
Bruno Barros da Silva e Ian Barros da Silva, um tio e um sobrinho que furtaram pacotes de carne em um supermercado em Salvador (BA), foram encontrados mortos no porta-malas de um carro com tiros e sinais de tortura, horas depois do furto.
Fotos divulgadas em grupos de Whatsapp mostram que os dois haviam sido detidos pelos seguranças do Supermercado Atakarejo. Segundo familiares, eles foram entregues pelos seguranças a traficantes locais que realizaram as execuções.
“Ficamos sabendo que um gerente chamou os traficantes da área, que botaram os dois na mala de um carro. Se eles estavam roubando, tinham que chamar a polícia, e não fazer isso”, disse uma das familiares dos rapazes, enquanto aguardava a liberação dos corpos no Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues.
Fotos que circulam nas redes sociais mostram tio e sobrinho logo após eles terem sido flagrados roubando carne na rede de supermercado. Os dois estão agachados numa área interna do estabelecimento, ao lado dos produtos que teriam sido furtados e de um homem, apontado como segurança da loja.
Seguranças deram eles na bandeja para a morte
Dionésia Pereira de Barros, mãe de Bruno e avó de Ian, afirmou em manifestação por justiça dos jovens que os seguranças do Atakarejo levaram eles até a morte. “Eu sei que erraram, mas os seguranças deram eles na bandeja para a morte”. Ela repetiu isso inúmeras vezes durante o protesto. A família diz que as vítimas foram entregues a traficantes do Nordeste, responsáveis pelas mortes.

Cerca de 25 pessoas, entre parentes e amigos das vítimas, pediram por justiça no bairro onde tio e sobrinho moravam. O protesto aconteceria na porta do Ministério Público do Estado (MP-BA), numa tentativa de pressionar o andamento das investigações. No entanto, o local foi transferido pelos manifestantes para a Fazenda Coutos III, bairro de Salvador, para que outras pessoas da comunidade pudessem participar.
O MP-BA se manifestou sobre o assunto. Segundo o órgão, ao tomar conhecimento da morte, o MP-BA adotou as providências “cabíveis nesta fase preliminar de apuração, autuando uma notícia de crime e encaminhando ao Núcleo do Júri da Capital, para fins de acompanhamento das investigações que, conforme noticiado pela imprensa, já vêm sendo realizadas pela Polícia Civil”.
“Como é que pode isso? Eles poderiam ter evitado tudo isso. Pra que os seguranças do Atakarejo entregaram eles aos traficantes? Porque não chamaram a polícia? Os seguranças pediram R$ 700 para pagar as carnes. Bruno ligou para uma prima dizendo que os seguranças queriam o dinheiro para o pagamento do furto. A gente estava providenciando. Já tínhamos conseguido uns R$ 500, mas eles já tinham dado o meu filho e o tio dele para os traficantes”, disse Elaine em prantos.
Ainda bastante emocionada, Elaine revelou que até agora o Atakarejo não procurou as famílias. “Não tiveram a humanidade de falar com a gente. Não recebemos uma ligação sequer do Atakarejo. Enterramos eles com muita dificuldade, pedindo dinheiro a um e a outro. Enterrei meu filho sem poder ver o rosto porque estava todo desfigurado. O tio dele teve o coração arrancado. Foi muita brutalidade que fizeram. Tudo porque os seguranças resolveram fazer justiça com as próprias mãos”, desabafou Elaine.
Já no final do protesto, a mãe de Bruno, que estava em casa à base de medicamentos, chegou à manifestação acompanhada de outros parentes. Ela aproveitou a presença da imprensa e ajoelhou no asfalto e fez um apelo por justiça. “Eles não estavam armados. Queremos que todos eles paguem pelos seus atos. Queremos justiça. Meu filho e meu neto pegaram as carnes para matar a fome da família. Eles morreram de barriga vazia”, gritou Dionésia.