Deputado montou arapuca para se apropriar das chamadas “verbas indenizatórias”, que são gastos pagos pela Câmara de Deputados para alimentação e transporte dos parlamentares
A Polícia Federal cumpriu, nesta sexta-feira (25), 19 mandados de busca e apreensão contra o deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) e seus assessores por um esquema de desvio de verba pública. Foram encontrados indícios de que ele ajudou a financiar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 com dinheiro público.
O celular e HDs de Gayer foram apreendidos, enquanto R$ 70 mil, tudo em notas de R$ 50 e R$ 100, foram encontrados e apreendidos com um de seus assessores.
A operação aconteceu após autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). A Procuradoria-Geral da República (PGR) concordou com as ações.
A PF identificou que Gayer criou uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), usando documentos falsos, para que ela recebesse verbas da Câmara destinadas por ele.
A organização criminosa criada por Gustavo Gayer se apropriava das chamadas “verbas indenizatórias”, que são gastos pagos pela Câmara de Deputados para alimentação e transporte dos parlamentares.
Ele ainda fingia pagar, com a cota da Câmara, o aluguel de seu escritório em Goiânia, mas o local era utilizado pela escola de inglês da qual é dono, a Gayer e Gayer Idiomas.
O imóvel ainda era usado pela loja de roupas mantida pelo filho de Gustavo Gayer, a “Desfazueli”.
Uma conversa obtida pela PF no celular de João Paulo Sousa Cavalcante, assessor que Gayer contratava por fora da Câmara, mostra que os crimes estavam ocorrendo.
“A escola tá sendo paga com recurso público e tá sendo usada para um fim totalmente que tipo num existe, né. Num tem como ser assim. E aí eles vão levando, ou seja, ainda não entenderam a gravidade, sabe? O Gustavo hoje ele é uma vidraça, ele é um alvo e se for para cima, moço, infelizmente a gente tá tipo errando, né. Nesse sentido, a gente ta pregando uma coisa e tá vivendo outra [sic]”, admitiu o assessor.
A Polícia Federal está investigando os crimes de associação criminosa, falsificação de documento particular e peculato.
Em nota, a corporação falou que “foi identificada falsificação na Ata de Assembleia da constituição da OSCIP, consistente em data retroativa (ano de 2003). Porém, o quadro social à época seria formado por crianças de 1 a 9 anos”.
Por isso, a operação contra o deputado Gustavo Gayer e seus assessores foi nomeada “Discalculia”, que é um transtorno de aprendizagem relacionado a números.
Os 19 mandados de busca e apreensão foram realizados em Brasília (DF), Goiânia (GO), Aparecida de Goiânia (GO), Valparaíso de Goiás (GO) e Cidade Ocidental (GO).
FINANCIAMENTO DE GOLPE
A investigação teve início na prisão de João Paulo de Sousa Cavalcante, cuja empresa, a Goiás Online, era contratada pelo gabinete de Gayer. Inicialmente, o deputado tentou que João Paulo fosse seu assessor na Câmara, mas condenações anteriores impediram.
João Paulo de Sousa Cavalcante “foi preso por ter financiado, incitado e participado dos atentados”, segundo relatou o ministro do STF, Alexandre de Moraes, na decisão que autorizou as operações.
“Após a análise do celular apreendido em poder de João Paulo de Sousa Cavalcante, a Polícia Federal colheu elementos informativos do desvio de recursos públicos para a prática dos atos antidemocráticos, prática levada a efeito conjuntamente com o deputado federal Gustavo Gayer Machado de Araújo”, continuou.
Gustavo Gayer utilizou suas redes sociais para dizer que está sendo perseguido. Ele reclamou que a Polícia Federal, “que a gente tanto admirou, que a gente tentou proteger, né, hoje viraram jagunços de um ditador”, se referindo a Alexandre de Moraes.
CORRUPTO E RACISTA
O caso de Gayer mostra que por trás da capa supostamente moralizadora e ética esconde-se, na verdade, o mais corrupto e atrasado dos políticos. A suposta “nova política” é um disfarce para cometer os crimes mais repugnantes.
O deputado Gustavo Gayer participou da ofensiva do grupo de Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas, em especial depois que o ex-presidente foi derrotado por Lula.
Ele compartilhou em suas redes sociais o vídeo feito por um argentino que mente sobre o processo eleitoral brasileiro e diz que Jair Bolsonaro perdeu porque as eleições foram fraudadas.
Em 2022, Gayer foi condenado a pagar R$ 80 mil de indenização por ter coagido funcionários a votar em Jair Bolsonaro, então candidato a candidato à reeleição.
No mesmo ano, Gustavo Gayer falou que os nordestinos votam em candidatos de esquerda porque são analfabetos e que sua população é uma “galinha depenada” que aceita migalhas.
Já em 2023, o bolsonarista falou que países africanos sofrem com ditaduras porque sua população tem o QI igual ao de macacos. “Para você ter uma democracia, você tem que ter o mínimo de capacidade cognitiva de entender o bom e o ruim, e o certo e o errado”, comentou o bolsonarista.
Leia nota da PF sobre a operação:
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (25/10) a operação Discalculia, com o objetivo de desarticular associação criminosa voltada para desvio de recursos públicos (cota parlamentar), além de falsificação de documentos para criação de Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).
De acordo com as investigações, o objetivo final dos autores era a destinação de verbas parlamentares em favor desta OSCIP.
Cerca de 60 policiais federais cumprem 19 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, em Brasília/DF, Cidade Ocidental/GO, Valparaíso de Goiás/GO, Aparecida de Goiânia, e Goiânia/GO.
Os delitos investigados são: associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e peculato-desvio.
A operação recebe o nome de “DISCALCULIA – transtorno de aprendizagem relacionado a números –“ porque foi identificada falsificação na Ata de Assembleia da constituição da OSCIP, consistente em data retroativa (ano de 2003). Porém, o quadro social à época seria formado por crianças de 1 a 9 anos.