
Desde que a administração do Parque do Ibirapuera foi concedida à iniciativa privada, em 2019, os frequentadores têm se deparado com preços que mais parecem os de aeroportos ou shoppings de luxo. Uma tigela de açaí por R$ 43, uma tapioca com manteiga por R$ 28, um espaguete individual por R$ 105 e até um simples café expresso R$ 12, são alguns dos valores que causam espanto nos visitantes. O litro da água de coco, que chega a custar R$ 27, virou símbolo da disparada nos preços no local, que completa 70 anos como um dos principais cartões-postais de São Paulo.
A privatização do Ibirapuera foi concluída durante a gestão de Bruno Covas (PSDB), após negociações iniciadas por João Dória. O parque, junto a outros cinco da capital, foi entregue à Urbia, braço da construtora Construcap, em um contrato de 35 anos. A empresa prometeu investir R$ 105 milhões nos seis parques, mas diz ter aplicado R$ 226 milhões só no Ibirapuera.
Apesar dos altos investimentos declarados, as melhorias visíveis no parque até agora se resumem à modernização de banheiros e à reforma de dois restaurantes. Enquanto isso, os preços dos alimentos e bebidas dispararam, tornando o passeio no Ibirapuera um luxo para muitas famílias.
Uma família de cinco pessoas que decida tomar uma água de coco e um picolé cada pode gastar facilmente R$ 115. Se resolverem comer um simples misto−quente em uma das lanchonetes, a conta pode ultrapassar R$ 160.
O empresário Elaldo Barbosa Miguel, 47, critica os valores: “Está irreal. O parque recebe pessoas de todas as classes sociais, mas quem vem de regiões periféricas não consegue acompanhar esses preços”, diz. “Acabei de comprar duas águas de coco e gastei R$ 26. É absurdo.”
O vereador da capital paulista Nabil Bounduki (PT) gravou um vídeo mostrando os preços praticados no parque.
MODELO DE NEGÓCIOS
A privada Urbia defende os preços, alegando que a alta reflete a necessidade de manter o parque e melhorar a qualidade dos serviços. Segundo a concessionária, a alimentação era um dos pontos mais criticados pelos visitantes antes da concessão.
No entanto, o modelo de negócios adotado revela margens altíssimas. Os ambulantes, antes informais, agora operam como Microempreendedores Individuais (MEIs), pagando à Urbia R$ 1 mil ou 10% do faturamento, ganho que é controlado por maquininhas fornecidas pela própria Urbia. Além disso, o vendedor tem que pagar taxa mensal de R$ 500 pela manutenção do carrinho, que carrega propaganda da Ambev.
A Ambev vende refrigerantes a R$ 1,89 por lata aos permissionários, que os revendem a R$ 7 — um aumento de quase 300%. No caso da água de coco, o produto que custa R$ 0,60 na Bahia chega a R$ 13 no varejo comum, mas no Ibirapuera pode alcançar R$ 27.

O preço cobrado pelo estacionamento também é alvo de intensas criticas pelos usuários do parque. Sergundo o site da própria concessionária, o custo para a utilização é de R$ 23 aos finais de semana e feriados e R$ 18 durante a semana.
Enquanto alguns visitantes aceitam os preços em troca de um “padrão elevado”, outros lamentam a elitização do espaço público.
“O Ibirapuera sempre foi um parque para todos. Agora, parece que só quem tem dinheiro pode aproveitar”, reclama uma professora que frequenta o local há décadas.
A Urbia promete abrir um terceiro restaurante em breve, próximo ao portão 7, mas a discussão sobre os preços deve continuar. Enquanto isso, o Ibirapuera — ainda público por lei, mas administrado como um negócio privado — segue como um reflexo das desigualdades da cidade: um espaço que deveria ser de todos, mas que, na prática, só alguns podem usufruir plenamente.