O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sancionou a lei que altera o nome da rua Doutor Sergio Fleury, na Vila Leopoldina (zona oeste da capital paulista), para rua Frei Tito. A lei 17.648 foi aprovada em agosto e publicada no Diário Oficial do Município (DOM) neste sábado (25).
O projeto de lei tramitava na Câmara Municipal desde 2013 e foi feito por um grupo de vereadores: o então vereador, hoje deputado federal, Orlando Silva (PCdoB), os vereadores Arselino Tatto (PT), Alfredinho (PT), Juliana Cardoso (PT), Reis (PT) e Toninho Vespoli (PSOL), além do ex-vereador Jamil Murad (PCdoB). Para os autores, a mudança do nome representa uma “reparação histórica e simbólica”.
Orlando Silva comemorou em suas redes sociais: “Em São Paulo tinha uma rua em homenagem a Sérgio Fleury, chefe da repressão na ditadura militar. Tinha! Agora ela se chama rua Frei Tito, uma das vítimas do fascista. O prefeito Ricardo Nunes sancionou lei que propus quando vereador”.
“Democracia é patrimônio que precisa ser cuidado por todos, as cidades precisam reverenciar a memória dos que cultivaram os valores democráticos”, completou o deputado federal.
“É uma grande vitória tiramos o nome de um torturador para homenagear Frei Tito, que foi um grande defensor da nossa democracia. A aprovação da Lei é um simbolismo importante para a nossa história e para todos aqueles que sofreram com o regime militar. Recebo a notícia com grande satisfação e orgulho, uma vez que sou coautor do projeto que deu origem à Lei”, disse Arselino Tatto em suas redes sociais.
Quando a proposta foi aprovada na Câmara, Arselino frisou que “vivemos tempos difíceis e sombrios, há um movimento de negação da existência da ditadura militar em nosso país, e Frei Tito é prova de que o regime ditatorial não só existiu como a tortura cometida naquele período o levou ao suicídio. É uma reparação histórica que seu nome substitua o do delegado Fleury, um dos seus principais torturadores”.
Fleury foi delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS) durante a ditadura militar, na década de 1960. Ele é apontado como um dos torturadores de Frei Tito, um frade católico que foi perseguido durante o regime militar.
Vespoli, também pelas redes sociais, afirmou que se trata de uma “justa homenagem”. “Vamos avançar na luta para homenagear lutadores da nossa democracia e não torturadores genocidas!”, disse o vereador.
Frei Tito
Nascido em 1945, Frei Tito assumiu a direção da Juventude Estudantil Católica em 1963 e foi morar no Recife. Mudou-se para São Paulo para estudar Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Quando estudante, foi preso pelo regime ditatorial em outubro de 1968 por participar do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o famoso Congresso de Ibiúna (SP). Fichado pela polícia, tornou-se alvo de perseguição pela repressão militar.
Acusado de oferecer infraestrutura a Carlos Marighella, foi preso novamente, em novembro de 1969, em São Paulo, junto com outros quatro frades: os freis Betto, Betto, Oswaldo, Fernando e Ivo. Tito foi submetido à palmatória e choques elétricos, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
Em fevereiro do ano seguinte, quando já se encontrava em mãos da Justiça Militar, foi retirado do Presídio Tiradentes e levado para a sede da Operação Bandeirantes (Oban).
Sob as formas torpes de tortura, os algozes queriam forçar Tito denunciar quem o ajudou a conseguir o sítio em Ibiúna para o congresso da UNE e assinasse depoimento atestando que dominicanos haviam participado de assaltos a bancos. Tamanha a monstruosidades cometidas contra o frade que fizeram com que Tito preferisse a morte, tentando o suicídio. Contudo, ele foi socorrido a tempo no hospital militar, no bairro do Cambuci.
Na prisão, escreveu sobre as torturas sofridas. O documento correu o mundo e logo se tornou símbolo da luta pelos direitos humanos.
Em dezembro de 1970, incluído na lista de presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Tito foi banido do Brasil pelo governo Médici e seguiu para o Chile, posteriormente para a Itália e França.
Em Paris, recebeu apoio e asilo dos dominicanos. Mas as torturas lhe deixaram inúmeras marcas e traumas, precisando Frei Tito do aporte do tratamento psiquiátrico e cometeu suicídio em 10 de agosto de 1974.