
Acidente na Replan acorreu após manutenção feita só por terceirizados, pela primeira vez na empresa, em equipamentos “que são considerados o coração das unidades”
A Refinaria de Paulínia da Petrobrás (Replan), no interior de São Paulo, continua com a produção parada desde a explosão da segunda-feira (20) passada. A estatal confirmou nesta segunda-feira, 27, ter recebido comunicado da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), sobre medida cautelar de interdição parcial da Refinaria.
No momento do acidente, ocorrido a 00h51, não havia ninguém na área afetada. Era horário do jantar e os trabalhadores estavam reunidos no restaurante. O que chama a atenção do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo (Sindipetro-SP) é que o acidente aconteceu poucos dias após o término de uma parada para manutenção do craqueamento. Pela primeira vez, o serviço foi executado por uma empresa de fora, apenas com trabalhadores terceirizados.
“Historicamente, a manutenção desses grandes equipamentos, que são considerados o coração das unidades, sempre foi feita por mão de obra própria, utilizando-se, principalmente, do acervo técnico e acúmulo de experiência, conhecimento que era passado de trabalhador a trabalhador”, explica o diretor do sindicato Jorge Nascimento.
A explosão ocorreu em uma unidade de craqueamento, que segundo informação do sindicato, é o processo que transforma as partes mais pesadas e de menor valor do petróleo em moléculas menores e origina derivados mais nobres. O tanque de águas ácidas explodiu, provocando incêndio na área, até atingir uma unidade de destilação (processo no qual o petróleo é aquecido em altas temperaturas até evaporar, para separação dos derivados, como gasolina, querosene de aviação, diesel e asfalto, entre outros).
A Replan tem duas unidades de craqueamento e duas de destilação. Como apenas duas das quatro unidades foram afetadas, a refinaria poderia retomar o processo operacional parcialmente. No entanto, na sexta-feira, a ANP comunicou a interdição da refinaria.
Trabalhadores garantem que este foi o pior acidente registrado na história da maior refinaria do país, inaugurada em maio de 1972. Uma comissão para investigar as causas da explosão foi instaurada e começou a atuar ainda na semana passada. Não houve vítimas, mas a explosão causou pânico nos trabalhadores. Cerca de 50 empregados próprios e terceirizados executavam serviços nas unidades atingidas. “Por muito pouco não tivemos uma fatalidade”, afirma o diretor do Sindicato Gustavo Marsaioli.
O Sindipetro-SP aponta o processo de desmonte da Petrobrás, “com a redução do efetivo mínimo operacional e a precarização das manutenções preventivas, como uma das principais causas de acidentes na empresa”. Segundo o coordenador do Sindicato, Juliano Deptula, o governo visa enfraquecer a empresa para vendê-la a preço de banana: “Há anos o Sindicato vem denunciando essa política de destruição, o sucateamento da Petrobrás e a falta de segurança, que se agravou ainda mais com a redução do efetivo mínimo operacional”, declara.
Os petroleiros organizaram um ato por mais segurança e em defesa da vida, com atraso de duas horas no início do turno da manhã de sexta-feira, 24, em frente à portaria de acesso da Refinaria de Paulínia.
Durante o ato, o Sindipetro denunciou que “A Petrobrás fez um plano de demissão voluntária sem reposição e sem um programa adequado de transmissão de conhecimento […] A sobrecarga dos trabalhadores com o monitoramento menor das atividades de rotina, por conta da redução de efetivo, também pode ser uma das causas”.
A Replan é responsável por 20% de todo o refino de petróleo do país, e atende aos mercados do interior de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Acre, Sul de Minas Gerais e Triângulo Mineiro, Goiás, Tocantins e Brasília.
Desde que teve início a nova política da Petrobrás, de economia de gastos e preço atrelado ao internacional as mudanças foram sentidas pelos trabalhadores, com quatro paradas emergenciais por conta de problemas na produção em um ano. “A refinaria teve quatro paradas em um ano. Estamos em um caminho que, estatisticamente, vai levar a um acidente fatal. Nessa última ocorrência, escapamos por um milagre. Se o tanque de águas ácidas tivesse caído um pouco mais para a esquerda ou direita, provavelmente não estaríamos aqui hoje”, declarou Arthur Bob Ragusa, também diretor do sindicato.
ANA CLÁUDIA