
De Norte a Sul dos Estados Unidos, manifestantes condenaram o acordo assinado pelo “Departamento de Eficiência Governamental” de Musk para cortar investimentos, desmantelar o Serviço Postal público, entregar o imenso patrimônio e dar carta branca aos preços abusivos
Milhares de trabalhadores e aposentados dos Correios se uniram nesta quinta-feira (20) de norte a sul dos Estados Unidos para condenar o acordo assinado pelo “Departamento de Eficiência” Governamental” (Doge) – controlado por Elon Musk – para cortar investimentos e financiamento de pensões, desmantelar este serviço público estratégico e altamente rentável, e dar carta branca à privatização e aos valores abusivos de tarifas.
O estudo de um banco de investimento, divulgado recentemente pela Wells Fargo Securities, aponta que a privatização do Serviço Postal dos EUA (USPS) renderia de imediato US$ 81 bilhões (R$ 464 bilhões), apenas com a venda de prédios e terrenos da instituição. “O USPS possui aproximadamente 8.500 instalações”, incluindo 7.200 agências de correio e 1.300 centros de triagem maiores”, apontou a análise. Mas o melhor para quem se apropriasse dos Correios seria deixar a população completamente dependente da imposição de tarifas abusivas e sem qualquer controle. Desde já, o estudo projeta um aumento de 30% a 140% nos preços de postagem de encomendas.
Convocado pelo Sindicato dos Trabalhadores Postais Americanos (American Postal Workers Union – APWU), que abrange funcionários e trabalhadores dos centros de triagem e distribuição, o protesto mobilizou dezenas de locais como Chicago, Dallas, Texas, e várias centenas no sul de Manhattan. Na oportunidade, foi distribuído o manifesto “Por um movimento de base para salvar os Correios e se opor à ditadura”, conclamando os mais de 640 mil sindicalizados a se unificarem contra o desmonte.
“Tempos extraordinários exigem medidas extraordinárias. A única maneira de salvar os Correios – e a democracia americana – é por meio da mobilização em massa da classe trabalhadora. A classe trabalhadora é a força mais poderosa da Terra. Se ao menos soubéssemos como usar esse poder, poderíamos derrotar os ataques de Trump e seu punhado de oligarcas e direitistas”, ressaltou o documento.
O que Trump está fazendo “é horrível”, declarou um funcionário aposentado dos correios na cidade de Nova Iorque, para quem “tudo deve ser feito para afastar o presidente”. Condenando o clima de perseguição e repressão que toma conta do país, outro manifestante defendeu que é necessário “conscientizar o público e deixá-lo totalmente ciente do que está acontecendo, fazendo com que se envolvam em nossa luta para salvar o Serviço Postal”. “Daí a necessidade de ser uma luta coletiva, porque isso vai afetar a todos”, acrescentou.
Em Pasadena, Califórnia, um ativista que se identificou como John sintetizou sua contrariedade com o descaminho adotado pelo governo. “Acho que quase todas as ordens executivas foram, no mínimo, ilegais. Elas têm substituído o poder que o Congresso supostamente tem. O Congresso cedeu sua autoridade. Ou seja, os republicanos cederam sua autoridade constitucional a um presidente que é desequilibrado”. “Os democratas tiveram a chance de obstruir aquela votação de encerramento e não fizeram isso. Eles não conseguiram fazer. Há alguns democratas que eu apoiei financeiramente e que não vou mais apoiar”, frisou.
Como foi comprovado, o primeiro passo do plano de privatização ocorreu há algumas semanas, quando o diretor-geral dos correios de Trump, Louis DeJoy, concordou em deixar os marionetes do Doge, do multimilionário Elon Musk, entrarem na sede do Serviço Postal e vasculhar seus arquivos de computador e outros dados confidenciais.
“A privatização transfere o dinheiro dos trabalhadores do bem público para a classe de especuladores do setor corporativo”, denunciou o presidente da APWU, Mark Dimondstein, rechaçando o “esforço rápido e furioso” de Trump e de Musk, “para esvaziar o governo, enriquecer bilionários e lançar um golpe na economia”.
Para Brian Renfroe, presidente da Associação Nacional dos Carteiros, os americanos deveriam ver esta ordem executiva do governo na plenitude do perigo que representa: “um ataque direto aos funcionários do Serviço Postal, ao nosso serviço universal e a todos os cidadãos que dependem dele”.
“As comunidades podem contar com seu carteiro”, sublinhou Renfroe, enfatizando que a categoria “está lutando contra o inferno e contra qualquer tipo de privatização”. “Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que continuemos mantendo nosso serviço universal, do qual os americanos dependem por meio de um Serviço Postal forte e público”, concluiu.