
Policiais afirmam que organização, composta por militares e civis, seria dedicado ‘à prática de crimes graves’, especialmente ‘homicídios sob encomenda’
Uma milícia que se autodenominava “Comando C4” — sigla para “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos” — foi desmantelada pela Polícia Federal após a investigação do assassinato do advogado Roberto Zampieri, ocorrido em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT). O grupo, com atuação empresarial e envolvimento de militares da ativa e da reserva, praticava crimes sob encomenda, espionagem e tinha em seus planos eliminar figuras públicas com armas pesadas, disfarces e até o uso de drones.
A operação da PF, autorizada pelo ministro do STF Cristiano Zanin, resultou na prisão de cinco pessoas em três estados: Aníbal Manoel Laurindo, apontado como mandante do assassinato; Coronel Luiz Cacadini, tido como financiador; Antônio Gomes da Silva, suposto atirador; Hedilerson Barbosa, intermediador e dono da pistola usada no crime; e Gilberto Louzada da Silva. Essas funções foram atribuídas pela Polícia Civil de Mato Grosso e corroboradas pela PF.
Segundo os investigadores, o assassinato de Zampieri teve como motivação uma disputa por terras no Mato Grosso avaliadas em mais de R$ 100 milhões. O advogado foi executado com 10 tiros enquanto estava em seu carro, em frente ao escritório onde trabalhava. Ele foi surpreendido por um atirador que o aguardava, segundo a Polícia Civil.
AGÊNCIA DE EXTERMÍNIO
Durante as buscas, foram localizados armamentos e itens de guerra em endereço ligado aos suspeitos, incluindo “5 fuzis de ‘snipper’ (sic) com silenciador; 15 pistolas com silenciador; munição; lança-rojão tipo AT 34 de ombro; minas magnética e explosivos com detonação remota; 5 veículos Doblò usados; 5 carros pequenos/médios; placas frias”. Parte desse arsenal foi apreendida em Minas Gerais.
O grupo possuía documentos com valores para execuções, estabelecendo preços conforme o perfil da vítima: “figuras normais: R$ 50 mil; deputados: R$ 100 mil; senadores: R$ 150 mil; ministros / judiciário: R$ 250 mil”. Também planejavam utilizar imóveis alugados e “utilização de garotas e garotos de programas como iscas”, além de perucas, bigodes falsos e drones para vigilância e ação.
As investigações ainda apuram se esses valores eram apenas para espionagem ou envolviam outros serviços. Em conversas de WhatsApp, os investigados também falavam a respeito de execuções. Eles afirmavam ter especialistas em informática, uma equipe de inteligência nacional e pessoas relacionadas à Receita Federal para prestar os serviços. Também diziam ter armamento pesado, inclusive fuzis com silenciador e lança rojão.
A apuração revelou ainda um possível esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e suspeitas envolvendo o STJ. Como parte das medidas, foram cumpridas ordens de monitoramento eletrônico, busca e apreensão, e restrições cautelares como recolhimento domiciliar noturno e proibição de contato entre os investigados.

OPERAÇÃO
A descoberta do grupo ocorreu no âmbito de uma investigação — que tramita em sigilo — sobre venda de sentenças por servidores do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. A nova fase tem o objetivo de investigar os possíveis mandantes e eventuais coautores do homicídio do advogado Roberto Zampieri, em 2023, em Cuiabá. Ele foi morto dentro do carro, com dez tiros, em frente ao seu escritório na capital mato-grossense.
No celular de Zampieri, foram encontradas conversas com desembargadores, empresários e com o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, que intermediava as negociações com servidores do STJ.
Entre os presos preventivos na operação desta quarta está Anibal Manoel Laurindo, apontado pela polícia de Mato Grosso como o suspeito de ser mandante do assassinato. Ele tinha interesses em uma disputa de terra que ocorria na Justiça local.
Também foram alvos o coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, que era suspeito de intermediar o crime. O militar já estava preso, e sua defesa diz que ele está doente.
Também foi alvo o pedreiro Antônio Gomes da Silva, suspeito de ser o autor dos disparos, e o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa.