A expedição que analisa as condições do Rio Paraopeba após o rompimento da barragem da Vale que derramou milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no leito do rio já detectou a presença de contaminantes a mais de 300 quilômetros de distância de Brumadinho. De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, que coordena o levantamento, já foram analisados 11 pontos de coleta e na maioria deles possui água com condição péssima.
Na tarde desta segunda-feira (11), a Defesa Civil de Minas Gerais atualizou os números de vítimas do crime da Vale. De acordo com o tenente coronel Flávio Godinho, dos 165 corpos resgatados pelas buscas, 160 já foram identificados. O número de desaparecidos foi atualizado para 155 pessoas e outras 393 foram localizadas.
“No rio, um desastre como esse gera um caminho de destruição não só da fauna e da flora mas também das formas de organização, do trabalho e do lazer das pessoas que vivem no entorno dele, muitas vezes a centenas de quilômetros de onde se deram os acontecimentos”, diz Ricardo Fernandes, do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração e membro da equipe.
Em Pará de Minas – a aproximadamente 90 km da barragem Córrego do Feijão – onde continua sua expedição de 356 km pelo rio Paraopeba, as análises de qualidade da água mostraram que as membranas instaladas pela Vale para conter os rejeitos não deram resultados.
Para analisar a efetividade das membranas instaladas pela Vale, a equipe da Fundação realizou medições antes e depois das barreiras. No primeiro ponto, onde o rio possui intensa corrente – trecho mais largo até agora –,o índice de oxigênio chegou a 3mg/l e a turbidez a 683,8 NTU (sigla em inglês para a unidade matemática Nefelométrica de Turbidez, que verifica quantidade de partícula sólida em suspensão, o que impede a passagem da luz e a fotossíntese, causando a morte da vida aquática). Esta turbidez equivale a seis vezes mais do que o indicado pela legislação ambiental.
Aproximadamente 500 metros depois das membranas, no ponto de captação de água de Pará de Minas, a turbidez foi de 366 NTU, ou seja, as barreiras estão tirando aproximadamente 50% do volume de rejeito.
Portanto, neste ponto não há vida aquática, além de não ser indicado o uso desta água pela população – conforme decisão de suspensão de captação pela empresa Águas de Pará de Minas.
DESMATAMENTO
A Mata Atlântica, as áreas naturais e as matas ciliares também foram arrastadas e a perda da floresta nativa afeta e dificulta muito a recuperação da rede hidrográfica, com efeito cascata do dano ambiental sobre os ecossistemas da região. Brumadinho possuía antes do ocorrido 15.490 hectares de remanescentes do bioma acima de 3 hectares, o equivalente a 830 campos de futebol – isso representa 24,22% do que havia do bioma originalmente no município, segundo o Atlas da Mata Atlântica.
Segundo dados da SOS Mata Atlântica/INPE/MapBiomas, houve uma perda de 109 hectares de florestas nativas. Destes, 53 hectares eram áreas bem preservadas. A Fundação SOS Mata Atlântica continuará monitorando com os especialistas a destruição da mata na região.