O senador Aécio Neves (PSDB/MG) tenta, mais uma vez, se fazer de vítima, em artigo publicado na “Folha de S.Paulo” na segunda-feira (16), véspera da data marcada pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para decidir sobre a denúncia contra ele, sua irmã Andréa Neves e outros dois acusados.
Aécio é acusado de solicitar e receber de Joesley Batista, dono da JBS, R$ 2 milhões em propina, em troca de sua atuação política a favor do grupo. O tucano foi flagrado em conversa gravada pela Polícia Federal (PF), com autorização da Justiça.
No artigo intitulado “Sua excelência, o fato”, o senador tenta desqualificar as provas apresentadas contra ele, alegando que foi “ingênuo” em sua relação com a JBS e que não cometeu nenhuma ilegalidade.
A Procuradoria-Geral da República pediu abertura da ação penal há mais de 10 meses. Na época, o então procurador-geral Rodrigo Janot denunciou Aécio pelos crimes de corrupção passiva e tentativa de obstruir a Justiça. A atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, reiterou o pedido de abertura da ação penal.
Além dele e da irmã, são alvos da denúncia seu primo Frederico Pacheco e Mendherson Souza Lima, ex-assessor parlamentar do senador Zezé Perrella (PMDB/MG), flagrado com dinheiro vivo.
Nos memorais enviados na segunda-feira aos ministros do STF, Raquel Dodge rebateu as argumentações da defesa e pediu o recebimento integral da denúncia. O documento destaca a existência de provas como gravação de conversa entre o empresário e o senador, além de ação controlada que registrou a entrega de parte do dinheiro ao interlocutor de Aécio Neves.
Em pedido anterior para que o STF aceite a denúncia contra Aécio, a procuradora destaca que: “O caráter de vantagem indevida dos valores solicitados por Aécio Neves e por Andréa Neves a Joesley Batista fica claro quando o senador afirma que a pessoa que iria receber as parcelas deveria ser alguém ‘que a gente mata ele antes de fazer delação‘”, escreveu Dodge
Aécio não só confirma o pedido de ajuda financeira na conversa com Joesley Batista, como sugere adoção de medidas para esconder a transação. “Substancialmente, a conduta do acusado e demais coautores é idêntica a tantos outros atos de corrupção e de lavagem de dinheiro público revelados pela Operação Lava Jato”, diz a procuradora.
“As imputações de crimes feitas a cada acusado baseiam-se em prova robusta, tais como áudios de gravação ambiental admitida por lei e pela jurisprudência do STF; e em áudios e vídeos coligidos em ações controladas autorizadas pelo STF”, escreve Dodge.
O documento traz análise das irregularidades constatadas no diálogo entre Joesley e Aécio, no acerto dos detalhes para a entrega do dinheiro e na articulação para esconder a operação – o que, posteriormente, foi confirmado em ação controlada da polícia. Na conversa, eles falam sobre como o senador poderia usar sua influência para assegurar a indicação de pessoas de interesse da empresa a cargos públicos.