
Em coletiva à imprensa em Hanói na sexta-feira (1º de março), o governo da Coreia Popular refutou a declaração do presidente dos EUA Donald Trump de que não houve acordo na cúpula porque Pyongyang exigia a retirada de “todas as sanções” e esclareceu que o que foi pedido, em troca da desativação completa e supervisionada do complexo nuclear de Yongbyon, foi a suspensão parcial das sanções, centrada naquelas “que interferem na economia civil e na vida das pessoas”.
“Não pedimos a suspensão de todas as sanções”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Coreia Popular, Ri Yong Ho, que acompanhou o líder Kim Jong Un na cúpula e agora em sua visita oficial de dois dias ao Vietnã.
“Não estamos pedindo que todas as sanções sejam levantadas, mas apenas algumas delas. Pedimos a suspensão de cinco das 11 resoluções de sanções do Conselho de Segurança da ONU, as adotadas entre 2016 e 2017, e em particular os aspectos das sanções que interferem na economia civil e na vida das pessoas”, reiterou o chanceler norte-coreano.
“Fizemos uma proposta realista durante esta cúpula de acordo com os princípios de uma solução passo a passo e construção de confiança que foram elaborados em conjunto durante nossa primeira cúpula em Cingapura em junho de 2018”, acrescentou Ri.
“Nossa proposta é que, se os EUA levantarem algumas das sanções da ONU, ou em outras palavras, os aspectos das sanções que impedem a economia civil e a subsistência do povo, nós completa e permanentemente desmontaremos as instalações de produção de todos os materiais nucleares, incluindo plutônio e urânio, no complexo de Yongbyon”, destacou.
Ri assinalou, ainda, que isso seria feito “através de um projeto conjunto de técnicos de nossos dois países, na presença de especialistas americanos”.
“Dado o atual nível de confiança entre nossos dois países, esse é o maior passo para a desnuclearização que podemos tomar no momento atual”, revelou.
O chanceler coreano sublinhou que o que é “mais importante” para a Coreia Popular quando se trata de dar passos é “a questão de uma garantia de segurança”. “Mas como pensamos que os EUA ainda não estavam confortáveis com a adoção de medidas militares, sugerimos o alívio parcial das sanções como medida correspondente”, esclareceu Ri.
Ri destacou que durante a cúpula de Hanói, Pyongyang também expressou sua disposição de se comprometer por escrito com a “interrupção permanentemente dos testes nucleares e dos lançamentos de testes de mísseis de longo alcance”, a fim de amenizar as preocupações dos EUA.
“Quando passarmos pela fase de construção de confiança, poderemos avançar mais rapidamente no processo de desnuclearização. Mas durante as negociações, os americanos nunca pararam de insistir que deveríamos fazer algo além de fechar as instalações nucleares de Yongbyon e, como consequência, ficou claro que os EUA não estavam preparados para aceitar nossa proposta”, ressaltou.
“É difícil dizer neste momento se um acordo melhor do que aquele que propusemos pode ser alcançado no estágio atual”, avaliou Ri. “Mesmo essa oportunidade pode não vir novamente”.
“Esta nossa posição de princípios não mudará em menor grau, e mesmo que os americanos proponham as negociações novamente, não haverá mudanças em nosso plano”, enfatizou o chanceler norte-coreano.
Após a conferência de imprensa de Ri, o vice-ministro das Relações Exteriores da Coreia Popular, Choe Son Hui, respondeu a perguntas de repórteres.
“Conforme o presidente Kim viu como os americanos não estavam dispostos a conceder alívio parcial das resoluções de sanções sobre a economia civil, fiquei com a impressão de que ele pode ter perdido parte de sua empolgação para o acordo com os americanos no futuro”, advertiu Choe, segundo o jornal sul-coreano Hankyoreh.
“Na minha observação da cúpula, tive a sensação de que o presidente Kim achou um pouco difícil entender o modo como os americanos fazem seus cálculos”, acrescentou Choe.
Choe disse que a oferta que a Coreia do Norte fez nas negociações foi “encerrar de forma irreversível e permanente o complexo nuclear de Yongbyon em sua totalidade com todas as suas instalações nucleares, incluindo todas as instalações de plutônio e todas as instalações de urânio, na presença de especialistas norte-americanos”.
De acordo com Choe, essa foi uma oferta que a Coreia do Norte nunca fez antes.
“Ao recusar-se a aceitar esta oferta, os americanos basicamente jogaram fora a oportunidade de uma vida”, finalizou.
Na análise do Hankyoreh, a coletiva de imprensa norte-coreana aconteceu pouco depois da meia-noite de sexta-feira, apenas dez horas depois da coletiva de imprensa de Trump na tarde de quinta-feira. Ao que parece, o governo norte-coreano tomou a decisão de emitir a réplica tarde da noite depois de analisar a declaração de Trump e discutir como responder.
A.P.