
Tudo para barrar as investigações de Flávio Bolsonaro
Mais um aparente imbróglio se abriu nas hostes governistas na sexta-feira (24). Jair Bolsonaro foi obrigado a desmentir o que disse um dia antes aos Secretários Estaduais de Segurança Pública reunidos em Brasília, sobre o desmembramento do Ministério da Justiça. O “recuo” ocorreu diante da ameaça velada de Moro de que abandonaria o governo se a medida fosse efetivada.
A reação de Moro veio assim que ele percebeu – com bastante atraso – que estava dentro de uma panela sendo fritado pelo Planalto.
Já havia perdido o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e, agora, a perda da Segurança Pública tornaria insustentável sua permanência à frente da pasta.
O entorno de Bolsonaro alertou para os riscos da saída de Moro. Augusto Heleno chegou a dizer que era o fim do governo. Seria impossível para a milícia bolsonarista manter a farsa de paladinos do combate à corrupção com a demissão de Moro.
Na quinta-feira (23), Bolsonaro havia dito que o governo estava estudando recriar a pasta da Segurança Pública, que atualmente está sob o comando de Moro. Com a mudança, Moro ficaria na Justiça e um outro ministro comandaria a área da Segurança. Em entrevista no mesmo dia, o presidente chegou a dizer que sabia que Sérgio Moro era contra a proposta, mas que ela seria estudada.
Ao desembarcar na Índia na sexta-feira (24), Bolsonaro voltou atrás e jurou que a possibilidade de isso acontecer – recriar o Ministério da Segurança Pública – era zero.
Só que o “recuo” não passou de mais uma encenação. Nas entrelinhas fica claro que ele teve que recuar momentaneamente, mas não desistiu da ideia de fatiar o ministério e enfraquecer Moro.
É só ver exatamente o que ele disse aos repórteres na Índia para que a encenação fique clara. “A chance no momento é zero”, afirmou o presidente, ao ser questionado por jornalistas que cobrem sua viagem ao país asiático sobre a pretendida reforma ministerial.
Em seguida, Jair Messias continuou mostrando seu desconforto e dando sinais trocados. “Tá bom ou não? Tá bom, né? Não sei amanhã”, afirmou. “Na política, tudo muda, mas não há essa intenção de dividir [o Ministério da Justiça]. Não há essa intenção”, completou Bolsonaro.
Para entender as motivações de Bolsonaro é preciso voltar as atenções, mais uma vez, para os crimes cometidos por seu filho, Flávio, quando era deputado no Rio. Ele está prestes a ser denunciado pelo Ministério Púbico do Rio e a Justiça certamente vai aceitá-la e transformá-lo em réu.
Bolsonaro não sossegou enquanto não anulou as atividades do Coaf. O órgão havia descoberto as movimentações ilícitas de lavagem de dinheiro do então parlamentar do Rio de Janeiro. Agora a bola da vez é a Polícia Federal. Recriar o Ministério da Segurança Pública significa trocar o comando da PF, que Bolsonaro que fazer desde o primeiro dia do governo.
Coaf, Receita Federal e Polícia Federal são órgãos que Bolsonaro quer anular ou colocar sob seu controle. Almeja isso para poder encobrir os crimes dos amigos e parentes e tentar jogá-los contra a oposição e os desafetos.
Nas duas primeiras instituições ele já interveio. Tanto que o primeiro praticamente não existe mais, e o segundo está fazendo devassas no Grupo Globo, só porque o Jornal Nacional tornou-se crítico de diversas ações do governo.
No caso da Polícia Federal está difícil tomar o controle porque há o empecilho da presença de Moro.
Mesmo sendo um obediente ministro que se calou sobre os escândalos de corrupção do governo, como o laranjal do ministro do Turismo, os rombos da equipe de Guedes em fundos de pensão ou que desconheceu as confissões de caixa dois de Onyx Lorenzoni, ou mesmo o silêncio inaceitável sobre o atentado terrorista ao Porta dos Fundos, a PF ainda mantém uma certa autonomia.
Isso está incomodando Bolsonaro e seu séquito.
O plano de fatiar o Ministério da Justiça foi criticado pela parte dos seguidores de Bolsonaro que ainda acreditavam na demagogia bolsonarista de combate à corrupção. Achavam que enfraquecer Moro faria a máscara cair de vez.
Bolsonaro fez o teste contra Moro para ver se barra as investigações do Rio porque não conseguiu paralisar o encalço a Flávio por outras vias.
Como deu chabu, ele teve que adiar o plano de colocar seu amigo, o ex-deputado Alberto Fraga (DEM), no novo ministério com a promessa de afastar o atual chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo.
Moro saiu enfraquecido do embate, mas impediu, momentaneamente, as trocas pretendidas por Bolsonaro. A entrevista de sexta-feira (24) na Índia mostra que Bolsonaro aparentemente recuou, mas nem tanto.
Ele espera a melhor hora para se livrar do “aliado” incômodo. O bolsonarismo já usou a credibilidade que o ex-juiz tinha na sociedade e, agora, quer se livrar dele como faz com bagaço de laranja. Só que o bagaço está mais indigesto do que aparentava. Novas batalhas se avizinham.