Além de refutar as acusações contra as forças russas assacadas exatamente no momento em que elas decidiram realizar o gesto de se retirar das proximidades de Kiev, o chanceler destacou que entende que o intuito da “provocação é fazer com a negociação o que fizeram com os Acordos de Minsk”
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou, na terça-feira (05), que os assassinatos de civis em Bucha foram uma provocação destinada a encerrar as negociações entre Kiev e Moscou e refutou a responsabilidade das tropas russas nos eventos.
“Qual é a causa desta provocação óbvia e mentirosa cuja veracidade não pode ser confirmada? Estamos dispostos a pensar que a causa é o desejo de encontrar um pretexto para frustrar as negociações em curso”, disse o chanceler em entrevista coletiva televisionada. Ele ressaltou que os corpos de civis foram descobertos dias depois de “aparecer uma primeira luz” nas negociações depois que o lado ucraniano apresentou, em 29 de março, suas propostas escritas para um possível tratado entre a Ucrânia e a Rússia.
Segundo Lavrov, caso o Ocidente insista na tese do “massacre” russo em Bucha, existe o risco de que as negociações entre Rússia e Ucrânia repitam o destino dos acordos de Minsk.
Desde o último domingo (3), os meios de comunicação ucranianos e a mídia enquadrada pela narrativa dos Estados Unidos estão alinhados à versão de que a Rússia é a responsável por assassinatos em massa de civis na cidade ucraniana de Bucha, apontando imagens de corpos espalhados pelas ruas como evidência.
No entanto, já foram expostas diversas inconsistências no caso. Uma delas é que as tropas russas se retiraram da região no dia 30 de março, e a denúncia veio a público quatro dias depois. Além disso, em um dos vídeos divulgados, usuários notaram que um dos “cadáveres” move o braço para que não seja esmagado por rodas de veículos militares ucranianos, ressaltou.
“Exatamente no momento em que, segundo os acordos de Istambul, o lado russo, como um gesto de boa vontade, decidiu amenizar a situação, em primeiro lugar, nas províncias de Kiev e Chernigov, […] três dias depois de que nossos militares saíram da cidade de Bucha, a provocação de que estamos falando foi organizada lá”, afirmou o chanceler.
As conversações em Istambul ocorreram no final de março e foram consideradas frutíferas, com a Rússia até mesmo observando que Kiev “confirmou a necessidade de garantir um status não nuclear e não-bloco da Ucrânia” e sua segurança fora da OTAN.
“Pela primeira vez, o lado ucraniano colocou no papel sua disposição de declarar seu estado como neutro, não pertencente a nenhum bloco, não nuclear e […] afirmou que estava pronto para renunciar ao posicionamento de armas de estados estrangeiros em seu território e as manobras de realização com a participação de militares estrangeiros”, disse Lavrov.
“O lado russo está disposto a trabalhar honesta e sistematicamente na mesa de negociações. Mas se a delegação ucraniana afirmar que são necessárias medidas adicionais por parte da Federação Russa, se continuar se recusando a discutir as tarefas de desnazificação e desmilitarização, o restabelecimento dos direitos da língua russa, […] não acho que isso vá ajudar no andamento das negociações”, alertou o chanceler russo.
Moscou já solicitou duas vezes uma sessão urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o caso, mas ambos os pedidos foram recusados pelo Reino Unido, que atualmente preside o órgão.