Em entrevista para o HP, Wagner Fajardo, líder dos metroviários de São Paulo, ex-presidente do sindicato e representante eleito dos trabalhadores para o Conselho de Administração do Metrô, declarou que a privatização do transporte público no estado, pretendida pelo governador Tarcísio de Freitas, “não traz nenhuma vantagem, pois todo investimento continua com o Estado e o lucro fica com o ‘concessionário privado’”.
“Como o setor privado tem só o interesse pelo lucro, a tendência é a de que ocorra a queda da qualidade do serviço prestado”. É por isso que “na maioria dos países o transporte público é estatal e com altos subsídios”, afirmou.
Segundo Fajardo, “foi o que ocorreu na linha 4 (Luz /Vila Sônia), em que 85% foi de investimento público e a CCR, que ganhou a licitação, entrou com 15%”.
“Além disso, os pseudo prejuízos da pandemia foram remunerados pelo Estado às linhas privadas, enquanto as empresas públicas, Metrô e CPTM, ficaram com a pecha de empresas endividadas e que geraram prejuízos para o Estado”, denunciou.
EMPRESA PÚBLICA
O sindicalista considera que a sua principal tarefa é defender a empresa pública, combatendo os planos de extinção e de desmonte que estão em curso há alguns anos. “Na minha opinião, devemos lutar por uma justa remuneração pelo serviço prestado à população, garantindo autonomia financeira e administrativa para a contratação de novos funcionários e acabar com o processo de terceirização”.
Segundo Fajardo, “hoje já se paga para as concessionárias privadas uma tarifa muito maior que a paga na bilheteria. Portanto, há um subsídio para as empresas privadas. A empresa pública Metrô, além de não receber nenhum subsídio, tem que sobreviver com a tarifa da bilheteria, insuficiente para seu equilíbrio e remuneração de seus funcionários”.
O conselheiro afirma ainda que “o governo do Estado tem impedido a contratação de novos funcionários, estimulado o processo de terceirização de várias atividades, inclusive no atendimento aos usuários. As bilheterias, que, há alguns anos, eram operadas por funcionários do Metrô, hoje são terceirizadas, mas já temos várias estações onde só se compra o bilhete por máquinas”.
“Tirar os operadores. Isso, além de eliminar postos de trabalho, significa um risco maior para a população usuária”.
Outro alvo são os operadores de trem. O Metrô já anunciou que pretende eliminar a função de Operador de Trem na Linha 15 (Prata – Ipiranga / Cidade Tiradentes), como já funciona na Linha 4, privatizada. Ao colocar as portas nas plataformas das Linhas 2 e 3 (V. Madalena / V. Prudente e Barra Funda / Itaquera), também se planeja tirar os operadores. Além de eliminar postos de trabalho, significa um risco maior para a população usuária.
PRECARIZAÇÃO
Tudo isso, sem falar nas áreas de manutenção, administração e obras, onde a redução dos funcionários é enorme e substituído por mão de obra terceirizada, que reduz a qualidade do serviço prestado e precariza as condições de trabalho, com salários e jornadas de trabalho aviltantes.
Segundo o representante dos trabalhadores, “há uma onda que é o processo de automação que busca restringir ao máximo o número de funcionários prestando serviço à população”. “Temos uma consigna importante que é ‘transporte não é mercadoria’. A Constituição afirma que o transporte é um direito social e por isso tem que ser garantido à população pelo Estado. E a melhor forma de se garantir um direito universalmente é através do monopólio estatal, onde a prioridade é a prestação do serviço e não o lucro”, considerou.
No Encontro Internacional de Metroviários, neste mês de novembro, realizado em Buenos Aires, “tivemos o relato da resistência da população de Valência na Espanha, que se recusou a entrar em um trem sem operador, obrigando a se retomar a figura do operador por pressão do Sindicato em aliança com o povo. Já em Buenos Aires, a luta dos metroviários, mesmo com o metrô privatizado, conseguiu acabar com todo o trabalho terceirizado e impedir que a automação extinguisse postos de trabalho”.
“Eu acho justo que todos que se beneficiem de uma luta de toda a categoria devam dar sua contribuição para essa luta. Por isso, principalmente nas categorias onde o índice de sindicalização é muito baixo, a contribuição compulsória para todos ajuda a luta dos Sindicatos e garante recursos para essa luta”, asseverou.
“As eleições nos metroviários será no próximo ano. Acredito que o melhor caminho para a categoria seria a composição de todas as forças para lutar contra a privatização no próximo período. No entanto, acho muito difícil que isso se concretize, pois tentamos retomar a proporcionalidade no último Congresso em abril passado, Portanto, vamos buscar nossos aliados e construir um processo que garanta que o Sindicato volte a ter o protagonismo que sempre caracterizou nossa categoria, e que infelizmente está se perdendo por uma política estreita e exclusivista”.
CARLOS PEREIRA