Um ataque de ruralistas deixou pelo menos dez indígenas dos povos Guarani e Kaiowá feridos na região de Douradina (MS), no início da tarde deste sábado (3). O ataque ocorreu um dia após a Força Nacional se retirar do local, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Ainda segundo o CIMI, “jagunços fortemente armados” atiraram com munição letal e balas de borracha. Apurações iniciais do órgão informam que dois indígenas feridos estão em estado grave — um teria levado um tiro na cabeça e outro, um tiro no pescoço, aparentemente atingidos com munição letal. Seis feridos foram encaminhados ao Hospital da Vida, em Dourados, e até o momento não há informações sobre os outros dois atingidos.
Os indígenas informam também que outro ataque já havia sido registrado na sexta-feira (2), na retomada Pikyxyin, um dos sete territórios que compõem a Terra Indígena Lagoa Panambi. Pelas redes sociais, a APIB (Articulação dos Povos Indígenas) condenou o ataque e pediu justiça. “São mais de 8 indígenas, mulheres, crianças e idosos feridos gravemente. É mais um massacre de Guarani Kaiowá na terra indígena.” A entidade também solicitou o envio de ambulâncias e médicos. “Pedimos ambulâncias e equipes médicas. Os pistoleiros das fazendas continuam disparando armas de fogo contra a vida das famílias indígenas. Pedimos justiça”, completou a APIB.
Na madrugada deste domingo (4), o acampamento Esperança, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), foi atacado e incendiado em Dourados, também no Mato Grosso do Sul. Não houve feridos. O CIMI (Conselho Indigenista Missionário) divulgou que o ato criminoso foi uma retaliação de fazendeiros. Na última segunda-feira (29), representantes do acampamento participaram das retomadas de Douradina, Terra Indígena Lagoa Panambi, para prestar solidariedade aos Guarani e Kaiowá. “O ataque ao acampamento do MST, conforme lideranças ouvidas, só pode ser entendido como desdobramento do ataque sofrido pelas retomadas de Douradina na tarde deste sábado (3), compondo a mesma estratégia do ruralismo no estado”, disse o CIMI. Segundo o Conselho, as agressões começaram logo após a saída de agentes da Força Nacional do local, que teriam chegado a dizer para um dos indígenas: “pega teu povo e sai daqui ou vocês vão morrer”, antes de deixar a região.
Em nota, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) repudiou a violência contra os povos originários e informou que uma equipe composta por membros do MPI, da Funai e do Ministério Público Federal está no território para prestar suporte de saúde e garantir a segurança dos indígenas. A equipe ficará permanentemente próxima às áreas de conflitos para deslocamento imediato em casos como esses.
“O MPI repudia a violência contra os indígenas Guarani Kaiowá. Vale ressaltar que as retomadas estão sendo realizadas em território já delimitado pela Funai em 2011. O documento segue válido, porém o andamento do procedimento demarcatório se encontra suspenso por ordem judicial.” A TI, de 12,1 mil hectares, foi identificada e delimitada pela Funai ainda em 2011, mas sua demarcação está paralisada devido às discussões sobre a tese do indecoroso marco temporal no Congresso.