Quem vai definir os preços e se vai abastecer ou não os navios será o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, novo dono da refinaria na Bahia. O Brasil e seus problemas, que se danem. Esse é o “sucesso” das privatizações de Bolsonaro
A Refinaria de Mataripe, na Bahia, antiga RLAM da Petrobras e recém adquirida por US$ 1,8 bilhão pelo fundo árabe Mubadala, do príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed Al Nahyan, afirmou em nota que não vai acoplar os preços de seus derivados às variações dos preços cobrados pela Petrobrás.
A notícia aparentemente poderia parecer positiva, já que a política de preços da Petrobrás, iniciada com Ademir Bendine, oficializada por Pedro Parente e mantida por Jair Bolsonaro, de atrelá-los ao dólar e ao barril de petróleo no exterior, é um desastre. Mas, mesmo o que está ruim, ainda pode piorar. Os preços da Mubala conseguiram ser mais atrelados ainda.
O que o fundo, que agora administra a refinaria, reafirmou é que não vai reduzir os preços em função das raras reduções feitas pela Petrobrás. Ou seja, seu atrelamento aos preços internacionais será ao dólar e ao barril mas com um sentido único. Só sobe.
A refinaria RLAM foi a 1ª venda da Petrobras dentro do pacote de 8 refinarias que passarão à iniciativa privada, fruto de um absurdo acordo de queima do patrimônio feita pela direção da empresa com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Em 2021, a Petrobras realizou 15 reajustes no preço da gasolina, sendo 11 aumentos e 4 reduções. No total, o valor do combustível vendido nas refinarias teve crescimento de 74%. Já o diesel teve 12 reajustes, sendo nove aumentos e três reduções, que totalizaram um crescimento no preço de 65%. O último reajuste aconteceu no dia 26 de outubro e levou a gasolina a custar R$ 3,19 e o diesel R$ 3,34.
Apesar da estatal anunciar, no último dia 14 de dezembro uma redução do preço da gasolina nas refinarias, a Acelen, empresa ligada ao fundo árabe Mubadala, que comprou antiga Refinaria Landulpho Alves, (RLAM), permaneceu com os mesmos preços cobrados. Com isso, o valor do litro nas bombas dos postos de combustíveis de Salvador, na Bahia, se manteve no preço médio de R$ 6,59.
A refinaria, que fica localizada em São Francisco do Conde, 100% operada a partir de 1º de dezembro pelo fundo árabe, fornece combustível para postos de toda a Bahia. O preço cobrado nos postos poderia ser o resultado dos custos do combustível na refinaria, da operação e da margem do lucro das distribuidoras e dos postos, e de impostos, mas não é.
Se a refinaria permanecesse com a Petrobrás, que já tinha amortizado os investimentos para a sua construção, esse custo de produção dos derivados seria muito baixo e permitiria a cobrança de preços bem mais em conta para os consumidores brasileiros. Ela só não fazia isso porque os diversos governos cederam às importadoras de derivados que exigiam o atrelamento dos preços da estatal aos preços internacionais do barril e ao dólar. E, assim foi feito.
Agora, se quisesse cobrar preços baseados no custo de produção, o fundo Mubala teria que acrescentar a eles a amortização de seu investimento de US$ 1,8 bilhão para a compra da refinaria. Mas, ela se aproveita que a Petrobrás está praticando preços internacionais e também o faz, tendo um super lucro na operação no país. O Mubala não tem nenhum compromisso de reduzir os preços quando eles caírem internacionalmente, como acaba de ocorrer.
Depois que o refino na Bahia deixou de ser público e passou a ser um monopólio privado estrangeiro, as políticas são definidas pelo príncipe herdeiro de Abu Dhabi, dono do fundo Mubala. Nesse sentido, a empresa simplesmente deixou de fornecer combustível a navios (conhecido como óleo bunker) por meio do Terminal Madre de Deus, principal ponto de escoamento da produção.
A Acelen, holding do fundo que assumiu a refinaria em 1º de dezembro, disse que o fornecimento a navios não estava no contrato.
Com o caos criado após essa decisão, a Acelen esclarece que os equipamentos e sistemas necessários para o fornecimento de bunker oil a partir do Temadre não fizeram parte dos ativos adquiridos pela Acelen com aquisição da Refinaria de Mataripe.
Ela esclarece, ainda, que os clientes que eram atendidos pela Petrobras a partir do Temadre até 30 de novembro foram comunicados pela própria empresa de que esse atendimento cessaria a nesta mesma data. Agora os navios não terão mais garantia de abastecimento.