ao repetir que não cumpriria decisões do STF, aumentou o tom de voz e disse: “Chega de bananas e demagogos na política brasileira.” Esta última fala mostra que as intenções do golpista extrapolam o desrespeito às eleições de outubro.