
O Ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Fabrício Queiroz, finalmente depôs ao Ministério Público do Rio de Janeiro e apresentou um nova versão, diferente das outras, para a movimentação de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 em sua conta.
Ele disse que fazia o “gerenciamento financeiro” de valores recebidos pelos demais servidores do gabinete. Mas, repetindo o PT, ele jurou ao MP que o chefe [Flávio Bolsonaro] não sabia de nada.
Antes, em entrevista à TV Record, ele havia inventado uma outra história, a de que fazia multiplicar dinheiro com compra e venda e carros. “Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro”, explicou. “Eu faço, assim, eu compro, revendo, compro, revendo. Compro carro, revendo carro. Eu sempre fui assim. Sempre. Eu gosto muito de comprar carro em seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, vendia. Tenho segurança”, disse ele à época.
Despois apareceu até um dos vários fantasmas lotados no gabinete de Flávio, Agostinho Moraes da Silva, chegado de Queiroz, confirmando que repassava seu salário para Queiroz, mas, segundo ele, isso era um excelente “investimento”.
Para dar veracidade à sua declaração, Agostinho disse que Fabrício Queiroz era extremamente habilidoso nos negócios automotivos e que, por isso, decidiu repassar quase 60% do salário, todo mês, para que o amigo investisse na compra de carros. Pela nova versão, apresentada agora por Queiroz, era tudo mentira.
A justificativa de Queiroz, apresentada por escrito, é a de que os recursos desviados dos salários dos funcionários eram usados para ampliar a rede de “colaboradores” que atuavam junto à base eleitoral do parlamentar fluminense.
“Com a remuneração de apenas um assessor parlamentar conseguia designar alguns outros assessores para exercer a mesma função, expandindo a atuação parlamentar do deputado”, afirmou o ex-assessor, no documento encaminhado ontem ao MP.
Ele afirmou ainda que, como acreditava estar agindo de forma lícita e dispunha da confiança de Flávio, “nunca reputou necessário expor” ao chefe “a arquitetura interna do mecanismo que criou”.
Queiroz está dizendo que o “chefe” não sabia que sua mulher e duas filhas estavam lotadas no gabinete e que a filha mais velha, Nathália, foi posteriormente lotada no gabinete de seu pai, Jair Bolsonaro, então deputado em Brasília, e continuou depositando (total de R$ 84 mil) na conta de Queiroz. Ou que ele (Queiroz) depositou R$ 24 mil na conta da primeira dama Michelle Bolsonaro.
Como Flávio não sabia das movimentações ilícitas se o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou 48 depósitos suspeitos – em um único mês – em sua conta, realizados na agência bancária da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)? Todos os 48 depósitos têm o mesmo valor: R$ 2 mil, num total, portanto, de R$ 96 mil.
Os depósitos foram feitos em apenas cinco dias:
a) No dia 9 de junho de 2017 houve 10 depósitos na conta de Flávio Bolsonaro, em apenas 5 minutos (das 11 h e 2 minutos até às 11 h e 7 minutos).
b) No dia 15 de junho de 2017 houve 5 depósitos, no espaço de apenas 2 minutos (das 16h e 58 minutos até às 17 h).
c) No dia 27 de junho de 2017 houve 10 depósitos em 3 minutos (das 12 h e 21 minutos até às 12 h e 24 minutos).
d) No dia 28 de junho de 2017 houve 8 depósitos em 4 minutos (das 10 h e 52 minutos até às 10 h e 56 minutos.
e) No dia 13 de julho de 2017 houve 15 depósitos em 6 minutos.
O relatório do Coaf avalia que esse fracionamento é um indício de que se tentava burlar a fiscalização. Flávio apresentou a versão de que eram recursos de venda de imóvel e que decidiu depositar dessa forma para “evitar a fila no banco”. Depois descobriu-se que os recursos do imóvel a que se referia o deputado, tinham sido recebidos muito antes desses depósitos.
Queiroz só decidiu apresentar essa nova versão, de que Flávio não sabia de nada, depois das sucessivas ausências, porque o MP afirmou que poderia concluir as investigações mesmo sem ouvi-lo.
Histórico
A Operação Furna da Onça, um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio, desbaratou um esquema de propinas milionário na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A ação da PF acabou levando dez deputados estaduais para a cadeia. Durante as investigações, o assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, caiu na mira dos investigadores pela movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão. Depois foi descoberto que, em dois anos, esse valor chegava a R$ 7 milhões.
O relatório do Coaf revelou que Queiroz recebia em sua conta depósitos regulares de nove funcionários fantasmas lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro, incluindo toda a sua família Queiroz, também convocada, mas que se recusou a depor.
Os depósitos dos funcionários fantasmas eram feitos logo em seguida às datas de pagamento dos salários da Alerj. Um dos funcionários, Wellington Servulo Romano da Silva, nem residia no Brasil. Recebia o salário do gabinete de Flávio Bolsonaro, mas morava em Portugal.
Durante as investigações das movimentações feitas por Queiroz foram descobertas outras irregularidades. Um depósito seu na conta de Michele Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil e um depósito feito em sua conta [Queiroz] por sua filha, Nathalia Queiroz, lotada n o gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília, no valor de R$ 87 mil. Nathalia, apesar de lotada no gabinete de Jair Bolsonaro em Brasília, morava no Rio de Janeiro, onde trabalha como personal trainer.
Além do gabinete de Flávio Bolsonaro, funcionários de outros 21 deputados também apareceram no relatório do Coaf. A movimentação financeira total entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, segundo o documento, foi de mais de R$ 207 milhões. No total, foram identificados 75 servidores e ex-servidores da Alerj que apresentaram movimentação financeira suspeita registrada em contas de suas titularidades. Além disso, foram citados neste relatório outros 470 servidores e ex-servidores da assembleia na condição de remetentes ou destinatários de recursos.
Fabrício Queiroz tem ligações antigas com Jair Bolsonaro. Eles foram vistos frequentemente juntos em pescarias, festas e churrascos. Os dois serviram juntos no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, em 1984. O presidente chegou a insinuar, durante entrevista a SBT, que o sigilo bancário de Queiroz tinha sido quebrado ilegalmente, mas foi desmentido pelo MP e pelo Coaf.
Apesar das ligações mais íntimas com Jair Bolsonaro, Queiroz foi alocado no gabinete de Flávio Bolsonaro no Rio, e recebia os depósitos suspeitos dos funcionários. Por isso ele foi descoberto pelo Coaf. Tanto Flávio quanto Jair Bolsonaro afirmam que não têm nada a ver com as movimentações financeiras do ex-assessor.
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