O mapa se chamava “Viagem para Praia”. A senha era Festa da Selma. Um dos grupos foi batizado de “Caça e Pesca”. Plano era começar o golpe frustrado por Brasília. Acampamentos nos QGs eram os pontos de contato
Reportagem do site UOL desta quarta-feira (11) sobre os episódios golpistas do último fim de semana em Brasília revela que os terroristas de Bolsonaro usaram senhas e mapas na internet para organizar a caravana e a invasão dos Três Poderes.
O mapa se chamava “Viagem para Praia”. Em vez de pontos turísticos, ele lista 43 cidades no Brasil onde se podia pegar ônibus para a “Festa da Selma”, com contatos dos organizadores dos transportes. A “festa” se referia aos atos de 8 de janeiro. Eles invadiram e depredaram a sede dos três Poderes da República, em Brasília, em uma tentativa frustrada de dar um golpe de Estado no país.
O código era “Festa da Selma”. “Vai acontecer uma festa de aniversário enorme e existe uma organização muito grande para juntar e preparar os convidados (…) a organização antes da festa vai ser em um lugar não conhecido, onde as pessoas estão há mais de 65 dias. E de lá todos sairão para a festa [Praça dos Três Poderes”, diz a reportagem. Uma referência clara ao acampamento em frente ao QG do Exército na capital.
O mapa dos ônibus para a “festa da Selma”, segundo o UOL, circulou no grupo de Telegram “Caça e Pesca”, com 18 mil membros. Apesar do nome inofensivo, o grupo era um disfarce que serviu à organização dos atos golpistas entre moradores do Sudeste. As mensagens, trocadas entre 4 e 5 de janeiro, tratavam exclusivamente de como chegar a Brasília, o que levar e o que fazer no dia 8 de janeiro.
Para as pessoas do Centro-Oeste, as mensagens eram dirigidas a “Sertanejo”. Os nomes aleatórios, sem referência aos atos golpistas, tinham o objetivo de dificultar que os grupos fossem detectados. Também havia mensagens mostrando como ocultar o número de telefone no Telegram. A senha serviu para despistar as autoridades e dificultar o rastreamento.
Os planejadores do atentado orientaram os participante usando frases cifradas. “É importante que cada um leve suas coisas pessoais de higienização e proteção, inclusive: máscara para não ficar ardendo com a torta de pimenta na cara e soro fisiológico para se limpar caso espirrem algo que faça vocês chorarem e lacrimejarem, mas não de alegria, durante a festa”, diziam. As mensagens foram todas apagadas.
No grupo “Caça e Pesca”, a mensagem foi clara: era preciso ocupar o Congresso. Ele exibiram imagens de 2013, quando manifestantes subiram no teto da sede do Legislativo. Eles disseram que o mesmo deveria ocorrer em 8 de janeiro. “Pessoal, o povo em massa tem que preencher todo esse espaço principalmente dentro e fora do congresso. Aí sim derruba o governo”, lia-se em uma imagem aérea da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes, ambas assinaladas em azul, compartilhada em 4 janeiro. O Congresso estava sinalizado com uma seta.
Em mensagem no dia 5 de janeiro, no grupo do Telegram “Caça e Pesca”, havia um chamado que dizia: “Patriotas, agora é guerra. Não é manifestação pacífica (…) Cercar os 3 poderes. Brasília”.
Um membro do grupo questionou. “Gente, me explica uma coisa. Por que ir num fim de semana? Estão em recesso e não tem ninguém lá”, perguntou uma participante. “Estão de recesso, sim. Mas penso que a ideia seja ir parando tudo. Parar o Brasil. E tomarmos o CN [Congresso Nacional]”, respondeu outro.
Além dos organizadores listados no mapa online, circularam no grupo de Telegram “Caça e Pesca” contatos de outras pessoas que estavam gerenciando os transportes do Sudeste para Brasília. “Vai ter ônibus saindo do Rio?”, perguntou uma mulher no dia 5. Outra pessoa respondeu vendendo vaga: R$ “190 só ida”. Um homem deu uma dica melhor: “tem de graça, vai no QG [referência aos acampamentos golpistas instalados em frente a prédios militares”