O vereador Werner Rempel (PCdoB) defendeu na tribuna da Câmara de Vereadores de Santa Maria o imediato fim dos ataques israelenses em Gaza e denunciou o genocídio perpetrado pelos sionistas contra o povo palestino. No seu discurso, o vereador, que também é médico, apresentou os dados oficiais das Nações Unidas sobre os bombardeios de Israel, que já mataram mais de 16 mil pessoas, a maioria, mulheres e crianças e defendeu que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, responda pelos crimes cometidos contra os palestinos.
Abaixo publicamos a síntese do discurso de Werner:
“Senhor presidente, senhoras vereadoras, senhores vereadores. Eu quero declarar antecipadamente que não sou antissemita, não sou contra o povo judeu. Tenho contradições profundas e irreconciliáveis com o sionismo, com a prática de Netanyahu. Conheço legiões de pessoas judias que são contra o que está acontecendo e que já faz muito tempo não querem aquele facínora no poder. Sentem-se inclusive constrangidos pelo fato de ele estar lá.
“Até o presente momento e com a escalada até agora, nós temos 16.200 mortos do lado palestino. Desses 16.200 mortos, 7.112 são crianças. Crianças que vão dormir e acordam, quando ainda conseguem acordar, com bombas caindo sobre seus telhados. 4.881 são mulheres, já faleceram 311 médicos e paramédicos e 81 jornalistas. Até o presente momento estão computadas 7.600 pessoas desaparecidas, que não estão computadas entre os mortos, e dessas desaparecidas a maioria, 70%, 80% são crianças.
“Eu quero que vossas excelências imaginem, só por um instante, crianças nos escombros. Sem poder ser retiradas. Morrendo a míngua o tempo todo. Dezoito dos 36 hospitais foram destruídos. Apenas três existem ainda no norte, o hospital de Al-Ahli no norte é o único do país que trata traumas e está em precárias condições. Os civis estão sendo implacavelmente bombardeados e o caos está instalado.
“Sabem, vossas excelências, que quando a situação fica ruim, fica terrível, quando acontece o que está acontecendo em Gaza agora, porque a invasão por terra piorou a situação, as pessoas estão procurando comida, água, potável que não existe, qualquer água para beber nas ruas de Gaza. Não tem assistência médica, não tem insumo nos hospitais e a ofensiva continua”
“O Hamas deu o pretexto para que isso acontecesse. Mas está muito claro que o plano o tempo inteiro é remover 2,3 milhões de pessoas para fora de Gaza. Para o Egito. Para ocupar aquela área, não tem outra justificativa. O genocídio acontecendo dessa forma.
“Imaginem o quadro, estou tentando pintar o quadro. Cinco escolas da ONU bombardeadas de uma só vez, cinco escolas da ONU, alvos planejados, execuções acontecendo, execuções, sai na rua, sua casa é bombardeada, sai na rua é alvejado por tiros. Genocídio, execuções. 70% das casas e prédios no chão.
“Com a invasão por terra, a ajuda humanitária cessou, não tem mais como fazer, há risco para quem chegar lá. Eles estão empurrando 1,8 milhões de palestinos para uma área menor que o aeroporto de Londres. Para o sul.
“Conseguem perceber o que vai dar nisso? E as bombas que estão sendo usadas são de fabricação norte-americana. Isso não é uma novidade.
“O marco zero disso tudo não é o dia 7 de outubro, com a maldita ação do Hamas. Não é 7 de outubro. Isso vem de muito tempo, quando as terras daquelas região foram divididas. A ONU imaginou que haveria metade para cada povo. Hoje, os palestinos não têm 5% da área, 10 vezes menor do que a ONU imaginou para devolver aos judeus uma pátria.
“Venho a essa tribuna porque fico horrorizado com o que está acontecendo de imaginar que a falta de humanidade chegou a tal ponto.
“Eu tenho um neto de 6 anos, alguns outros aqui tem netos, tem gente que tem filho pequeno. Imaginem os seus filhos e netos, nos escombros gritando por ajuda, morrendo de fome e de sede, nos escombros, porque como acontece nos terremotos, as crianças geralmente estão entre sobreviventes porque são menores, um pequeno espaço a salva, não é que nem um adulto grande em que cai alguma coisa em cima da perna, fratura e morre de outra forma.
“Isso chegou ao cúmulo dos cúmulos. O mundo precisa se levantar e dizer que o cessar fogo tem que ser permanente e essa pessoa chamada Netanyahu tem que ser julgada.
“Não é possível, quantos israelenses morreram? 1300, 1700 nessa história toda, agora parece que 80 soldados israelenses perderam a vida nesse período todo, 80. Será possível que o mundo não vá se levantar contra isso? Será possível que a gente mantenha essa insanidade global em relação a ver isso acontecendo? São crimes que envergonham outros crimes da história e que muitos povos já sofreram, vocês sabem ao que eu estou me referindo
“Mais uma vez eu quero declarar, porque tenho amigos judeus, amigos que são referências para mim: não sou anti-semita. Sou anti-sionista! Essa política racista, etnocida, que quer varrer do mapa um povo inteiro que está lá há três, quatro mil anos. São incapazes de conviver.
“As manifestações dos judeus nos Estados Unidos, na Europa, em tudo que é lugar, são pelo cessar-fogo, não são a favor disso, e essa gente sequer dá ouvidos ao que a ONU determina. Vai votar no Conselho de Segurança para que haja alguma solução, tem dois votos contrários, claro, o de Israel e o dos Estados Unidos, com o poder de veto, isso precisa terminar. Nós não podemos continuar com essa chaga acontecendo. Me dói profundamente que no ano de 2023 a gente ainda viva um tempo tão selvagem, tão anti-humano, dessa forma”, concluiu Werner, aplaudido pela sessão em Santa Maria.
Assista o discurso (a partir das 2h58):
Parabéns ao vereador Werner pelo posicionamento! Apresentar contra-narrativa é posição corajosa!