
Ele participou da entrega de 12.297 lotes para famílias acampadas em 138 assentamentos rurais
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (7), que o governo pode tomar atitudes “mais drásticas” para baixar o preço dos alimentos aos consumidores brasileiros. O presidente participou da entrega de 12.297 lotes para famílias acampadas em 138 assentamentos rurais, em Campo do Meio (MG).
“Eu quero encontrar uma explicação para o preço do ovo”, disse Lula ao discursar para os assentados e lideranças populares. “O ovo está saindo do controle. Uns dizem que é o calor, outros dizem que é exportação e eu estou atrás [da explicação]”, acrescentou.
Lula disse que o governo quer encontrar uma solução pacífica, “mas se a gente não encontrar, a gente vai ter que tomar atitudes mais drásticas, porque o que interessa é levar a comida barata para mesa do povo brasileiro”, afirmou, defendendo que também é preciso pagar um preço justo aos produtores.
“A gente não quer que o produtor tenha prejuízo. O que nós precisamos é saber que tem atravessador no meio. Entre o produtor e o consumidor deve ter muita gente que mete o dedo no meio. E nós vamos descobrir quem é o responsável por isso”, reforçou.
Segundo o presidente, de janeiro de 2023 a janeiro de 2025, a caixa do ovo com 30 dúzias variou próximo de R$ 140. No mês de fevereiro deste ano, ela subiu para R$ 210. “Eu quero saber porque que ela deu esse salto. Quem é que meteu o bedelho e chutou a bola para cima?”, questionou.
Na noite da quinta-feira (6), o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou um pacote de medidas para baixar os preços dos alimentos, dentre elas, a de zerar o Imposto de Importação de nove tipos de comida: café, carnes, milho, sardinha, açúcar, massas alimentícias, biscoitos, óleo de girassol e azeite.
Além disso, o governo também anunciou que o próximo Plano Safra deve priorizar alimentos da cesta básica. Para incentivar o cultivo de produtos que compõem a cesta de alimentos das famílias, o governo deve estender aos médios produtores incentivos com juros mais baratos.
REFORMA AGRÁRIA
Lula participou da entrega de 12.297 lotes para famílias acampadas em 138 assentamentos rurais. No total, são 385 mil hectares espalhados em 24 estados. Durante a cerimônia, em Campo do Meio (MG), Lula assinou sete decretos de interesse social para fins de reforma agrária, somando 13.307 hectares e R$ 189 milhões em investimentos.
“Quem tem causa, coragem, quem tem caráter e dignidade não foge, enfrenta. E vocês enfrentaram e hoje estão colhendo aquilo que tanto lutaram. Vocês estão orgulhosamente com todos os direitos garantidos para fazer aquilo que é o sonho de vocês. O que fizemos hoje é o início do pagamento de uma dívida de 525 anos que esse país tem com o povo brasileiro. O que queremos é dar oportunidade para todo mundo”, afirmou o presidente.
Lula defendeu a destinação de terras públicas para reforma agrária, argumentando que o Estado não deveria manter grandes extensões de terras improdutivas. O presidente enfatizou que é o momento do Programa Terra da Gente, que define as prateleiras de terras disponíveis no país, começar a gerar os resultados esperados.
“Quem é o Estado? É o povo. E a terra tem que estar na mão do povo para que ele possa produzir. Levamos dois anos para colocar essa prateleira de pé, agora é preciso que essa prateleira comece a disponibilizar as terras para que a gente possa assentar, não apenas quem já está em acampamento, mas também fazer com que outras pessoas que queiram, tenham o direito de trabalhar”, declarou Lula.
Com a destinação de 385 mil hectares para a produção agrícola familiar, o governo federal também anunciou um investimento para fortalecer os assentamentos.
CRÉDITO AOS ASSENTADOS
Em 2025, serão disponibilizados R$1,6 bilhão por meio do Crédito Instalação, recurso que permitirá a construção de moradias, apoio inicial e incentivos para jovens e mulheres na reforma agrária. A expectativa é de que pelo menos 18 mil famílias sejam contempladas com novas residências.
A distribuição das terras foi acompanhada pela assinatura de sete decretos presidenciais que reconhecem 13.307 hectares como de interesse social para fins de reforma agrária. Essas propriedades incluem fazendas em Minas Gerais, Pará, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul, beneficiando cerca de 800 famílias.
O governo também investirá R$ 383 milhões na criação de novos projetos de assentamento, contemplando 528 famílias em diferentes estados. Os projetos estão localizados nos municípios de Alcobaça (BA), Teixeira de Freitas (BA), Goiana (PE), Pirapora (MG), Castro (PR), Muquém de São Francisco (BA), Primavera do Leste (MT) e Marabá (PA).
Outro destaque é o reforço no financiamento para a agricultura familiar. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf A) receberá uma nova rodada de créditos, com empréstimos de até R$ 50 mil e juros reduzidos entre 0,5% e 1,5% ao ano. Além disso, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) será ampliado com um investimento de R$ 1,1 bilhão. Entre 2023 e 2024, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) adquiriu 249 mil toneladas de alimentos de cooperativas e associações, sendo que 26% dos fornecedores eram assentados da reforma agrária. A tendência é que a compra de produtos desses pequenos agricultores aumente em 2025.
A renegociação de dívidas também faz parte das medidas anunciadas. O programa Desenrola Rural permitirá que assentados refinanciem seus débitos com descontos de até 96%, facilitando o acesso ao crédito e garantindo a sustentabilidade econômica das famílias. Paralelamente, foram entregues 243 títulos de terra pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), totalizando investimentos de R$ 53,7 milhões. Além disso, dez famílias assentadas nos estados de Tocantins, Mato Grosso, Bahia, Pará e Acre receberão títulos definitivos no âmbito do Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA).
Lula ressaltou a importância da reforma agrária ao destacar a desigualdade na distribuição de terras no Brasil. “É isso que está errado nesse país. Porque as propriedades que detém até 100 hectares, elas representam praticamente 70% a 80% de todo o alimento que nós consumimos no Brasil, de leite, de carne de boi, de carne de porco, de tudo. E são um percentual muito pequeno [de terra]. Então, é por isso que a luta pela reforma agrária ganha importância, porque é preciso que se faça justiça nesse país.”