
A pandemia de coronavírus, a Covid-19, cujo epicentro agora é a Europa, forçou o governo Trump a recuar da provocação contra a Rússia, as maiores manobras militares dos EUA/Otan em 25 anos, nas fronteiras da Rússia, e ostensivamente planejadas para coincidirem com a comemoração, em Moscou, em maio, dos 75 anos da vitória sobre o nazismo.
Na segunda-feira, diante do avanço do coronavírus, o Pentágono anunciou que “reduzirá drasticamente o tamanho e o escopo” das manobras ‘Defensor da Europa 2020’ e que os milhares de soldados que estava enviando para formar a espinha dorsal do exercício militar, agora vão ficar em casa mesmo e os que já chegaram, nas duas primeiras semanas de março, terão de voltar.
O total de casos confirmados na Europa se aproxima de 60 mil, com quase 25 mil na Itália e quase 10 mil na Espanha. Até terça-feira, o total de óbitos pelo coronavírus na Itália superou os 2.500.
ALISTANDO O CORONAVÍRUS
A manutenção das manobras era uma insanidade: na hora em que os principais países da Europa ocidental já estão em quarentena, ou se preparando para entrar, e determinando que a população fique em casa para evitar a disseminação do coronavírus, a economia parando e a estrutura de saúde pública estressada ao extremo, 20 mil soldados norte-americanos iam estar desembarcando para fazer uma peregrinação em meio à pandemia, junto com outros 10 mil soldados norte-americanos que já lá estão, como parte da ocupação, perdão, da “aliança atlântica”, mais 7 mil soldados europeus que deveriam estar fazendo alguma coisa mais útil para ajudar a conter o contágio.
Como alguém observou, “distanciamento social” não combina com manobras militares. Também não havia previsão de máscaras para as tropas. Os soldados, transportes e blindados iriam se deslocar por vários países europeus, num cenário quase apocalíptico em tais circunstâncias.
No sábado, o norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, cargo que corresponde à função de secretário de imprensa do general norte-americano no comando, insistiu em que a “Defensor da Europa” não seria cancelada.
Acabou corrigido pelo Pentágono e agora a provocação contra a Rússia terá uma escala bem menor, e portanto, ficará mais ridícula.
EXERCÍCIOS CANCELADOS
“Em 13 de março, todo movimento de pessoal e equipamentos dos Estados Unidos para a Europa cessou”, confirmou em comunicado o Pentágono na segunda-feira. Aliás, em meio à pandemia, o moral das tropas deve andar elevadíssimo.
Entre os exercícios militares que foram cancelados estão Dynamic Front, Saber Strike, Swift Resolve e Joint Warfighting Assessment.
O comunicado norte-americano fala em manter treino de artilharia numa versão modificada do Allied Spirit – possivelmente para exercitar nova modalidade de abate do coronavírus.
RECUO
Anteriormente, o governo norueguês determinou o cancelamento de uma parte dessas manobras preparadas pelo Pentágono para a Europa, que seriam em seu solo, na região ártica, alegando a incompatibilidade com a contenção da epidemia.
Na Coreia do Sul, onde existe a epidemia de coronavírus, o Pentágono teve o bom senso de desmarcar os exercícios militares que fazem todos os anos de provocação à Coreia Popular (Norte), tanto pela razão da epidemia, quanto porque, se houvesse as manobras, qualquer possibilidade de continuação das negociações pela desnuclearização da península coreana iriam pelo espaço, em pleno ano eleitoral.
Conforme as agências de notícias, o cargueiro Patriot, que estava levando equipamento militar para a Europa, já mudou de rota e está retornando aos EUA. Dois outros navios de transporte dos EUA, que estão atracados no porto holandês de Vlissingen, não foram descarregados. As provocativas manobras deveriam ocorrer na Polônia, Lituânia, Estônia, Alemanha, Bélgica e Holanda.
“INACEITAVELMENTE ALTO”
O ex-inspetor de armas dos EUA no Iraque, Scott Ritter, disse à RT que a decisão de cancelar as manobras militares realmente “melhorou a segurança europeia”, já que o risco de transmissão entre as tropas e delas para civis era “inaceitavelmente alto”.
Rick Rozoff, ativista da paz da entidade StopNato, considerou incrivelmente irônico que um vírus pareça ter descarrilado, ainda que temporariamente, a prioridade estratégica da Otan de se expandir para a fronteira russa.
“Este é um retiro tático, diante da natureza” , disse ele à RT. Para o ativista, “se e quando o coronavírus for controlado, veremos a retomada de tais provocações militares, exercícios militares em larga escala na fronteira ocidental da Rússia”.
A. P.