
Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e agora senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), quer apresentar por escrito as explicações ao Ministério Público do Rio (MP-RJ). Ele deve estar com medo de se defrontar com as perguntas dos promotores. Afinal, como explicar as movimentações financeiras milionárias em sua conta? E por que funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro depositavam regularmente a integralidade, ou parte significativa, de seus salários em sua conta?
Inicialmente o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrava uma movimentação de R$ 1, 2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, sem renda ou patrimônio que explicassem o fenômeno. Só que, com o andamento das investigações, o órgão fiscalizador detectou que Queiroz movimentou muito mais. Foram na verdade R$ 7 milhões. Nos dois anos anteriores a janeiro de 2016, o Coaf mostra que passaram pela conta de Queiroz R$ 5,8 milhões. O que significa uma média de R$ 2,3 milhões por ano, entre 2014 e 2017.
A desculpa do assessor de que não pode comparecer, como ele fez das outras vezes, porque estaria doente, não convence. Até porque, no mesmo dia em que apresentou atestado médico para não prestar depoimento, Queiroz apareceu leve e solto dando entrevista no SBT. Ali ele disse que é um homem de negócios e que “faz dinheiro”. Depois, para caracterizar bem que ele estava zombando da Justiça, apareceu dançando alegremente diante da câmera de um celular, num quarto de hospital em São Paulo. Já faz um mês que ele foi operado. Sua família, toda ela lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro, também pediu para responder as perguntas por escrito. Ela também vem driblando a Justiça e, até agora, nenhum deles compareceu ao Ministério Público.
Em visita ao Senado nesta quarta-feira (30), Flávio Bolsonaro foi cercado por jornalistas. Todos queriam saber quando é que ele vai explicar as movimentações suspeitas dele e de seu ex-assessor. Mais uma vez o filho de Jair Bolsonaro se esquivou e não falou nada. Jair Bolsonaro também se viu tendo que explicar esse assunto em Davos, na Suíça. Perguntado por uma jornalista do Washington Posto, ele respondeu: “não é de sua conta”. Além de explicar o dinheiro na conta de seu assessor, Queiroz, Flávio vai ter que falar também das homenagens a presos e foragidos da polícia e das nomeações de parentes de milicianos em seu gabinete.
A mãe de Adriano Magalhães da Nóbrega, um dos chefes da milícia da Zona Oeste do Rio de Janeiro, Raimunda Veras Magalhães, de 68 anos era funcionária no gabinete de Flávio Bolsonaro durante parte de seu mandato como deputado estadual. Raimunda aparece na folha da Alerj com salário líquido de R$ 5.124,62. Conhecido como “Capitão Adriano”, o ex-PM foi um dos alvos da Operação “Os Intocáveis”, realizada pela Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro na semana passada, que prendeu cinco milicianos. Adriano é considerado foragido.
Ele, Flávio Bolsonaro, entregou a Medalha Tiradentes, maior condecoração do estado do Rio de Janeiro, a Adriano da Nóbrega quando este estava preso, acusado de assassinato de um jovem que denunciou as ameaças da milícia. Isso ocorreu em junho de 2005. Adriano havia sido preso, juntamente com outros dez policiais em janeiro de 2004, acusado pelo homicídio do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, de 24 anos. Por indicação de Flávio Bolsonaro, Adriano Magalhães e o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira (preso na Operação “Os Intocáveis”), já tinham sido homenageados em 2003 e 2004, na Assembleia Legislativa.
Jair Bolsonaro, quando era deputado, também defendeu em 2003, grupos de extermínio: “Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas”, afirmou.
Vai ser mesmo muito difícil para Queiroz explicar toda essa lambança. Vai ser difícil dizer por que sua filha, Nathalia Queiroz, estava lotada no gabinete de Jair Bolsonaro em Brasília e trabalhava como personal trainer no Rio de Janeiro. E por que ela depositou R$ 84 mil em sua conta. Queiroz também não quer responder por que fez um depósito de R$ 24 mil na conta de Michelle Bolsonaro, mulher do presidente. Ele quer fazer o depoimento por escrito para falar o que ele quiser, sem se defrontar com as perguntas.
Sua filha Nathalia foi nomeada para o cargo de Brasília em 2016, logo em seguida de ser exonerada da assessoria parlamentar de Flávio Bolsonaro, no Rio. Não se mudou para a capital, permanecendo como personal trainer de famosos no Rio de Janeiro. Ela só saiu do gabinete de Jair Bolsonaro no dia 15 de agosto de 2018. De acordo com os registros da Câmara, Nathalia recebeu R$ 225 mil em salários em quase dois anos em que esteve lotada no gabinete do presidente eleito e mais R$ 25 mil em auxílios.