Diante do aumento de casos de Covid-19 no Rio, o prefeito da capital Eduardo Paes anunciou, na terça-feira (4), o cancelamento do Carnaval de rua na cidade. “Acabei de ter, nesse momento, uma reunião com o pessoal dos blocos de rua, e a gente comunicou a eles que o Carnaval de rua, nos moldes que eram feitos até 2020, não acontecerá em 2022. Infelizmente, eu falo aqui como prefeito que gosta de Carnaval, como cidadão, e infelizmente a gente não pode fazer”, informou o prefeito em uma live em suas redes sociais.
“A situação ainda não permite os desfiles, então está resolvido. Não podemos ir contra a ciência e colocar em risco a vida dos foliões”, defendeu Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, associação que representa 11 dos principais blocos da cidade. Segundo ela, todos os representantes de outros blocos e entidades que participaram da reunião com Paes e o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz concordaram com a decisão.
A medida, mais do que acertada, não coaduna, no entanto, com o restante dos planos do prefeito para o Carnaval de 2022, já que, até o momento, a ideia da prefeitura é manter os desfiles das escolas de samba, permitir festas fechadas e os bailes particulares, em clubes, e hotéis, com a exigência do passaporte de vacina.
A questão é que apenas uma escola de samba tem entre 3 a 4 mil componentes, e festas e bailes durante o carnaval não ficam muito abaixo disso em número de participantes.
A proibição apenas dos blocos foi criticada pelo presidente da comissão da Câmara Municipal do Rio que trata do Carnaval, vereador Tarcísio Motta (PSOL). Segundo o vereador, a medida “é elitista”.
“A proibição dos desfiles do Carnaval de Rua, o cancelamento dos desfiles na Intendente Magalhães e na Avenida Chile e a liberação de bailes carnavalescos em clubes e outros locais fechados terão como consequência a elitização do carnaval carioca, o que contraria o espírito democrático do carnaval em nossa cidade”, diz trecho de nota divulgada pela comissão logo após o anúncio de Eduardo Paes.
Para os membros da comissão, “os indicadores epidemiológicos e sanitários [da Covid-19] apontam que não é possível garantir a segurança sanitária” na cidade, e propõem o adiamento do Carnaval para meados de 2022.
Os vereadores afirmam que diante do exemplo de outros países, que tiveram e estão tendo aumento exponencial de casos e da maior disseminação da variante Ômicron, apenas a exigência de passaporte de vacina “parece não ser suficiente para conter sua transmissão”.
“Não nos parece adequado simplesmente diferenciar eventos carnavalescos em espaços fechados daqueles realizados em áreas abertas. Infelizmente, isso significa que pode não ser seguro ter carnaval na Sapucaí, muito menos cortejos de blocos em espaços fechados”, diz a nota.
No texto, a comissão defende ainda que para diminuir o impacto econômico da não realização ou adiamento do Carnaval, a Prefeitura lance um programa de auxílio para trabalhadores como artesãos, costureiros, dançarinos, carnavalescos, camelôs, entre outros.
“Diante desse cenário e com toda a discussão acumulada pela comissão especial que presidimos há 5 anos na CMRJ, estamos propondo que a prefeitura, as ligas e associações de escolas, blocos e demais agremiações carnavalescas considerem a possibilidade de adiar o carnaval como um todo para meados do ano de 2022, quando os indicadores deverão estar melhores. Assim o impacto do cancelamento do carnaval sobre os trabalhadores e toda a cadeia produtiva do carnaval pode ser, ao menos, amenizado, e a festa poderá acontecer em toda a sua diversidade e força”, diz a nota.
O Carnaval é responsável por uma movimentação econômica de R$ 2,2 bilhões na cidade, com retorno aos cofres públicos de cerca de R$ 155 milhões em tributos municipais, estaduais e federais, segundo dados da Subsecretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.
A taxa de positividade para testes de Covid-19 na cidade subiu de 9,6% para 13% nas últimas semanas. Segundo informou o prefeito Eduardo Paes, a cidade já tem três casos da variante Ômicron confirmados e 180 casos sob investigação.