
LEONARDO WEXELL SEVERO/ Hora do Povo-ComunicaSul, de Buenos Aires
O último dia de campanha para a Presidência da Argentina refletiu a disputa entre dois projetos, de um lado Sergio Massa que voltou a propor o fortalecimento do peso, mais crédito para a produção, investimento em infraestrutura e garantia dos direitos traballhistas e, de outro, Milei, que defendeu a dolarização, o fim de Previdência Pública, corte nos projetos sociais e entrega da economia às corporações, isto é, ao “mercado”
“Não ter moeda, não ter uma política de crédito, não ter autoridade monetária está condenando a indústria argentina ao fracasso e a um processo de fechamento definitivo”, advertiu Massa. Conforme o atual ministro da Economia, seu mandato será de “unidade nacional”, priorizando o desenvolvimento e a justiça social.
O alerta foi proferido pelo candidato Sérgio Massa, da União pela Pátria, durante atos de encerramento nesta quinta-feira: um com estudantes e outro com empresários do Conselho Interamericano de Comércio e Produção (Cicyp), onde defendeu o papel do investimento público para a multiplicação de obras e empregos, e combateu a dolarização.
“Nos países mais desenvolvidos, em média 92% do investimento em infraestrutura é feito pelos Estados e não pelo setor privado”, afirmou Massa, destacando que é esse o ritmo que advoga para o próximo governo. “Isso tem a ver com a perspectiva de desenvolvimento que um país deve ter”, frisou.
Ao finalizar a caminhada peronista junto aos estudantes na Escola Superior de Comércio Carlos Pellegrini, da Cidade de Buenos Aires, Massa exaltou a que defendam seus projetos com esperança e luta e assumiu “a responsabilidade de deixar para vocês um país muito melhor”. Propondo aos jovens que defendam suas utopias, frisou que a maior delas é “a liberdade de escolher onde estudar sem que ninguém lhes dê cheque ou voucher; de trabalhar onde quiserem sem que ninguém tire os seus direitos”. Acima de tudo, frisou, “a liberdade de ter um modelo de desenvolvimento para o seu país sem que ninguém coloque em primeiro lugar uma bandeira estrangeira e defenda a igualdade de oportunidades”.
MILEI DEFENDE FIM DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E FECHAMENTO DO BANCO CENTRAL
No comício de encerramento, em Córdoba, nesta quinta-feira, o candidato fascista Javier Milei voltou a defender a privatização da previdência, a dolarização da moeda e o fechamento do Banco Central argentino.
Em meio ao xingamento aos antecessores, Néstor e Cristina Kirchner, que reergueram a economia nacional, voltou a dizer que “a seguridade Kirchnerista – a dos presidentes Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015) – nos levou à pior miséria do planeta e quer nos reduzir à segurança das cavernas”.
Sem nenhum plano de desenvolvimento, Milei voltou a defender o “mercado” irrefreado como o elixir mágico: “liberalismo é o respeito irrestrito ao projeto de vida do próximo, baseado no respeito à propriedade privada, aos mercados livres de intervenção estatal”, assinalou o oposicionista, frisando que é contra garantir ao Estado a capacidade de investir e fazer justiça social, como se isso fosse o equivalente ao uma “ditadura das multidões”, em seu disfarce para defender uma ditadura da minoria abastada. Segundo ele, “para crescer”, é preciso um país castrado de regras e direitos, com sinal verde à exploração.
Voltou a fazer seu proselitismo em favor da privatização e da desnacionalização dos setores estratégicos, chegando ao cúmulo do alucinado “compromisso com a dolarização e com a extinção do Banco Central”. Condenada por economistas e de forma unânime por organizações empresariais e de trabalhadores, a negação da moeda nacional reduziria a Argentina a um mero apêndice da economia estadunidense.
Incomodado com os símbolos estampados nas cédulas argentinas, que cultuam patriotas como Evita Perón, a campanha de Milei distribuiu entre seus apoiadores imensos cartazes de notas de cem dólares, com a própria foto no centro.
Sobre o fato de finalizar a campanha na cidade explicou: “Conan [seu cão e guia] era cordobês”. De acordo com Milei, seu “filho de quatro patas”, o mastim inglês Conan não só lhe dá orientações por meio de uma médium, ao ver o futuro e aprender com os erros, mas lhe garante estabilidade com os descendentes clonados. Um deles tem o nome de Milton Friedman, o economista defensor da tese do governo mínimo e da exploração máxima.
O candidato defensor da venda de órgãos se comprometeu a apagar a história de “verdade, memória e justiça”, marco que colocou a Argentina à frente na luta pelos direitos humanos no continente ao punir os responsáveis pelo assassinato e desaparecimento de 30 mil ativistas sociais durante a ditadura militar dos anos 70.
SUPOSTA “MULTIDÃO” É DESMASCARADA
A divulgação da suposta “multidão” foi prontamente desmentida. O comício de Milei ocupou um pouco mais do que uma quadra, mas a campanha chegou a divulgar outra foto, de uma marcha LGBT realizada recentemente na cidade, muito maior, como se fosse o ato de encerramento.
“Chega de notícias falsas, desinformação e lixo viralizado. As mesmas pessoas que dizem que nos odeiam usam a foto da marcha de 11 de novembro passado para sua campanha fantasma”, rebateram os organizadores da marcha LGBT. De forma enfática, expressaram “o mais enérgico repúdio à utilização da nossa manifestação para capitalizar politicamente um apelo que não era logicamente o esperado para o encerramento da campanha em nível nacional”.
ARRANCA-RABO ENTRE APOIADORES DE MILEI
Como foi captado pelo canal C5N, entre gritos e empurrões, nem bem terminou o ato houve um enfrentamento entre o deputado eleito, Oscar Zago, e o “youtuber financeiro” Ramiro Marra, candidato derrotado à chefia do governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires (CABA). O responsável pela estratégia de comunicação da campanha nas redes sociais, Fernando Cerimedo, e o jovem ativista e tiktoker Iñaki Gutiérrez também puderam ser visto no cenário bizarro. Policiais precisaram interferir para dispersar o tumulto, que causou um impacto negativo pelo ridículo.
A reprodução deste conteúdo é livre e gratuita, desde que citadas a fonte, a publicação original no Opera Mundi e a lista de entidades apoiadoras da cobertura.
A Agência ComunicaSul está cobrindo as eleições de 2023 na Argentina graças ao apoio das seguintes entidades: jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Agência Sindical, Viomundo, Fórum 21, Instituto Cultiva, Asociación Judicial Bonaerense, Unión de Personal Superior y Profesional de Empresas Aerocomerciales (UPSA), Sol y Sombra Bar, Federação dos Trabalhadores em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi-RS); Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe-RS); Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos; Federação dos Comerciários de Santa Catarina; Confederação Equatoriana de Organizações Sindicais Livres (CEOSL); Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo; Sindicato dos Hoteleiros do Amazonas; Sindicato dos Trabalhadores das Áreas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisa, e de Fundações Públicas do Rio Grande do Sul (Semapi-RS); Federação dos Empregados e Empregadas no Comércio e Serviços do Estado do Ceará (Fetrace); Federação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT Rio Grande do Sul (Fetracs-RS); Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR); Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (AASPTJ-SP), Federação dos/as Trabalhadores/as em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-PR), Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP); Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Sintaema-SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste-Centro), Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc-SC), Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf-PE), mandatos populares do vereador Werner Rempel (PCdoB/Santa Maria-RS) e da deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP) e dezenas de contribuições individuais.