
O procurador-geral Avichai Mandelblit expediu, nesta terça-feira, 28, o indiciamento do premiê israelense, Bibi Netanyahu, logo após o fracasso de suas manobras protelatórias. Ele agora vai responder em julgamento acusado de fraude, suborno e quebra de confiança em três casos de corrupção no Tribunal Distrital de Jerusalém.
Netanyahu estava tentando se safar do tribunal através de um pedido de imunidade penal restrita ao cargo de primeiro-ministro, ou seja, exclusivamente para ele próprio.
Com a medida, ele tentava escapar do juízo pelo menos até as eleições (pela terceira vez os israelenses vão às urnas, uma vez que nas outras duas nenhum dos dois candidatos mais votados, Netanyahu e Benny Gantz, conseguiu reunir em torno de si os 61 apoios de deputados eleitos em um parlamento unicameral de 120 deputados).
As manobras de Netanyahu foram caindo uma após outra. Depois do pedido de imunidade, encaminhado no começo do mês – que precisaria ser aprovado no parlamento (o Knesset) -, ele e seus apoiadores tentaram outra, alegando que o parlamento não estaria funcionando devido à impossibilidade de formação de governo. Acontece que o presidente do Knesset (parlamento israelense), Elderstein, não aceitou a proposta indecorosa e não quis se enlamear e, apesar de integrar o bloco do premiê, convocou uma comissão para estudar a questão de imunidade ainda antes do pleito de março.
Trump correu em socorro de Netanyahu chamando-o à Casa Branca para apresentar o seu arremedo de “plano de paz” que seria, segundo insiste, “o negócio do século”, ou seja, uma fraude para encobrir outra fraude, como se a questão nacional palestina assim pudesse ser enquadrada.
No esforço de ofuscar os processos, Trump convidou o principal opositor (mais votado que Netanyahu nas recentes eleições), Benny Gantz, que deu um pulo a Washington mas negou-se a se encontrar com Trump e Netanyahu no mesmo momento, evitando assim a foto que colocaria Netanyahu como o co-patrocinador da tramoia (já rejeitada pelas demais forças opositoras como Meretz, trabalhistas e Lista Árabe Unificada), além do repúdio da Autoridade Nacional Palestina, que qualificou a “proposta” de Trump como absurdo que enterraria as possibilidade de paz com base nos dois Estados, a exemplo do apoio a anexação de mais 30% do que restou aos palestinos nas linhas de 1967 e do prêmio à anexação de Jerusalém, com a transferência da embaixada dos EUA para lá.
Gantz viajou imediatamente após o encontro com Trump para acompanhar os debates sobre o pedido de imunidade de Netanyahu e a maioria dos membros da Comissão já se manifestaram rechaçando a excrecência jurídica.
Diante da iminente derrota e percebendo que os debates na Comissão colocariam a questão dos processos contra ele no centro, Netanyahu finalmente retirou sua proposta.
Apoiadores de Netanyahu disseram da suposta velocidade da decisão do procurador Mandelblit que tudo seria “perseguição obsessiva”.
Netanyahu – cujo mandato trouxe Israel ao borde da guerra, seja com os bombardeios sucessivos à Síria e o apoio aos terroristas que tentavam derrubar o governo soberano de Assad e, por fim, o de acordo com o assassinato, em solo iraquiano, do principal general iraniano, Qassem Soleimani, o que gerou uma tensão que há muito não se via na região – disse que o indiciamento seria “por questões políticas de quem não sentia a gravidade da hora”, referindo-se a seu encontro arranjado de última hora em Washington. Com base nisso, disse que o indiciamento surgia em “um momento decisivo na história deste país”.
O procurador-geral colocou a questão jurídica em primeiro plano, uma vez que Israel – em vez da citada “oportunidade história”, corria o risco de ter um premiê afundado no pântano da corrupção e em fuga do julgamento.
NATHANIEL BRAIA, de Tel Aviv