“Eu acho que mais do que a falta de credibilidade do governo, o que está assustando os investidores é o clima de conflito perpétuo produzido pelo presidente”, declarou o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro ao HP, sobre a decisão da Ford de fechar as fábricas no Brasil.
“Quem olha de fora, e eu compartilho dessa percepção, acha que o Brasil pode entrar numa guerra civil. O presidente Bolsonaro aposta no caos. Ele é contra a vacina, enfim, ele quer que quanto mais gente morra melhor. Quer dizer, essa pelo menos tem sido a atitude dele, não sei se é a intenção, que eu não posso julgar, mas as atitudes dele são no sentido que quanto pior melhor”, frisou.
Ao ser questionado se a saída da Ford é mais um sintoma do agravamento da desindustrialização no País?, Oreiro disse que “é um símbolo”.
“A Ford está enfrentando problemas no mundo inteiro, não é só no Brasil. Não se pode atribuir a saída da Ford apenas à desindustrialização da economia brasileira. Ao que tudo indica, houve também uma decisão estratégica da Ford de reduzir a escala de operações da América Latina e concentrar na Argentina. A razão pela qual ela resolveu concentrar na Argentina é que nos deve deixar preocupados. O mercado interno brasileiro é muito maior que o mercado da Argentina”, avaliou o economista.
“Na verdade eles vão produzir os EcoSport que já produzem e vão exportar para o mercado brasileiro. E por que eles fizeram isso? Primeiro, no caso brasileiro, a indústria automobilística brasileira tem uma capacidade de produção de aproximadamente 5 milhões de automóveis, que foram resultantes dos investimentos feitos entre 2000 e 2010. Mas devido à crise 2014/2016, e agora a crise da Covid-19 e a fraquíssima recuperação que a economia teve entre 2017 e 2019, o fato é que o Brasil não está produzindo nem 3 milhões de automóveis, então tem muita capacidade ociosa”.
“No caso da Ford, além do movimento de desindustrialização – que ocorre no Brasil desde 2005 – há também a continuidade da recessão de 2014/2016, agora novamente em 2020. A indústria automobilística é uma indústria que precisa de escala para ser competitiva, e com uma capacidade de produção de 5 milhões de automóveis, na indústria automobilística do Brasil inteiro, você não consegue produzir 3 milhões, aí realmente fica muito difícil”, declarou o professor da UnB.
ANTONIO ROSA