O solo na região da mina da Braskem com risco de colapso em Maceió afundou 13 cm nas últimas 24 horas. Tremores passaram a ser registrados na área de onde mais de 55 mil moradores foram desalojados, em uma das maiores tragédias urbanas registradas na história do Brasil.
Na sexta-feira, um tremor de terra de magnitude 0,39 foi registrado na região. Segundo a Defesa Civil, o tremor ocorreu a 330 metros de profundidade. Mesmo com o abalo, não houve aumento na velocidade do afundamento do local.
Ainda de acordo com a Defesa Civil, a velocidade do afundamento reduziu de 2,6 cm para 1 cm por hora na sexta.
Menos de 12 horas após o tremor de terra de magnitude 0,39 registrado na área da mina, um novo abalo sísmico, de magnitude 0,89, ocorreu no mesmo local na madrugada deste sábado (2). A profundidade foi de 300 metros
Não há relatos de que o tremor tenha sido sentido pela população. Segundo comunicado enviado pela Braskem neste sábado, a área foi toda desocupada e a mineradora segue monitorando a situação.
Essas minas são cavernas para extração de sal-gema, atividade realizada na região por décadas, até que um tremor de terra em 2018 abriu rachaduras em 5 bairros. Mais de 14 mil imóveis tiveram que ser evacuados, afetando cerca de 60 mil pessoas. A empresa interrompeu a mineração no final de 2019 e desde então vinha fazendo um trabalho de fechamento das minas.
Contudo, após 5 tremores de terra somente no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o risco iminente de colapso na mina 18, no bairro do Mutange, próximo da lagoa Mundaú, e vem monitorando a velocidade da movimentação do solo no local.
A Defesa Civil afirma que permanece em alerta máximo porque ainda é iminente o risco na região do antigo campo do CSA, no bairro do Mutange. Por precaução, está mantida a recomendação para que a população evite transitar na área desocupada até uma nova atualização.
O bairro do Mutange já havia sido completamente evacuado desde que o problema começou. Nos bairros vizinhos também houve evacuação, mas não completamente. Algumas dezenas de famílias ainda permaneciam no Bom Parto, Bebedouro e Pinheiro. Mas a possibilidade do desastre fez muita gente sair voluntariamente e até um hospital transferiu todos os seus pacientes.
De acordo com a empresa, os dados atuais de monitoramento indicam que a acomodação do solo continua concentrada na área dessa mina e pode ocorrer gradualmente até a estabilização ou de forma abrupta.
Das 35 cavidades exploradas pela Braskem, nove receberam a recomendação da Agência Nacional de Mineração (ANM) de serem preenchidas com areia. Cinco delas já tiveram o preenchimento concluído, em outras três os trabalhos estão em andamento e uma não precisa mais ser preenchida com areia, pois está pressurizada. Além disso, em outras cinco cavidades foi confirmado o processo de autopreenchimento.
CENÁRIOS
O desabamento da mina 18 da Braskem no bairro do Mutange, em Maceió, pode acontecer de duas formas: drástica ou gradual.
Em caso de cenário gradual, o deslocamento do solo seguirá de modo lento até atingir a estabilização. Por outro lado, se o cenário for desabamento repentino, ocorrerá o colapso, com possibilidade de abertura de uma cratera do tamanho do Maracanã.
O coordenador da Defesa Civil de Alagoas, coronel Moisés, disse que, mesmo com deslocamento de terra mais lento, o colapso da mina “ainda está em evolução” e pode acontecer “a qualquer momento”.
“O ritmo continua, mas agora menos acelerado. Estava num ritmo bem maior, agora já desacelerou um pouco, mas, sim, está cada vez mais perto da superfície, que poderá chegar a qualquer momento a eclodir ou de uma forma mais branda, mas com certeza atingirá a superfície”, avaliou o coronel Moisés.
“A gente acredita que [a cratera aberta pelo colapso] será, aproximadamente, cinco vezes o seu raio, que está hoje, em média, 32 metros. A população que reside nesse entorno está a uma distância considerável, em média, a 2 quilômetros de distância desse local, que é aqui às margens da lagoa Mundaú”, explicou o coordenador da Defesa Civil Estadual.
Porém, as consequências para o meio ambiente são catastróficas. Quando houver o desabamento da mina, a água da lagoa, terra e detritos serão escoados para dentro da cratera. O contato com o sal-gema tornaria a água da lagoa salgada e toda a área de mangue na região pode ser impactada.