No debate realizado pela TV Record no último sábado (28), o tema da Segurança Pública foi um dos principais abordados pelos candidatos à Prefeitura de São Paulo, com duras críticas à gestão do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) foram alguns dos principais opositores a Nunes, que se defendeu citando obras de sua administração e negando irregularidades em contratos de creches.
Boulos, que também foi alvo de ataques, afirmou que governará “para o povo”, enquanto Marçal e Datena apontaram falhas na atuação do prefeito em questões sociais e de segurança.
Guilherme Boulos, que tem polarizado com Nunes nas pesquisas, também fez duras críticas ao atual prefeito e, principalmente, ao vice de sua chapa, o coronel Mello Araújo (PL). O psolista lembrou uma fala do coronel que sugeria uma diferença no tratamento entre moradores de bairros nobres e de periferias. “Certa vez ele disse que o morador da periferia tem que ser tratado pior que o morador dos Jardins. Na cabeça do vice do Ricardo Nunes é assim. Isso é inaceitável”, disparou Boulos. Nunes saiu em defesa de seu vice, ressaltando que foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e “sempre atuou de forma correta”.
Os dois candidatos trocaram outras farpas ao longo do debate. O atual prefeito chamou Boulos de “invasor de propriedades privadas”, em referência à atuação do psolista em movimentos de moradia. Boulos respondeu com firmeza: “Quero que falem de pelo menos uma casa que o movimento já invadiu. Não tem”. Boulos também rechaçou as acusações de que teria mudado suas posições para angariar votos, reafirmando que governará para “o povo”, e não para o partido.
José Luiz Datena foi contundente ao criticar a atuação da Prefeitura de São Paulo no combate à violência e à questão das pessoas em situação de rua. O candidato do PSDB descreveu a realidade da capital paulista como um “verdadeiro genocídio” nas ruas. “Não podemos aceitar que a cidade mais rica do Brasil tenha tantas pessoas desamparadas”, disse o apresentador. A segurança pública foi um dos temas centrais do debate, refletindo a preocupação com o aumento da criminalidade e a falta de políticas eficazes para proteger a população.
Tabata Amaral (PSB) também apontou problemas no controle da segurança pública na cidade, destacando o aumento dos índices de violência sexual: “Nossa cidade está mais insegura em todos os quesitos. A gente bateu recorde de estupros. O que a gente precisa e eu defendo é ter câmeras 24 horas e colocar policiamento reforçado nas zonas mais perigosas”.
MÁFIA DAS CRECHES
O debate também esquentou quando Pablo Marçal levantou suspeitas sobre uma máfia das creches, investigada pela Polícia Federal, que envolve contratos da gestão Nunes. Marçal acusou o prefeito de estar diretamente ligado ao escândalo: “Não quero ser injusto com você, como eu estou acompanhando [o caso] bem próximo, mas existe lá pagamento no seu nome, no nome de familiares”.
Nunes se defendeu das acusações e, em resposta, atacou Marçal, mencionando o passado do ex-coach, que já teve problemas com a Justiça. “Olha, Pablo Henrique, quem fugiu da polícia foi você. Fugiu pela sua condição de ter integrado uma das maiores quadrilhas deste país para roubar dinheiro de pessoas humildes pela internet. Você tem esse hábito, é bem conhecido por ser um mentiroso contumaz”, atirou o prefeito.
Ainda sobre o tema das creches, Boulos, que já havia criticado a política de convênios com instituições privadas, garantiu que, se eleito, manterá as creches conveniadas. “Sobre as invasões, disse ter orgulho de ter ajudado a dar casa para várias famílias”, reiterou.
Pablo Marçal e sua posição isolada
Marçal teve uma presença menos central no debate, sendo ignorado pela maioria dos candidatos, que evitaram questioná-lo diretamente. Ainda assim, ele conseguiu levantar pontos importantes sobre a gestão de Nunes e aproveitou para falar sobre sua visão política. Ele criticou a postura de Boulos, afirmando que o psolista está sendo “criado” por marqueteiros: “Não dá pra acreditar na figura do Boulos que está aqui. Isso aqui é o marqueteiro dele que criou. Assim como foi com o [presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] para ele vencer as eleições. O Boulos é de extrema-esquerda e está contrariando tudo que o partido prega”.
O ex-coach também tentou provocar Boulos ao usar o apelido “Boules”, numa referência jocosa à linguagem neutra, o que lhe rendeu uma reprimenda e a perda de 30 segundos no tempo de suas considerações finais. “O governo não vai acabar com a sua fome. Você ainda vai sentir fome três vezes ao dia. O que o governo pode fazer é ajudá-lo a mudar sua mentalidade para prosperar”, disse Marçal, durante o debate, ao destacar que está em jejum, tomando apenas água “pelo povo”.
O debate segu sem grandes agressões
Apesar das críticas, o tom do debate foi mais moderado em relação aos encontros anteriores, nos quais ataques mais agressivos dominaram o cenário. José Luiz Datena foi questionado sobre a cadeirada que deu em Marçal no debate da TV Cultura, mas minimizou o episódio: “Não é destempero, eu apenas me defendi. Isso será discutido na Justiça. Vocês querem que exista uma campanha democrática, mas criam situações que não são democráticas. Você fala que é destempero, mas é coragem”.
Ao final, o debate na TV Record manteve a polarização entre Nunes e Boulos, com questões como a segurança pública, o atendimento às creches e as investigações sobre corrupção figurando como os temas centrais. Boulos reforçou seu papel como principal oponente de Nunes, enquanto o prefeito buscou defender sua gestão em meio às críticas, tentando demonstrar o legado de suas obras e ações voltadas para as áreas mais vulneráveis da cidade.