Xingou Fachin, Barroso, Moraes. Disse, novamente, que não vai aceitar decisões do Supremo. Frisou que não é rato e que não quer continuar fazendo papel de palhaço. Reação e gritos assustaram os presentes à solenidade
Jair Bolsonaro já tinha afrontado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em entrevista à SBT na manhã de quarta-feira (7), mas, surtou de vez à tarde, após saber que a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou por 3 votos a 2 a liminar de seu cupincha, Nunes Marques, que havia suspendido a cassação do deputado bolsonarista Fernando Francischini. O deputado foi cassado por divulgar vídeo falso inventando que houve fraude nas urnas eletrônicas na eleição de 2018.
Apoplético, Bolsonaro disse que não ia viver como um rato. “Eu tenho a obrigação de agir. Tenho jogado dentro das quatro linhas. Não acho uma só palavra minha, um só gesto, um só ato, fora da Constituição. Será que três do Supremo Tribunal Federal, que pode muito, podem continuar achando que podem tudo? Eu não vou viver como um rato. Tem que haver uma reação”, declarou, muito nervoso e atropelando os demais oradores do ato.
NÃO ACATO MAIS O SUPREMO
O tom meio desesperado assustou os aliados presentes ao evento. Bolsonaro fez o pronunciamento do púlpito do salão principal do Palácio do Planalto durante a cerimônia intitulada “Brasil pela Vida e pela Família”. “Eu fui do tempo em que decisão do Supremo não se discute, se cumpre. Eu fui desse tempo. Não sou mais”, disse. Da última vez que Bolsonaro disse coisa parecida, no 7 de Setembro do ano passado, teve que enfiar o rabo entre as pernas, voltar atrás e pedir desculpas.
Ele tinha planejado desmoralizar o TSE. Achou que poderia se acertar com seus dois indicados para o STF e desrespeitar impunemente uma decisão tomada por 6 votos a 1 no TSE que cassou o mandato do deputado disseminador fake news contra a democracia. Enganou-se. O Supremo não se curvou a mais essa provocação. Por isso, ele teve mais esse ataque de nervos dentro do Planalto.
“Aqui do outro lado da Praça dos Três Poderes, uma turma do STF, por 3 a 2, mantém a cassação de um deputado acusado em 2018 de espalhar ‘fake news’. Esse deputado não espalhou ‘fake news’ porque o que ele falou na ‘live’ eu também falei para todo mundo: que estava tendo fraudes nas eleições de 2018”, disse Bolsonaro. “Quando se apertava o número 1, já aparecia o 13 [número do PT] na tela e concluía a votação”, declarou. Para ele, “não existe infração penal para fake news”.
JÁ TINHA AFRONTADO O TSE NO SBT
Na entrevista da manhã Bolsonaro ja havia mentido sobre isso. Existe infração sim. Tanto que há inquéritos sobre o assunto. Ele disse também que o TSE não deu as respostas que ele queria. “São necessárias discussões mais aprofundadas entre o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e as Forças Armadas, a Polícia Federal, a AGU (Advocacia Geral da União) e a CGU (Controladoria Geral da União)”, afirmou. O TSE também respondeu a mais essa mentira. O Tribunal cansou de esclarecer, diversas vezes, todas as dúvidas, de todas as instituições que procuraram a Corte.
Agora, ele mente novamente ao dizer, sem apresentar nenhuma prova, que houve essa fraude, alardeada por Fernando Francischini, de que ele tentava apertar um número e a urna registrava o 13. O deputado cassado fez essas acusações em transmissão ao vivo por redes sociais durante o primeiro turno das eleições de 2018. Na ocasião, sem apresentar provas, o deputado bolsonarista afirmou que as urnas eletrônicas tinham sido adulteradas para impedir a eleição de Bolsonaro e não permitir que os votos no então candidato fossem computados.
Foram feitas auditorias nas urnas e diligências de vários órgãos na época e se comprovou que as afirmações do candidato bolsonarista eram falsas. As provas da fraude montada por ele foram tantas que o deputado foi cassado por ampla maioria pelo TSE. Alexandre de Moraes, futuro presidente do TSE chegou a afirmar há alguns dias que esta cassação do TSE era emblemática e sinalizava para os criminosos de que não haveria espaço para fraudes e tumultos em 2022.
REPETIU AS FAKE NEWS DO DEPUTADO CASSADO
Mas, pior ainda, durante o evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro repetiu a mentira espalhada pelo deputado cassado. A manifestação teve o claro intuito de provocar e desmoralizar as autoridades eleitorais do país. O alucinado acusou o ministro Edson Fachin de usurpar atribuições dele, Bolsonaro, como presidente da República, ao apresentar a diplomatas estrangeiros os preparativos para as eleições de outubro no Brasil.
“O que ele fez esta semana que passou? A política externa é minha e do ministro [Carlos] França, do Itamaraty. Ele convida em torno de 70 embaixadores e eles vão lá para dentro do TSE e ele, de forma indireta, ataca a Presidência da República, como homem que não respeita a Constituição, que não respeita o processo eleitoral, que pensa em dar um golpe”, afirmou.
No discurso, Bolsonaro também atacou o ex-presidente do TSE Luís Roberto Barroso. Disse que ele convidou as Forças Armadas para participar de uma comissão para avaliar as urnas eletrônicas e afirmou que foram descobertas “centenas de vulnerabilidades” no sistema eleitoral e que nenhuma providência foi tomada.
Essa foi mais uma mentira. Não se verificaram vulnerabilidades. Todos os testes de segurança foram realizados no mês passado e atestaram a segurança das urnas, segundos técnicos da Comissão Avaliadora do Teste Público de Segurança do Sistema Eletrônico de Votação.
SEGUIU MENTINDO ATÉ O FINAL
O convite às Forças Armadas foi feito por Barroso em agosto do ano passado. Na ocasião, o então presidente do TSE pediu que o então ministro da Defesa Braga Netto indicasse um representante das Forças Armadas para integrar a comissão de transparência das eleições. “Convidá-los para quê, ora bolas? Para fazer papel de quê? Eu sou o chefe das Forças Armadas. Nós não vamos fazer o papel de idiotas”, disse o presidente.
As Forças Armadas tiveram um papel sério na comissão, levantaram dúvidas e sugestões. Todas as dúvidas levantadas pelo representante das Forças Armadas sobre a seguranças das urnas foram sanadas e sugestões viáveis firam acatadas. Só Bolsonaro, transtornado, não aceita os fatos e, ele sim, faz esse papel, citado por ele próprio. Em queda nas pesquisas eleitorais, o que Bolsonaro faz é tentar inutilmente tumultuar as eleições.