Subiu para 157, o número de mortes confirmadas em decorrência do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de BH. Desses óbitos, 134 já foram identificados pelo Instituto Médico Legal (IML) e outros 23 ainda não têm nome e sobrenome. Outras 182 pessoas ainda estão desaparecidas. A informação foi divulgada pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil na noite desta quinta-feira. Segundo o boletim, dos desaparecidos, 55 são vinculados à mineradora Vale e outros 127 pertencem a empresas terceirizadas e comunidades locais.
Ainda de acordo com a Cedec, 133 estão desabrigadas e três hospitalizadas.
No 14º dia de trabalho, o Corpo de Bombeiros empenhou 27 máquinas nas buscas, sendo elas: 11 escavadeiras, cinco pás carregadeiras, seis caminhões e cinco escavadeiras anfíbias. O efetivo total foi de 374 socorristas: 175 bombeiros militares de Minas, 120 de outros estados, 64 da Força Nacional e 15 voluntários.
Nesta quinta-feira, as equipes de busca não contaram com o trabalho dos helicópteros por conta das fortes chuvas que atingiram a região de Brumadinho.
Rejeitos de minério já avançaram 130 quilômetros
A água contaminada pelos rejeitos de minério do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), avançou pouco mais de 130 quilômetros e está a cerca de 200 quilômetros do reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias. A informação consta de nota divulgada hoje (7) pela Agência Nacional de Águas (ANA), que diz ainda não haver certeza se os rejeitos chegarão ao rio São Francisco, onde está o reservatório de Três Marias.
“Ainda não é possível afirmar, neste momento, as consequências que advirão ou que os rejeitos provenientes do rompimento da barragem irão atingir o reservatório de Três Marias e impactar usuários de recursos hídricos localizados no rio São Francisco”, diz a nota.
No texto, a agência diz que o mapeamento do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) mostra que o ponto mais a jusante do Rio Paraopeba, onde foram identificadas alterações do parâmetro turbidez, se localiza no município de São José da Varginha (MG). O local se encontra a cerca de 200 quilômetros do início do reservatório da Usina Hidrelétrica Três Marias.
A usina de Três Marias é uma das mais importantes do país. Quem abastece a represa são os rios Paraopeba, São Francisco e outros afluentes da região Central de Minas.
ÁGUA IMPRÓPRIA
Ambientalistas da Fundação SOS Mata Atlântica percorrem em expedição os 356 km do rio Paraopeba, entre Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, e a represa de Três Marias, na região Central de Minas. E os primeiros laudos sobre a qualidade da água após o rompimento da barragem da Vale são alarmantes. A água é péssima, imprópria para vida aquática e para o consumo humano.
Os pesquisadores revelam que amostras coletadas até Paraopeba, cidade situada a cerca de 94 quilômetros de Felixlândia, cortada pelo São Francisco, já mostram a baixa qualidade da água para a sobrevivência. “A qualidade da água é imprópria para qualquer tipo de consumo. Até agora, o nível de qualidade desde Brumadinho é péssimo”, disse Malu Ribeiro, especialista em água e que percorre o leito do rio desde o dia 31 de janeiro.
A expedição começou no último dia 31 e se encerra neste sábado (9). A primeira análise da água foi feita 100 metros após o local que a lama de rejeitos da barragem I da mina Córrego do Feijão atingiu o rio, ainda em Brumadinho, e que deixou ao menos 157 mortos. Posteriormente, foram coletadas amostras de água em Mário Campos, onde o cenário permanece alarmante. “Neste local, sequer foi possível analisar outros indicadores a não ser a oxigenação da água, que chegou a zero e a turbidez, que estava quase 100 vezes o indicado pela legislação para água de rios e mananciais. O rio mais parecia um tijolo líquido“, afirma Malu.
Segundo a especialista, ainda não é possível saber quais elementos estão presentes na água do Paraopeba. “No momento da coleta, só é possível saber qual é o nível de qualidade da água. As amostras ainda serão levadas ao laboratório para confirmar a presença de metais pesados na água, e quais são eles. Ainda não é possível saber, por exemplo, sobre a mortalidade de peixes”, disse.
De acordo com a SOS Mata Atlântica, são utilizadas ferramentas de análise do Índice de Qualidade da Água (IQA). A cada 40 quilômetros, é coletada uma análise da água do Paraopeba. “Nós coletamos amostras em um ponto do rio, utilizamos imagens de satélite para definir qual será o nosso próximo destino e como vamos chegar até lá. Vamos de carro, percorrendo estradas de terra ou caminhos que são mais próximos do rio”, contou.
MEMBRANAS POUCO EFICAZES
Segundo relatório feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, as membranas instaladas pela Vale para impedir a passagem de rejeitos no rio Paraopeba em Pará de Minas, na região Central do Estado, não são totalmente eficazes.
A expedição realizou teste antes e depois de onde as membranas estão. Os especialistas constataram que no primeiro ponto havia um índice de turbidez de 683,8 NTU (sigla em inglês para a unidade matemática Nefelométrica de Turbidez), valor equivalente a seis vezes mais do que o indicado pela legislação ambiental, afirma a Fundação. Aproximadamente 500 metros após as membranas, onde é feita a captação de água de Pará de Minas, a turbidez foi de 366 NTU, ou seja, as barreiras estão tirando aproximadamente 50% do volume de rejeitos.