
BC registra saída recorde de recursos no mês. Até outubro, o saque acumulado é de R$ 98,285 bilhões
Os resultados da caderneta de poupança no mês de outubro passado foram negativos em R$ 12,16 bilhões, em decorrência do volume de depósitos de R$ 321,9 bilhões e montante de saques a maior no valor de R$ 334,1 bilhões. É o quarto mês seguido em que as retiradas superaram os depósitos. O saldo foi mais negativo do que os R$ 5,8 bilhões de setembro.
O resultado do mês reforça a tendência de queda na arrecadação das cadernetas de poupança no ano. As retiradas nas cadernetas superaram os depósitos em R$ 98,3 bilhões de janeiro a outubro. Os depósitos totais no ano somaram R$ 3,13 trilhões e os saques totalizaram R$ 3,23 trilhões. Os dados foram informados na sexta-feira (10) pelo Banco Central.
A persistir a tendência de saldos negativos para novembro e dezembro, pode-se repetir algo parecido com o que ocorreu no ano passado.
Em 2022 o ano fechou com R$ 103,237 bilhões a menos na soma dos saldos das poupanças de todo o país, o pior de um ano na história, considerando a série iniciada em 1995.
A capacidade de consumo das famílias está reduzida. A inflação, apesar de agora contida, não retornou com os preços antes da pandemia, nem mesmo antes da escalada da inflação em 2021, quando o IPCA, índice oficial de inflação, bateu na casa dos 10,06%.
A desocupação teve uma redução importante no último período, mas com os salários comprimidos. A ocupação sem direitos e com redução do que seriam os salários, junto com o trabalho “por conta”, ambos em grande medida mascarando o desemprego, foram fatores que derrubam renda.
Não sobrou no fim do mês aquela economia para as famílias pouparem, pelo contrário, o endividamento recorde, com mais de 70% das famílias, demonstra isso.
No final das contas, com a retirada de recursos da poupança no mês, o estoque dos valores depositados, ficou em R$ 961,8 bilhões em outubro, frente aos R$ 968,3 bilhões de setembro.
O sistema da caderneta de poupança vem mostrando enfraquecimento. Depois do período extraordinário da pandemia quando os saldos das cadernetas subiram, por conta do auxílio emergencial, a valores nunca antes atingidos, o saldo final de outubro em R$ 961,8 bilhões é modesto em relação aos R$ 837,9 bilhões de março de 2020, não cobrindo nem a inflação, ficando a menor 10,88 pontos percentuais dela (25,67%) depois de três anos e meio.
Ou seja, não só não cresceu como reduziu o saldo em suas contas.
A poupança de um país é por definição a riqueza que as famílias conseguem reter para finalidades fora das necessidades correntes para a manutenção do seu dia a dia. A compra da casa própria, de um carro, de um complemento para a aposentadoria, para ajudar os filhos nos estudos, entre outras do mesmo tipo.
Se há anos esses recursos não crescem, duas coisas são evidentes: a renda não cresceu ou as despesas correntes subiram mais do que ela. Na nossa realidade, ambas estão causando.
J.AMARO