Milhares de manifestantes estão se reunindo nesta sexta-feira (20) em frente ao hipermercado Carrefour no bairro Passo D’Areia, Zona Norte de Porto Alegre, onde João Alberto Freitas foi brutalmente assassinado após ser espancado por seguranças e um policial militar temporário fora do horário de trabalho.
O vídeo do flagrante do espancamento de João Alberto viralizou rapidamente na internet e causou revolta e indignação em milhares de pessoas e movimentos sociais por todo o Brasil.
Manifestantes paravam o trânsito e recebiam apoio dos motoristas que trafegam pela Avenida Plínio Brasil Milano.
COMOÇÃO
Moradores da região colocaram velas e uma flor com um cartão: “Não te conhecia, mas sinto a sua dor”.
“Chega de virar número, chega de virar estatística! Chega! Chega! A gente vai reagir se não vamos ser mortos, vamos ser dizimados! Não tem justificativa!”, gritava uma mulher em meio aos carros parados enquanto a sinaleira estava fechada.
Michele Schwingel, coordenadora de um bar, mora na esquina do hipermercado. Ela, a mãe e a irmã são clientes do Carrefour. Nesta sexta-feira, deixaram uma muda de kalanchoe e velas em frente ao local.
“Fizemos uma pequena homenagem para ele. Se fosse com um pessoa branca isso não teria acontecido”, disse Michele.
Gleison Brum, 54 anos, funcionário público, ficou sabendo desde cedo da ocorrência. Veio com uma camiseta escrito “não consigo respirar”, em referência ao que foi dito pelo americano George Floyd antes de ser morto pela polícia.
“Nós precisamos reagir, mostrar que a nossa vida tem valor. Muita gente acha que não tem racismo, mas nós negros sabemos o que é isso”, afirmou.
PRISÃO PREVENTIVA
Os dois seguranças envolvidos no assassinato de João Alberto Silveira no estacionamento do hipermercado Carrefour, na noite de quinta-feira (19), tiveram prisões preventivas decretadas na tarde desta sexta-feira (20). Eles haviam sido detidos em flagrante, mas a prisão foi convertida pelo juiz plantonista do Foro Central de Porto Alegre, Cristiano Vilhalva Flores. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. De acordo com o Instituto-Geral de Perícias, análises iniciais apontam que possivelmente a vítima morreu por asfixia.
De acordo com o juiz, “existem indícios de autoria pelas declarações das testemunhas, as quais afirmaram que a vítima fora detida pelos flagrados, sendo que estes teriam argumentado que agiram para cessar uma agressão que a própria vítima teria cometido contra terceiro, funcionário da empresa onde os fatos ocorreram. Os indícios de autoria são reforçados pelos vídeos juntados aos autos, onde se pode verificar toda a ação que culminou no óbito da vítima, que viera a falecer no local”.
“Pela análise do vídeo do momento em que o evento se desenrolou, pode-se constatar que, em que pese possa o fato ter se iniciado por ato da vítima, a ação dos flagrados extrapola ao que se pode conceituar como necessária para a contenção desta, pois passaram a praticar, contra ela, agressões quando já ao solo. Embora não seja este o momento para a verificação da tipificação da conduta dos flagrados de uma forma definitiva, é necessária uma prévia e provisória análise das condutas para um juízo mínimo sobre a gravidade do fato a justificar a manutenção da segregação destes”, apontou o juiz referindo-se a um vídeo da agressão que viralizou nas redes sociais ainda na noite de ontem.