Ocupante do Planalto chamou a todos eles de “paus de arara”. Ainda por cima revelou que não sabe nada sobre Padre Cícero. Disse que o líder religioso cearense era pernambucano
Jair Bolsonaro repetiu sua arrogância de sempre e agrediu os moradores do Nordeste brasileiro, em sua live que foi ao ar na quinta-feira (3). Chamou todos eles de “paus de arara”.
“Está cheio de ‘pau de arara’ aqui e não sabem que cidade fica padre Cícero?”, disse o capitão cloroquina, dirigindo-se aos assessores que trabalham na transmissão do programa.
O termo ‘pau de arara’, usado por Bolsonaro para agredir os irmãos do norte, sempre teve um caráter pejorativo. Ele refere-se aos caminhões usados na migração, em décadas passadas, de pessoas pobres do Nordeste para outras regiões do país em busca de trabalho. Segmentos elitistas e racistas da sociedade brasileira, que geralmente não costumam trabalhar, lançam mão desta ofensa quando querem agredir e menosprezar o povo do Nordeste.
Não é à toa que as pesquisas de opinião têm mostrado que Bolsonaro é repudiado pela ampla maioria da população nordestina. Segundo o Instituto Poder Data desta semana, 60% dos nordestinos repudiam o governo Bolsonaro. Só 22% o apoiam.
Além da ofensa aos moradores dos estados nordestinos, ele demonstrou sua alta ignorância e desprezo pelos assuntos que afetam a vida do povo brasileiro. Disse que o líder religioso Padre Cícero, morto em 1934, e que era amado e venerado pelo povo de uma forma geral, e pelo povo nordestino de uma mais intensa e carinhosa, era pernambucano.
“Dadas as nossas revogações, feitas há pouco tempo, falaram que eu revoguei o luto de Padre Cícero, lá de Pernambuco”, disse Bolsonaro durante sua live semanal.
Padre Cicero, ao contrário do que disse Bolsonaro, nasceu no Ceará.
A polêmica começou porque Bolsonaro, por não ter o que fazer, a não ser arranjar confusão, lembrou que tinha revogado em 2020 dezenas de decretos de lutos de personalidades que foram homenageados por outros presidentes da República. Ele não sabia se o luto do Padre Cícero estava na lista dos decretos cancelados.
“Dada aquela confusão toda, começaram, a esquerda, a oposição, [a dizer:] ‘Olha só, eu não tenho respeito com Padre Cícero'”, afirmou Bolsonaro. Ele também disse que determinou a reedição de todos os 122 decretos de luto – incluindo os que foram revogados por um decreto de 1991.
Isso tudo veio à tona porque ele resolveu homenagear o seu guru, o astrólogo falido, morador de Virgínia, nos EUA, Olavo de Carvalho, que morreu recentemente.
Em seu mandato, Bolsonaro declarou luto oficial em apenas duas ocasiões. Na morte de seu guru, Olavo de Carvalho e do ex-vice-presidente Marco Maciel. Insensível à morte, não só dos mais de 630 mil brasileiros, vitimas da Covid – ele nunca manifestou solidariedade às famílias enlutadas -, assim como de grandes nomes das artes, da cultura, da ciência e da política nacional, Bolsonaro só derramou lágrimas pelo guru americano.
Só para se ter uma ideia da falta do que fazer de Bolsonaro, ao invés de governar, de enfrentar os problemas do país, ele mandou cancelar as homenagens ao antropólogo, ex-ministro e ex-senador, Darci Ribeiro, do ex-governador Barbosa Lima Sobrinho (2000), do ex-presidente da Câmara Luís Eduardo Magalhães (1998), e de seu pai, senador Antônio Carlos Magalhães (2007); do governador André Franco Montoro (1999) e do economista e diplomata Roberto Campos (2001), só para citar alguns nomes.
REPÚDIO ÀS AGRESSÕES DE BOLSONARO
“O presidente mais uma vez revelando seu preconceito e sua ignorância, atacou as nordestinas e nordestinos, ao nos chamá-los de “pau-de-arara”. Também demonstrou um profundo desrespeito à memória de Padre Cícero. Lamentável que uma pessoa tão pequena, ocupe um cargo tão grande!”, afirmou o presidenciável do Avante, deputado Andrá Janones.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) criticou a fala de Bolsonaro. “Ao se referir ao povo do Nordeste como “pau de arara”, o presidente agride, humilha e desrespeita milhares de brasileiros e demonstra seu preconceito com toda região. É lamentável! O Brasil não merece um presidente assim. Como mulher nordestina, registro aqui todo meu repúdio”, disse a parlamentar.
O deputado Orlando Silva ironizou o presidente. “Bom dia para todo mundo que é “pau de arara” com muito orgulho! Bom dia para quem sabe o valor do trabalho e não é um vagabundo que mama – e colocou a família para mamar – nos cofres públicos há mais de 30 anos”, afirmou.
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) repudiou a fala de Bolsonaro. “Mais uma vez Bolsonaro mostra total desprezo com os nordestinos, referindo-se a nós como “bando de pau-de-arara”. “O Nordeste é resistência! Vamos derrotar este presidente minúsculo!”, disse ela. “Bolsonaro continua com muita molecagem, muito preconceito e trabalho que é bom: nada”, disse o senador Humberto Costa, do PT.