A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que não há motivo para interromper o uso da vacina AstraZeneca/Oxford pois “nenhuma relação causal foi demonstrada” entre a vacina e os relatos de formação de coágulo no sangue, que levaram mais de 15 países a anunciarem a suspensão do seu uso.
Também a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), cujo parecer definitivo sobre o tema virá a público na quinta-feira, se disse “firmemente convencida que as vantagens da vacina AstraZeneca na prevenção da covid-19, com o seu risco associado de hospitalização e morte, superam o risco dos seus efeitos secundários”.
O órgão regulador de medicamentos da Grã Bretanha disse que as evidências “não sugerem” que a vacina cause coágulos e instou as pessoas no país a tomarem a vacina quando esta estiver disponível para elas.
Até o momento, 17 milhões de pessoas na União Europeia e no Reino Unido receberam uma dose da vacina, com menos de 40 casos de coágulos sanguíneos relatados na semana passada, afirmaram a AstraZeneca e a Universidade de Oxford, que desenvolveu o imunizante.
Na semana passada, casos de coágulos sanguíneos e de trombocitopenia após a imunização com a vacina da AstraZeneca fizeram ‘soar os alarmes’. A trombocitopenia é uma condição rara, que ocorre quando há um número reduzido de plaquetas (trombócitos) no sangue, aumentando o risco de hemorragia.
No dia 8, a Áustria anunciou a suspensão de um único lote da droga em 8 de março, após a morte de uma enfermeira de 49 anos de “graves distúrbios de sangramento” dias após a injeção. O lote, de 1 milhão de doses, tinha sido distribuído entre 17 países. A suspensão do lote foi seguida pela Itália, Estônia, Lituânia, Letônia, Romênia e Luxemburgo.
A Bulgária interrompeu o uso da vacina, depois que uma mulher com várias doenças subjacentes recentemente imunizada morreu. Investigação inicial sugeriu que a paciente morreu de insuficiência cardíaca e nenhuma ligação com a vacina foi encontrada na autópsia.
No dia 11, a Dinamarca anunciou a suspensão do uso do imunizante após a morte de um idoso com “sintomas incomuns”, e foi acompanhada pela Noruega, que registrou uma morte por trombocitopenia e três hospitalizações e pela Islândia.
Por precaução, a medida foi sendo sucessivamente adotada em mais países europeus: Irlanda, Holanda, Alemanha, Itália, França, Espanha, Portugal, Chipre e Eslovênia. Acabou se estendendo a outros continentes, caso da República Democrática do Congo, que adiou o início da vacinação, e da Indonésia.
17 MILHÕES DE VACINADOS
A AstraZeneca afirmou ter feita uma “revisão cuidadosa” dos dados da imunização. “Quase 17 milhões de pessoas na União Europeia e no Reino Unido já receberam nossa vacina, e o número de casos de coágulos sanguíneos relatados neste grupo é menor do que as centenas de casos que seriam esperados na população em geral”, disse Ann Taylor, diretora-médica da companhia.
O vice-presidente do Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização britânico (JCVI, na sigla em inglês) e professor de Oxford, Anthony Harnden, disse em entrevista à BBC que todas as evidências atuais mostram que a vacina Oxford-AstraZeneca “é segura”. “No momento, a mensagem é absolutamente clara – vá e receba sua vacina quando for oferecida”, sublinhou.
Ele disse que não havia “nenhuma diferença demonstrável” no número de coágulos sanguíneos vistos entre a população em geral e os 11 milhões [de britânicos] que receberam a injeção Oxford-AstraZeneca até agora. “Se houvesse alguma preocupação sobre isso, o público seria informado imediatamente”, acrescentou.
“Temos que lembrar que há 3 mil coágulos sanguíneos por mês em média na população em geral e, como estamos imunizando muitas pessoas, estamos fadados a ver coágulos sanguíneos ocorrerem ao mesmo tempo que a vacinação transcorre, e isso não é porque eles estão por causa da vacinação”, ressaltou Harnden.
“Isso é porque eles ocorrem naturalmente na população.” Ele acrescentou que “os riscos de não ter a vacinação da Covid superam em muito os riscos da vacinação”.
Por sua vez, o professor Andrew Pollard, diretor do grupo de vacinas de Oxford que desenvolveu o imunizante Oxford-AstraZeneca, disse que “a segurança é claramente fundamental” e nenhuma ligação foi encontrada entre a vacina e os coágulos sanguíneos.
Ele afirmou à BBC que há “evidências bastante tranquilizadoras de que não há aumento no fenômeno do coágulo sanguíneo no Reino Unido, onde a maioria das doses na Europa foi administrada até agora”. A Finlândia também fez um “estudo muito cuidadoso” e não encontrou um risco aumentado, apontou.