
IPCA-15 desmonta tese do BC para manter juro alto por tempo “bastante prolongado”. Conta de luz residencial – bandeira vermelha – teve maior impacto no índice
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial do país, ficou em 0,26% em junho, puxado pelas altas em tarifas de energia elétrica residencial (aumento de 3,29% e impacto de 0,13 p.p. no índice) e do café moído (2,86% e 0,02 p.p ), informou Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (26).
Segundo o Valor Econômico, o resultado ficou abaixo da mediana das 25 projeções de analistas de consultorias e instituições financeiras ouvidos pelo VALOR DATA, que apontava alta de 0,29% em junho. Conhecidas projeções, com aval do Banco Central, feitas por agentes do cartel dos bancos para manter os juros na lua.
O IPCA-15 de junho ficou abaixo do índice registrado em maio (0,36%), sinalizando que a inflação voltou a perder força na comparação mensal. O resultado foi influenciado principalmente pela queda nos preços dos alimentos no domicílio (-0,24%) e dos combustíveis (-0,69%).
No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 foi de 5,27%, abaixo dos 5,40% registrados nos 12 meses até maio de 2025. E, nos seis meses deste ano, os preços subiram 3,06%, em média.
É o terceiro mês consecutivo de desaceleração da inflação, mesmo com o aumento na conta de luz devido à bandeira vermelha imposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O índice de difusão, que mostra o percentual de itens com aumentos de preços, recuou de 66% para 57%.
Dessa forma, a inflação no Brasil permanece sob controle, apesar das pressões recorrentes de preços administrados e de fatores sazonais e especulativos, que impactam especialmente alguns alimentos – elementos que não são influenciados pela política monetária, ou seja, não respondem ao aumento dos juros.
O contexto torna ainda mais criminosa a decisão do Banco Central (BC), de duas semanas atrás, de aumentar a Selic em 0,25 p.p, passando o nível da taxa básica de juros de 14,75% para 15%, o maior patamar em quase 20 anos e os juros reais os maiores do mundo.
BANDEIRA VERMELHA
Em junho de 2024, o IPCA-15 registrou aumento em sete dos nove grupos pesquisados pelo IBGE, enquanto dois apresentaram queda. Os destaques foram Habitação (1,08%) e Vestuário (0,51%), enquanto Alimentação e bebidas (-0,02%) e Educação (-0,02%) recuaram.
O grupo Habitação teve a maior alta (1,08%), influenciado principalmente pelo aumento de 3,29% na energia elétrica residencial, que contribuiu com 0,13 pontos percentuais (p.p.) para o índice. O resultado reflete a adoção da bandeira tarifária vermelha patamar 1 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que acrescentou R$ 4,50 a cada 100 kWh consumidos.
No grupo Alimentação e bebidas (-0,02%), os preços dos alimentos em domicílio caíram 0,24%, puxados pela redução no tomate (-7,24%), ovo de galinha (-6,95%), arroz (-3,44%) e frutas (-2,47%).
Por outro lado, o café moído subiu 2,86% em relação a maio, acumulando alta de 81,6% em 12 meses. Esse avanço no mês ocorre na direção oposta à redução da cotação média mensal do café arábica (o mais consumido e produzido no Brasil), que no campo recuou 17% em junho em comparação com fevereiro – quando o preço atingiu o recorde histórico da série do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).
No mês, o preço da cebola (9,54%) também pesou forte no bolso dos consumidores.
Já em Transportes (0,06%), os combustíveis tiveram queda de 0,69%, com destaque para gasolina (-0,52%), óleo diesel (-1,74%), etanol (-1,66%) e gás veicular (-0,33%). O resultado do grupo também foi impactado por medidas como a gratuidade no metrô (1,22%) e ônibus urbanos (1,39%) aos domingos e feriados em Brasília e Belém, além da redução de tarifas em Curitiba (5,08%).
Em Vestuário (0,51%), a alta veio de roupas femininas (0,66%) e calçados e acessórios (0,49%).
Os demais grupos apresentaram variações menores, entre 0,19% e -0,02%. Veja os resultados, a seguir:
- Alimentação e bebidas: -0,02%;
- Habitação: 1,08%;
- Artigos de residência: 0,11%;
- Vestuário: 0,51%;
- Transportes: 0,06%;
- Saúde e cuidados pessoais: 0,29%;
- Despesas pessoais: 0,19%;
- Comunicação: 0,02%;
- Educação: -0,02%.