
Na eleição presidencial da França em 2017, quando os mesmos nomes seguiram para o 2º turno, Macron teve o dobro de votos de Le Pen, situação que não deve se repetir agora, depois que governou por cinco anos
Mesmo com a situação instável que a França vive e a profunda insatisfação da população com o governo, os resultados divulgados das últimas pesquisas de intenção de voto antes da realização do segundo turno da eleição presidencial indicam que o atual presidente, Emmanuel Macron, vai vencer a disputa contra canditada de extrema direita Marine Le Pen.
Em 2017, quando os mesmos nomes seguiram para a votação final pelo cargo mais alto no país, Macron teve o dobro de votos de Le Pen, situação que não deve se repetir agora. Segundo o instituto Elabe, o atual presidente teria agora 55,5% dos votos, e Le Pen, 44,5%. A pesquisa ouviu 1,8 mil pessoas entre os dias 21 e 22 de abril.
Outra pesquisa feita pelo Ifop-Fiducial revela números semelhantes: 55% para Macron e 45% para Le Pen.
A deterioração das condições de vida na França – em parte como ‘dano colateral’ das sanções desencadeadas pelos EUA contra a Rússia e endossadas pelo bloco europeu, diante da operação militar especial para ‘desmilitarizar e desnazificar’ a Ucrânia, – é o pano de fundo das eleições na segunda maior economia da Europa.
Le Pen, de 53 anos, propõe inscrever a “prioridade nacional” na Constituição, para excluir os estrangeiros dos benefícios sociais e defende reduzir as competências da União Europeia (UE).
Já Macron, de 44 anos, quer recuperar o impulso reformista e neoliberal que iniciou no primeiro mandato.
Em favor de Macron conta o fato de que a grande maioria dos oponentes derrotados no primeiro turno, de forma mais ou menos explícita declararam apoio para derrotar Le Pen, numa política de unidade contra o fascismo.
No último dia da campanha eleitoral, na sexta-feira (22), os dois candidatos foram ao encontro dos eleitores, em uma última tentativa de convencer os indecisos
Le Pen foi ao norte da França, onde desfruta de um eleitorado simpatizante ao seu partido. A candidata disse que em caso de vitória do oponente, “os franceses estarão condenados à prisão perpétua”, em referência à antipopular proposta de seu rival de atrasar a idade mínima para a aposentadoria plena de 62 para 65 anos.
Macron também esteve nesta sexta ao lado de eleitores favoráveis a ele, no sudoeste do país, e defendeu a política do enfrentamento da Covid-19 “custe o que custar”, adotada por seu governo. O candidato afirmou que Le Pen conseguiu “avançar mascarada” durante a campanha, ao exibir uma imagem menos radical em relação a temas tradicionais da ultradireita, como a imigração, e ao se apresentar como a defensora das classes populares, ante o “presidente dos ricos”.
Mas os fundamentos da extrema direita estão ai, disse o candidato, pedindo que os seus eleitores “continuem mobilizados até o último segundo” porque “nada está ganho”. Para ele, as propostas da rival para melhorar o poder aquisitivo dos franceses, como isenções de impostos e incitações ao aumento dos salários, ”não são viáveis”. Não explicou por quê.
Na marcha ao Eliseu os eleitores do candidato da esquerda Jean-Luc Mélenchon, que recebeu quase 22% dos votos no primeiro turno, têm um peso decisivo. Em uma consulta interna do seu partido, França Insubmissa, dois terços dos militantes reivindicaram a abstenção ou o voto em branco ou nulo. Já segundo pesquisa Ipsos/Sopra Steria, um terço votará em Macron e 18% em Le Pen, mas metade não decidiu ainda o que fará.
Se vencer no domingo, “Macron enfrentará uma população dividida, uma parte significativa da qual terá votado nele por falta de opção”, indicou uma pesquisa do BVA publicada nesta sexta-feira, ressaltando que 66% querem que ele perca a maioria parlamentar nas eleições legislativas de junho.