A escalada xenófoba do presidente Donald Trump para as eleições intermediárias da próxima terça-feira, que decidirão sobre o controle do Congresso dos EUA, foi mais longe nesta quinta-feira (1), com um novo vídeo tuitado por ele que foi considerado pela CNN como o anúncio político “mais chocantemente racista” em 30 anos.
O vídeo postado por Trump demoniza a marcha de imigrantes hondurenhos que está chegando à fronteira e acusa os democratas de conspirarem para ajudar os “invasores” e “assassinos de policiais”.
O vídeo da web – produzido para a campanha Trump – apresenta Luis Bracamontes, um mexicano que havia sido deportado mas retornou aos EUA, e que foi condenado em fevereiro pelo assassinato de dois policiais da Califórnia.
“Vou matar mais policiais em breve”, disse um sorridente Bracamontes no tribunal, enquanto aparece a legenda na tela: “Os democratas o deixaram entrar em nosso país. Os democratas o deixaram ficar”.
O anúncio essencialmente repete o notório anúncio “Willie Horton” da campanha de Bush Pai na eleição presidencial de 1988. Assassino condenado, Horton cometeu estupro durante o período de licença sob um programa em Massachusetts, onde o candidato democrata Michael Dukakis era governador.
O anúncio, que explorava o racismo branco sob o espectro do medo e os estereótipos afro-americanos na época foi devastador para a campanha de Dukakis.
Em uma primeira reação, o presidente do Comitê Nacional Democrata, Tom Perez, disse que o anúncio foi um sinal de desespero, que leva a sugerir que Trump está perdendo a discussão sobre a questão que os democratas colocaram no centro de sua campanha, a saúde [o Obamacare, com os setores mais avançados propondo o Medicare para Todos – a extensão a todos da saúde pública já disponível para os idosos].
Assim, o rancoroso anúncio mostra cenas da caravana de imigrantes que querem requerer asilo nos EUA como, nessa deturpação de Trump, “preparando uma invasão dos EUA” – implicando, como registrou a CNN, que “todos na coluna de pessoas fugindo da repressão, pobreza e deterioração econômica estariam empenhados em assassinatos e crimes graves em solo americano”.
“Quem mais os democratas deixariam entrar?” uma legenda pergunta.
Uma fonte próxima à Casa Branca disse o anúncio na web foi produzido pela Jamestown Associates para a campanha Trump das eleições intermediárias e foi projetado para se encaixar na impulsão da temática anti-imigração de Trump e visando induzir a mudança da percepção do público da caravana como imigrantes em busca da “unificação familiar”, para “invasão”.
Para despertar os demônios nas mentes dos seus adeptos, e empurrá-los às urnas, Trump, além de repetir à exaustão que a caravana de refugiados está cheia de “criminosos”, garante que também traz “terroristas do Oriente Médio” – sem claro, fornecer qualquer prova disso.
O vídeo completa a escalada racista e xenófoba de Trump, que à medida que o dia da votação se aproxima, triplicou, para 15 mil, o total de tropas cujo envio anunciou para repelir a caravana de destituídos e famintos, que ainda está a muitos quilômetros de distância.
Os “15 mil soldados” são, para a maioria dos analistas, um golpe publicitário às vésperas da eleição, com o chefe do Pentágono, general Mattis, dizendo que “não fazemos acrobacias” e que o papel da tropa vai ser oferecer “apoio prático” ao Homeland (Segurança Interna).
A deputada democrata da Califórnia, Jackie Speier, considerou a ação de Trump uma malversação de fundos dos contribuintes “em uma tentativa desesperada de comprar votos”. Votos racistas, claro. “Estamos enviando de 10 a 15 mil soldados, o que significa que vamos gastar entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões para que ele possa ter sua surpresa de outubro”, denunciou.
Trump também ameaçou acabar, com um canetaço, com o direito inato à cidadania que todos os que nasçam em solo americano – como em quase todo o Hemisfério Ocidental – têm constitucionalmente. Conforme a CNN, a frenética atividade de cabo-eleitoral de Trump se deve a que a disputa na Câmara está ficando apertada para os republicanos.
A.P.