
A disseminação de conteúdos que colocam em dúvida a eficácia e a segurança das vacinas tem afetado diretamente a cobertura vacinal no Paraná. O secretário estadual da Saúde, Beto Preto, reconheceu o impacto do negacionismo e da desinformação e reforça a importância da imunização.
“O SUS disponibiliza a vacina gratuitamente. É só ir à unidade de saúde e tomar o imunizante, que é seguro e evita quadros graves e internações. Não vamos deixar a desinformação vencer”, afirmou o secretário em sessão para apresentação do relatório de atividades da secretaria na Assembleia Legislativa.
Segundo Beto Preto, as campanhas contra a vacina da Covid vêm influenciando negativamente em todo o programa de vacinação disponível à população.
“Talvez este seja o ano em que mais estamos sofrendo com isso. É difícil de mensurar, vemos esse fenômeno há 12 anos”, disse. “Quando você combate uma vacina, como é o caso do [imunizante da] Covid, você combate todas as outras. Isso causa uma falsa sensação de segurança. Depois, os vírus circulantes cobram um preço”.
Beto Preto citou o caso de infecção de sarampo – doença erradicada até anos atrás – entre jovens universitários, registrada no último mês de março, em Curitiba.
Levantamento da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), divulgado na última semana, mostra que apenas 45,80% do público prioritário — idosos, crianças menores de seis anos e gestantes — recebeu a vacina contra a gripe. O índice está muito abaixo da meta de 90%.
O deputado estadual Arilson Chiorato (PT) também alerta para os riscos da baixa cobertura vacinal e propôs à Secretaria o reforço das campanhas de conscientização. “Vacinas salvam vidas”, reforça o parlamentar. “Não podemos permitir que a desinformação continue lotando hospitais e unidades de pronto atendimento”, destacou Arilson, que participou da audiência pública realizada na terça-feira (24), onde foi apresentado o balanço vacinal do 1º quadrimestre no Estado.
Os números preocupam. De acordo com a Sesa, até 15 de junho o Paraná registrou 1.379 casos de influenza e 12.011 casos de infecções respiratórias graves. Ao todo, 598 pessoas morreram por essas doenças em 2025, sendo 124 mortes provocadas especificamente pelo vírus da gripe. Crianças e idosos seguem entre os grupos mais vulneráveis.
DADOS ALARMANTES
Em âmbito nacional, os dados também são preocupantes. O último boletim InfoGripe, da Fiocruz, aponta que 15 das 27 capitais brasileiras enfrentam níveis elevados de casos graves de infecções respiratórias, classificados como alarmantes, de risco ou alto risco, com tendência de alta no longo prazo.
Levantamento da mesma instituição revela que, somente em 2025, quase 84 mil casos de infecções respiratórias graves já foram notificados no Brasil. Quase metade dos pacientes testou positivo para algum vírus. Nas últimas quatro semanas epidemiológicas, os principais agentes identificados foram: influenza A (38,9%), VSR — vírus sincicial respiratório (47,3%), rinovírus (15,9%), influenza B (0,9%) e covid-19 (1,7%).
O número de óbitos também chama atenção: 73,4% das mortes por infecções respiratórias graves no período foram causadas pelo influenza A, seguido por VSR (12,8%), rinovírus (10,4%), covid-19 (5,1%) e influenza B (1,3%).
“Temos visto um aumento muito importante no número de casos de influenza em todo o País”, alerta Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “É a primeira vez, desde a pandemia, que a gente vê a influenza ultrapassar a covid-19 em número de óbitos e internações”, afirma.
O atual cenário de desinformação sobre vacinas no Brasil é também um reflexo do negacionismo institucionalizado durante a pandemia da covid-19. Sob o governo de Jair Bolsonaro, a ciência foi desacreditada, campanhas de vacinação foram desestimuladas e medicamentos ineficazes, como a cloroquina, amplamente promovidos, mesmo com rejeição da comunidade científica nacional e internacional.
O resultado dessa condução trágica foi devastador: mais de 700 mil brasileiros perderam a vida para a covid-19, grande parte deles em meio à recusa do governo federal em adquirir vacinas no momento mais crítico da pandemia.