
O técnico do Grêmio, Roger Machado, foi alvo de novos ataques racistas na tarde de quinta-feira (28), após a vitória por 1 a 0 contra o Operário, em Ponta Grossa-PR, pela Série B do Brasileirão. Depois do apito final, o comandante e sua família foram alvos de insultos de um grupo de torcedores do Operário.
Na entrevista coletiva, Roger afirmou que as ofensas foram inclusive nominais, direcionadas para sua esposa e suas filhas.
“Em mais de 30 anos no futebol, nunca vivi isso. Fui desrespeitado aqui em Ponta Grossa”, condenou, antes de começar a responder às perguntas.
Antes da partida, Roger Machado afirmou que os atos discriminatórios aumentaram na sociedade e que as pessoas, antes escondidas, “se sentem autorizadas a se manifestar segundo as posturas e pontos de vista do líder da nação”, em referência a Jair Bolsonaro (PL).
“Os indivíduos que estavam escondidos se sentem autorizados a se manifestar segundo as posturas e pontos de vista do líder da nação, são convergentes. Temos que resistir, porque sua intenção é que retrocedamos e isso não podemos permitir”, afirmou.
O técnico gremista, um dos poucos treinadores negros no comando de um clube de futebol brasileiro, afirmou em entrevista ao jornal ‘Folha de S.Paulo’ que as pessoas que pensam estar perdendo seus privilégios, reagem de modo agressivo.
“É um processo relacionado com uma cultura de ódio que vivemos com muito mais força nos últimos quatro anos no Brasil. Mas não é uma situação regional, é global”.
O treinador disse que reagiu a insultos com os nomes de sua esposa e filhas nas arquibancadas do estádio Germano Kruger, em Ponta Grossa, no Paraná. Na entrevista, o técnico gremista falou sobre o racismo que sofreu na carreira e os motivos pelos quais existem poucos treinadores negros. Para ele, quando pessoas negras e brancas “decidem ascender na pirâmide social, os filtros começam a aparecer”.
Afirma que “são os filtros da ideologia que criou o racismo e que atribui ao negro uma condição de menor inteligência, menor capacidade de liderança e gestão, justamente as competências de um treinador de futebol”. De acordo com Machado, quando era demitido nos seus primeiros trabalhos como treinador, questionavam a capacidade dele de gerir grupos, mesmo sendo “uma das grandes capacidades que eu sempre tive como jogador, como liderança, como capitão”.
Em nota, o Grêmio lamentou as ofensas direcionadas ao treinador. O clube se solidarizou com o profissional e com a sua família, e reforçou o “desejo que de que o ambiente do futebol seja apenas de alegria, paz e união”.