Depois de um fim de semana de mobilizações na capital e diversas outras cidades sudanesas, as negociações entre os militares que dirigem o governo de transição e os líderes do movimento civil e popular foram retomadas na quarta-feira e seguem em curso na quinta-feira, 4 de julho.
A ocupação das ruas do país durante o fim de semana foi uma grande demonstração de força pelas organizações civis, uma vez que o governo, além da repressão dos dias anteriores, suspendeu todo o serviço de internet no país para evitar a convocação pelas redes sociais.
Até agora, os comandantes militares, que em meio a uma gigantesca onda de mobilizações afastaram o ex-presidente Omar Bashir, não concordam com a reivindicação dos movimentos sociais, principalmente a Aliança por Liberdade e Mudança e a Associação dos Profissionais do Sudão, de que haja um governo de transição até as eleições, mas que a chefia do conselho governamental seja entregue a um civil.
Os líderes das manifestações alegam que os militares pretendem manter uma conduta autoritária neste período e dificultar a livre organização e expressão no processo de disputa eleitoral.
As negociações estão transcorrendo, até o fechamento desta matéria, na capital, Cartum, no Hotel Corinthia, situado em uma das margens do rio Nilo.
As conversas, agora retomadas, haviam sido interrompidas depois que homens fardados atacaram o acampamento dos manifestantes que se mantinham nas proximidades do principal quartel de Cartum.
O ataque ocorreu no dia 3 de junho, depois que os líderes dos movimentos sociais anunciaram que os militares não cediam e convocaram um movimento de desobediência civil que acabou paralisando grande parte das atividades do país entre 9 e 11 de junho.
Estas movimentações sofreram violenta repressão e médicos integrantes da Associação Profissional informam que 136 pessoas morreram, enquanto que os militares admitem mortes de dezenas de civis, mas negam a participação do comando na agressão e dizem que o número de mortos se situa em 78.
Também influíram pela retomada do diálogo, gestões com ambos os lados por parte de União Africana e de mediadores enviados pelo governo etíope.
As negociações são acompanhadas pelos mediadores e ocorrem com a presença de três generais do conselho militar que hoje governa o país, assim como de cinco líderes das mobilizações populares.
Ouvidos os dois lados, os mediadores tentam levar a uma mudança na equipe governamental de transição, que comporte uma maioria civil e um comandante civil de comum acordo com os militares.
O líder da Aliança pela Liberdade e Mudança, Madani Abbas, foi quem anunciou na quarta-feira a disposição dos civis de voltarem à mesa de negociações. Durante o encontro, os militares anunciaram a soltura de 235 rebeldes de Darfur, presos ainda no regime de Omar Bashir. O anúncio da soltura desta primeira leva de prisioneiros foi feito pelo próprio chefe militar do atual governo de transição, general Abdel Fatah al Burhan, em pronunciamento transmitido pela TV estatal sudanesa.
O mediador Mohamed El Hacen Labatt, indicado pela União Africana declarou-se otimista com o resultado das negociações na quarta-feira: “Já se anunciou a decisão de libertação de todos os presos políticos e de que as negociações devem prosseguir”.
A pressão sobre o conselho militar prossegue e novas manifestações estão convocadas para o dia 13 de julho, assim como um dia de desobediência civil, no dia posterior, caso não haja avanço significativo nas atuais conversações.