
Entidades de saúde, sociedades médicas e orgãos científicos repudiaram o pronunciamento de Jair Bolsonaro, em rede nacional, no qual o presidente classifica o novo coronavírus de “resfriadinho” e contradiz especialistas, além do próprio Ministério da Saúde, ao minimizar as orientações de isolamento para contenção da pandemia.
As críticas foram unânimes ao classificar a fala de irresponsável e “uma afronta grave à Saúde e à vida da populacão”, conforme nota do Conselho Nacional de Saúde.
“Frente à pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19), enfrentada por diversos países no mundo, considera o pronunciamento do presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, uma afronta grave à Saúde e à vida da população. Sua fala prejudica todo o esforço nacional para que o Sistema Único de Saúde (SUS) não entre em colapso diante do cenário emergencial que vivemos na atualidade”, afirma o Conselho Nacional de Saúde . “A CNS está do lado da população”.
Para a Sociedade Brasileira de Infectologia, “é temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é grave, pois até hoje já foram registrados mais de 420 mil casos confirmados no mundo e quase 19 mil óbitos, sendo 46 no Brasil”.
“O Brasil está numa curva crescente de casos, com transmissão comunitária do vírus e o número de infectados está dobrando a cada três dias”. “Ficar em casa” é a resposta mais adequada para a maioria das cidades brasileiras neste momento, principalmente as mais populosas”, recomendou.
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva, além de considerar “intolerável e irresponsável”, chamou a posição de Bolsonaro de “discurso da morte”.
A entidade afirmou que, em sua fala “incoerente e criminosa”, o presidente “nega o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia da COVID-19 em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em saúde.”
Dirigindo-se ao presidente, a Associação Paulista de Medicina afirmou: “Você não traz esperança minimizando o problema, mas reforçando as soluções. Existe um perigo próximo, evidente, real e gravíssimo. Enfrentá-lo é prioritário.”
A Associação Médica Brasileira reiterou que concorda com a atuação do Ministério da Saúde e com a recomendação de isolamento como medida de contenção do Covid-19. Sobre Bolsonaro, “constitui erro capital, nas crises, sustentar opiniões ou posições que perderam a validade em decorrência da evolução dos fatos”.
O presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo, Marcos Machado, disse em video que está “perplexo e preocupado”.
“Ao pregar o fim do isolamento social como estratégia de resposta à pandemia de COVID-19, o presidente contraria todas as evidências científicas. Vai de encontro, também, às próprias orientações do Ministério da Saúde, que vem trabalhando de forma correta diante desse grande desafio”, disse a Sociedade Brasileira de Imunizações em nota.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência disse, em nota, que seus integrantes estão “estarrecidos” com pronunciamento de Bolsonaro, e que a fala “significou um desserviço às ações consequentes de enfrentamento do coronavírus que estão sendo sugeridas e implementadas pelo próprio Ministério da Saúde e suas instituições, por governadores e outros gestores, e pelos órgãos de saúde pública e por seus profissionais”.
“O isolamento é uma das medidas mais eficientes para combater a propagação de COVID-19 até o presente momento. Desta forma, a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo reitera a importância de se seguir as determinações das autoridades de saúde, no sentido de se evitar ao máximo os contatos sociais”, pediu a entidade. “Medidas que abrandem o isolamento da populacão são “extremamente prejudiciais” para o combate à Covid-19, reforçou a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
A Sociedade Brasileira de Mastologia também viu “com preocupação” as declarações do presidente, afirmando que elas vão “na contramão de todas as orientações passadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas em infectologia, que recomendam o isolamento social como forma de conter a disseminação do novo vírus”.
A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, a Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea e a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica pediram, em nota conjunta, que “todos aqueles que podem manter-se em isolamento devem fazê-lo”, pois estão, dessa forma, protegendo a vida de pacientes que têm o sistema imune comprometido – como aqueles que aguardam ou passaram por um transplante de medula óssea ou, ainda, aqueles em tratamento para câncer.
“As orientações e cuidados a serem tomados diante da pandemia do novo coronavírus são aquelas emanadas pelo Ministério da Saúde”, afirmou a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, desvalidando as orientações irresponsáveis de Bolsonaro.
“O objetivo dessas medidas é evitar o colapso na assistência da saúde, que claramente trará impacto muito negativo na assistência à nossa população”, avaliou, em video, o presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, Flavio Sano.
Com informações do G1