“Voto de desconfiança” proposto pela oposição fujimorista foi amplamente derrotado por 73 a 50 após mobilização popular respaldar o governo do presidente Castillo e do primeiro-ministro Bellido
Após dois dias de intensa tensão no Congresso do Peru e forte mobilização nas ruas de Lima, os parlamentares aprovaram nesta sexta-feira (27), por 73 votos a 50, sem nenhuma abstenção, o voto de confiança ao gabinete do presidente Pedro Castillo, apresentado pelo premiê Guido Bellido.
“A busca por consensos permitirá governar junto ao povo e pelo desenvolvimento de políticas públicas de caráter social”, afirmou Castillo, agradecendo o expressivo apoio dado pelos congressistas contra o narco-fujimorismo.
“A missão histórica deste governo é realizar mudanças estruturais de maneira ordenada, democrática e em paz”, reforçou Guido Bellido, que iniciou o seu discurso em quechua e aymara.
Conforme vários dirigentes dos movimentos sociais, Bellido e seus ministros tiveram uma “paciência à prova de balas” para ouvir todo tipo de infâmias e acusações dos deputados fujimoristas – pela notória e reconhecida relação com o narcotráfico, pelo próprio Estado criminoso dos anos do ditador Alberto Fujimori (1990-2000), atualmente preso. De forma firme, a bancada governamental do Peru Livre foi esclarecedora e não se deixou cair em provocações.
O Congresso peruano – unicameral – é composto por 130 parlamentares: 37 são do Peru Livre; 24 do partido de Keiko Fujimori (filha do ditador), Força Popular; 16 do partido de centro-direita Ação Popular; 15 da Aliança para o Progresso; 13 do partido Renovação Popular; 7 do Avança País; 5 do Juntos Pelo Peru, Somos Peru e Podemos Peru; e 3 do Partido Morado, de Francisco Sagasti.
Um dos últimos oradores – antes da votação – foi o porta-voz do partido centrista Podemos, que ratificou o “apoio crítico ao gabinete”.
Por fim, o primeiro-ministro Bellido voltou a definir a sua relação com o “terrorismo”, de que foi acusado pelos narco-fujimoristas e, de forma contundente, destacou que governarão para todos, mas sobretudo para a maioria humilde. Emocionado, concluiu fazendo uma saudação em homenagem aos povos originários do Peru.
APOIO DAS RUAS
A expressiva diferença de votos, conforme as lideranças, foi garantida pelo apoio de dezenas de milhares de peruanos que voltaram às ruas de Lima para respaldar o gabinete Castillo-Bellido no momento em que o Congresso debatia o voto de confiança.
Concentrados em vigília em frente ao parlamento desde a noite de quinta-feira (26), os manifestantes expressavam forte apoio popular às transformações propostas pelo presidente do bicentenário.
Na sua análise de sexta-feira (27), o jornalista Ollantay Itzamná, da Telesul, apontou que o “fato é que hoje no Peru os que nasceram para ser servos governam o país”. “Castillo e Bellido ainda não começaram a executar seu programa de governo ‘subversivo’, que consiste na Assembleia Plurinacional Constituinte, revisão dos contratos de privatização e redistribuição de terras, mas tão somente com sua ‘presença autêntica’ no Estado crioulo, já estão começando a cimentar a promessa histórica atrasada: a revolução cultural democrática”, sintetizou.