
Com o término do motim da polícia no Ceará, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, tentou creditar a superação do impasse exclusivamente à atuação federal no conflito. Ela efetivamente ajudou, mas a visita do ministro ao estado e sua postura dócil para com os amotinados, ao contrário de ajudar a resolver o problema, foi vista como um reforço aos encapuzados que ocupavam os quartéis.
Não por acaso Moro atacou as lideranças políticas que se esforçavam efetivamente para resolver o problema. “Apesar dos Gomes, a crise foi resolvida”, escreveu ele, referindo-se aos irmãos, e ex-governadores do Ceará, Ciro e Cid Gomes, ambos do PDT. Tanto Moro quanto Bolsonaro atacaram os Gomes porque o desfecho do motim não foi exatamente como eles queriam.
Moro escreveu que a crise na segurança no estado foi resolvida “apesar dos Gomes” e Bolsonaro usou seu twitter para dizer que “não somos psiquiatras!”. Ciro Gomes respondeu aos ataques de Moro e Bolsonaro lembrando a eles uma coisa muito simples: “no Ceará manda a lei”, disse o ex-governador, referindo-se ao apoio que os dois deram aos milicianos locais.
Tanto a ida de Moro ao estado, que foi duramente cobrada por não constar dela nenhuma crítica ao vandalismo patrocinado por milicianos infiltrados no movimento, como a live de Jair Bolsonaro, afirmando que o problema era do estado e que suas tropas não ficariam “eternamente” no Ceará, deram fôlego aos amotinados. Eles viram nessa atitude das duas “autoridades federais” uma senha para radicalizar.
Não fosse a atuação firme do senador Cid Gomes que – com risco da própria vida – colocou um freio nas ações ilegais do banditismo encapuzado que aterrorizou a população de Sobral, não fosse a cobrança explicita feita por governadores de estado no sentido que o Planalto não retirasse as tropas e que Moro condenasse as ações violentas e ilegais dos bolsonaristas infiltrados no movimento, o resultado não seria positivo como foi.
O fato é que, apesar de todas essas sabotagens de Bolsonaro e Moro, os policiais reassumiram o controle de seu movimento, aceitaram a proposta salarial feita pelo governo do Ceará e encerraram o motim.