
Candidato a deputado estadual, major da reserva do Exército Aílton Gonçalves Moraes Barros contou que resolveu apostar em engajamento nas redes
Interrogado, nesta quinta-feira (24), pela trama golpista, o réu no STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-major do Exército Aílton Gonçalves Moraes Barros negou que tenha articulado para pressionar o então comandante do Exército a aceitar participar da intentona. Ele disse que agiu, sim, para conseguir votos. As informações são do portal UOL.
“Minha cabeça era só voltada para a política”, afirmou ele, em interrogatório na Corte, que foi candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro em 2022 e se apresentou na campanha como “01 do Bolsonaro”.
O ex-major terminou a eleição de 2022 na lista de suplentes.
Para tentar se eleger, Ailton contou que resolveu apostar em engajamento nas redes digitais. Com isso, fez posts, considerados pela PF (Polícia Federal) como de teor golpista, para chamar a atenção.
O major subestima a inteligência da Justiça e dos brasileiros ao apresentar essa versão caricata.
CURSO DE MARKETING
A estratégia, segundo ele, foi aprendida num curso de marketing. Em 19 de dezembro de 2022, Ailton publicou no X, que os acampamentos de bolsonaristas na frente dos quartéis separariam “os homens das criancinhas” e responsabilizariam “os omissos, covardes e os fracos”.
Ao fim do post, o ex-major marcou o perfil do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o que seria de Freire Gomes, então comandante do Exército.
“Nós aprendemos que criar e gerar expectativa nas pessoas pode ser muito eficaz para a obtenção do marketing, do que se deseja lançar. Seja uma ideia, seja um produto, seja um evento pode ser muito eficaz”, disse o ex-major.
“A minha ideia, excelência, minha ideia pura e simples, quando eu lancei isso aí [a candidatura], era aumentar o meu número de seguidores, mas não que eu quisesse ter influência: leia-se seguidores/eleitores. A minha cabeça era só voltada para a política”, acrescentou.
“CHORADEIRA DE QUEM PERDEU”
Ailton disse que mensagens de Braga Netto para ele eram “choradeira de quem perdeu”. Ele negou que tenha feito “ataques aos militares”, que não teriam aderido ao plano golpista.
De acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República), Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e candidato a vice de Bolsonaro em 2022, orientou Ailton Barros a atacar o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, então comandante da Aeronáutica, que negou apoio à trama golpista, e elogiar o almirante de esquadra Almir Garnier Santos.
Comandante da Marinha à época, Garnier teria endossado o plano golpista.
Ailton disse ter visto as mensagens não como “orientação”, mas “desabafo”. Interceptadas pela PF (Polícia Federal), as conversas mostram que o general escreveu a Ailton para sentar “o pau no Baptista Júnior”, chama o tenente-brigadeiro de “traidor da pátria” e afirma que é preciso “infernizar a vida dele e da família”. “Elogia o Garnier e fode o BJ”, escreveu, ainda, Braga Netto.
INTERESSES POLÍTICOS
Ex-major negou ter relação com Braga Netto e disse que se aproximou dele por interesses políticos. “Eu tinha interesse em me aproximar do general Braga Netto, por ele ter sido interventor no Rio de Janeiro”, pontuou.
“Era uma pessoa da área de segurança pública. Eu tenho projetos na área de segurança pública, tenho projetos políticos em relação à comunidade”, contou.
Relatou, ainda, que mensagens com teor golpista seriam para agradar a Braga Netto. O réu contou ter se aproximado do general ao enviar mensagens para ele “por engano”.
ENGAJAMENTO
Ao perceber que Braga Netto logo respondeu, disse Ailton, culpando Freire Gomes pelo que ocorria na época, ele teria prometido manter a pressão sobre o comandante do Exército, ameaçando “oferecer a cabeça dele aos leões”, caso ele mantivesse a posição.
Braga Netto concordou e respondeu: “Oferece a cabeça dele. Cagão.”
“Eu quero me aproximar do general Braga Netto. Então, eu dou respostas, que vão ao encontro do general Braga Neto”, disse no interrogatório.
“Eu procuro ali frases de efeitos, como essa de entregar a cabeça dele aos leões. Então, não tem como entregar a cabeça dele aos leões. Mas eu os lancei para o general Braga Netto e observei, na resposta que veio, que ele gostou, interagiu ali, teve interlocução comigo. Eu falei, bem, o primeiro passo [para aproximação] foi dado.”
“NÚCLEO 4” DA TRAMA GOLPISTA
O chamado “núcleo das fake news” tem réus do segundo escalão da trama golpista. O grupo é composto por 5 militares de patente mais baixa, 1 agente da PF e o presidente do Instituto Voto Legal, contratado pelo PL para embasar a ação que pediu “verificação extraordinária” das urnas após o segundo turno em 2022.
Os réus são acusados de propagar notícias falsas e fazer ataques virtuais às instituições e autoridades dentro da estratégia golpista para manter Bolsonaro no poder. São eles:
· Ailton Moraes Barros, ex-major do Exército;
· Ângelo Denicoli, major da reserva do Exército;
· Giancarlo Rodrigues, subtenente do Exército;
· Guilherme Almeida, tenente-coronel do Exército;
· Reginaldo Abreu, coronel do Exército;
· Marcelo Bormevet, agente da Polícia Federal; e
· Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, presidente do Instituto Voto Legal.
CRIMES COMETIDOS
Somadas, as penas máximas podem ultrapassar 40 anos de prisão. Os 7 são réus pelos crimes de:
· organização criminosa armada;
· tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito;
· golpe de Estado;
· dano qualificado; e
· deterioração de patrimônio tombado.