Decisão intempestiva do presidente vai prejudicar a vida de milhões de pessoas e provocar mais mortes pela Covid
Jair Bolsonaro afirmou, nesta quarta-feira (6), que o Ministério da Saúde suspendeu a compra de seringas para a campanha de vacinação contra a Covid-19 até que os preços baixem. Em publicação nas redes sociais, ele afirmou que a licitação para compra desses insumos está interrompida até que os preços “voltem à normalidade”.
No primeiro pregão para a compra das seringas e agulhas, o governo fracassou, adquirindo apenas 2,4% das necessidades. O Ministério da Saúde só conseguiu comprar 7,9 milhões das 300 milhões seringas que precisa para aplicar as vacinas contra o novo coronavírus. Os fornecedores, três empresas nacionais, informaram, através da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos), que estão praticando preços de mercado.
Esta medida intempestiva do presidente, com o pretexto de preços – mas sem apresentar nenhum dado concreto – vai atrasar ainda mais a vacinação contra a Covid-19 que já está muito atrasada. Mais de cinquenta países já iniciaram a imunização de suas populações e, no Brasil, onde o número de mortos já se aproxima dos 200 mil, o governo se prende a obstáculos burocráticos para sabotar as vacinas, as agulhas e as seringas.
É a forma que Bolsonaro encontra de negar a ciência e de atropelar a medicina para seguir apoiando a expansão do coronavírus no Brasil. Seu negacionismo já provocou todas essas mortes e o atraso na vacinação vai matar ainda mais pessoas.
Tirando o corpo fora de suas obrigações, Bolsonaro jogou o problema para os governadores e prefeitos dizendo que eles terão que resolver a situação com seus estoques. “Estados e municípios têm estoques de seringas para o início das vacinações, já que a quantidade de vacinas num primeiro momento não é grande”, acrescentou.
Ele só se esqueceu, ou nem sabe, que os estados e municípios não têm somente o problema da Covid para enfrentar. Há também as campanhas de vacinação do sarampo, da gripe e de outras doenças, todas precisando de seringas e agulhas. Se usar as seringas na Covid, terão que ser repostas aos estoques.
O Brasil consome 300 milhões de seringas por ano. Todo mundo da área da saúde sabe disso. O equipamento é essencial para aplicação das vacinas na população. Os imunizantes de todos os laboratórios com os quais o governo federal negocia são ministrados por injeção muscular.
A logística da campanha especial de vacinação contra a Covid-19 não pode seguir sendo tratada da maneira amadora como está. Eduardo Pazuello não garantiu nada até agora. Nem o básico que é a compra das seringas e agulhas. Alguém já disse que, se o Exército designá-lo para a compra de cantis para as tropas, nossos soldados vão morrer de sede.
A compra que foi suspensa tinha sido acertada entre o Ministério da Saúde e a entidade que representa os fornecedores dos insumos. Mais uma vez, Bolsonaro atropela o ministério e desautoriza a compra. Já tinha feito isso com a CoronaVac, vacina do Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac.
Segundo a Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos), tinha ficado decidido que as empresas forneceriam 30 milhões de unidades até o fim de janeiro. A quantidade representa menos de 10% do que busca o Ministério da Saúde para o plano nacional de vacinação.
Para tentar justificar a incompetência e a paralisia de seu governo quanto á vacinação, Bolsonaro tentou manipular os números de outros países. A intenção era mostrar que o Brasil não estaria tão atrasado assim. Ele disse que “por volta de 44 países estão vacinando”. Deve estar esperando chegar a 150.
De acordo com o presidente, a farmacêutica norte-americana Pfizer “vendeu, para muitos, apenas 10.000 doses”. “Daí a falácia da mídia como se estivessem vacinando toda a população”, escreveu. Ou seja, Bolsonaro não consegue explicar a ninguém o fato das medidas urgentes para proteger a população não andarem e tenta minimizar os esforços dos outros países.