Outros quatro policiais federais cedidos ao Ministério da Justiça também foram indiciados. O fato ocorreu no dia 30 de outubro de 2022, durante o segundo turno das eleições presidenciais
A PF (Polícia Federal) concluiu o inquérito e indiciou o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Anderson Torres, e o ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Silvinei Vasques.
Segundo a PF, durante o governo de Jair Bolsonaro, ambos teriam atuado para impedir o deslocamento dos eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Região Nordeste, no dia da votação, no segundo turno das eleições de 2022, em 30 de outubro.
Também foram indiciados, com base no artigo 359-P do Código Penal, outros quatro policiais federais cedidos ao Ministério da Justiça — Alfredo de Souza Lima Coelho Carrijo, Fernando de Sousa Oliveira, Leo Garrido de Salles Meira e Marília Ferreira de Alencar.
USO DO ESTADO PARA COMETER CRIME
De acordo com a investigação da PF, a PRF teria sido usada para tentar impedir o deslocamento de eleitores de Lula. Para tanto, Silvinei teria determinado a realização de blitzes, principalmente em estradas do Nordeste — onde o candidato petista obteve ampla margem de votos.
Segundo a PF, ao realizar as blitzes, Silvinei teria descumprido ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
COLABORAÇÃO PREMIADA
De acordo com a PF, foram negociadas pelo menos duas delações premiadas para embasar o inquérito.
Outro elemento apurado pela PF foi o mapeamento com o nome das cidades em que Lula recebeu mais de 75% dos votos no primeiro turno, encontrado no celular de Marília Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça.
SILVINEI VASQUES
Em 8 de agosto, o ministro Alexandre de Moraes determinou a soltura de Silvinei Vasques. Ele estava preso havia um ano sob suspeita de ter dificultado o trânsito de eleitores durante o segundo turno da eleição presidencial de 2022.
A avaliação de Moraes é que Vasques não representa mais risco às investigações. Contudo, para ser liberado, Silvinei ainda terá que cumprir medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica, a proibição de usar redes sociais e a obrigação de se apresentar periodicamente à Justiça.
ANDERSON TORRES
O ex-ministro Anderson Torres ficou preso de janeiro a maio de 2023 por suposta omissão e, portanto, colaboração indireta nos ataques golpistas de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, em Brasília.
OS FATOS
Sob o comando de Silvinei e com a anuência de Torres, a PRF montou uma operação no dia 30 de outubro de 2022, durante o segundo turno das eleições presidenciais, para impedir, sobretudo nas regiões e cidades onde Lula obteve mais votos, que os eleitores do petista votassem.
Um documento interno da PRF revelou que a corporação aumentou o contingente, com agentes que deveriam estar de folga, para trabalhar nos bloqueios de rodovias em estados onde o então candidato do PT havia vencido no primeiro turno o adversário, na época presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com o documento, divulgado em 17 de abril de 2023 pelo portal UOL, o efetivo extra foi utilizado principalmente em regiões do Norte e Nordeste, conhecidos redutos eleitorais de Lula. Houve reforço no Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.
Por conta da ação da PRF, o dia da votação, 30 de outubro, foi marcado por denúncias de tentativas de dificultar ou impedir que eleitores chegassem às urnas.
Nas redes sociais, eleitores relataram que eram abordados por agentes que questionavam o voto. Caso fosse Bolsonaro, o veículo recebia o aval para seguir viagem. Já a blitz e o tempo de parada eram maiores para quem respondia ser eleitor de Lula.