
O orçamento das universidades públicas de 2025 é 9% inferior ao do ano passado, que acumulam uma perda de 33% desde 2023. “Tudo o que este governo faz é arrochar salários por ordem do Fundo Monetário Internacional (FMI)”, ressaltou Marcelo Creta, secretário de Políticas Universitárias da União dos Trabalhadores em Educação.
Da mesma forma que se insurgiram em outubro do ano passado, milhares de estudantes e professores universitários voltaram às ruas nesta quinta e sexta-feira (26 e 27) por toda a Argentina para exigir um basta no ajuste fiscal promovido por Milei.
No plano de luta divulgado pela Frente Universitária – conformada por reitores, estudantes e associações de professores e servidores – foram acesas tochas para exigir a aprovação da “Lei do Financiamento”, a fim de garantir a manutenção do caráter público e gratuito das instituições.
Todos os setores coincidiram que estas últimas 48 horas de levante representam a semente da terceira marcha federal que ocorrerá no próximo semestre para levar ao Congresso Nacional “um milhão de assinaturas pela universidade pública”. O fato, assinalaram as lideranças, é que “não sabemos se com este orçamento podemos chegar ao fim do ano”.
Um relatório da Associação Civil pela Igualdade e Justiça (ACIJ) revelou que, em termos reais, o orçamento da universidade de 2025 é 9% inferior ao do ano passado e acumula uma queda de 33% desde 2023. Das duas últimas décadas é o orçamento mais baixo desde 2006 e o investimento por aluno é o menor desde 2005.
‘Este ano, a situação piorou, é muito mais profunda. Até o momento, não houve um único acordo coletivo de trabalho, apesar do que foi anunciado”, denunciou Ricardo Petraglia, secretário-geral do sindicato dos professores da Universidade Nacional de Avellaneda.
Conforme relatou o jornal Página 12, é diante disso que “a maré universitária resiste e não baixa as bandeiras”. Foram dias marcados por atividades do setor em todo o país, com passeatas e abraços a instituições públicas durante o dia e tochas iluminando e esquentando a noite.
ARROCHO FEZ 10% DOS PROFESSORES ABANDONAREM UNIVERSIDADE
“Com esta medida, começamos a trabalhar para uma terceira marcha universitária federal no segundo semestre do ano”, declarou Carlos De Feo, secretário-geral da Confederação Nacional de Docentes Universitários (Conadu). Carlos esclareceu que Milei tem tornado bem difíceis os dias para professores e não professores, fazendo com que “cerca de 10% do pessoal tenham deixado a universidade”. “Se você olhar para o salário de um professor que ganha 200.000 pesos (R$ 920,00) por mês para dar três ou quatro aulas por semana para 400 alunos (o que envolve preparar aulas e corrigir provas)… bem, se eles têm um carro em boas condições, eles vão trabalhar para a Uber. É isso que está acontecendo”, disse.
Citando apenas uma mostra do que está acontecendo nas 67 universidades públicas da Argentina, a Conadu denuncia que disse mais de 200 professores da Universidade Nacional de Rosário deixaram seus cargos no último ano, o que representa 5% do total. Algo semelhante aconteceu na Universidade Nacional do Litoral, onde 151 professores e assistentes pediram demissão e 26 solicitaram licença desde que Milei assumiu.
“Há exatamente um ano, a ministra do Capital Humano, Sandra Pettovello, nos disse muito claramente que, naquela época, estávamos perdendo 40% contra a inflação e que, se não recebessemos esse dinheiro em uma semana, deveríamos ir às ruas. Hoje, estamos com 91% de queda nos salários, e tudo o que esta ministra e este governo estão fazendo é arrochar salários por ordem do Fundo Monetário Internacional (FMI)”, ressaltou Marcelo Creta, secretário de Políticas Universitárias da União dos Trabalhadores em Educação.
De acordo com Laura Carboni, secretária-geral da Associação de Docentes da Universidade de Buenos Aires, “a organização é ante um governo que nos quer enterrrar, que pretente é fechar a universidade pública”.
ATENTADOS À EDUCAÇÃO E AO PAÍS
Diante de tamanhos atentados à educação e ao país, as críticas se fortalecem contra o ministro de Educação, Carlos Torrendell, e ao subsecretário de Políticas Universitárias, Alejandro Álvarez “Na nossa universidade, o único produto de limpeza que se compra é água sanitária. Sem falar nos equipamentos de pesquisa. Quem entra na carreira docente, ou seja, alguém com uma dedicação simples, sem antiguidade, tem um salário líquido de 207.000 pesos (R$ 955)”, informou Ricardo Petraglia, secretário-geral do Sindicato dos Docentes da Universidade Nacional de Avellaneda. Portanto, revelou, “há muita gente que precisa parar de frequentar, e outras que nem começaram; recursos humanos estão sendo perdidos”. “Tudo isso, essa deterioração já ocorreu, e será claramente visível em alguns anos”, concluiu.
Outros setores da sociedae também se somaram à marcha, como o jornalista aposentado Mario Pons, que afirmou que “a educação pública, assim como a saúde pública, são conquistas sociais que devem ser mantidas e que o governo Javier Milei, como todos os governos neoliberais e de extrema direita, quer acabar”.
Um primeiro projeto de lei de financiamento universitário foi vetado por Milei em outubro de 2024, e um novo projeto de lei está previsto para ser discutido numa sessão especial em dois de julho.
Além da falta de financiamento, entre outros absrudos, o desgoverno argentino incluiu propaganda antiuniversitária como parte do relançamento do seu canal (anti)estatal onde os protagonistas do desenho animado “Tuttle Twins” dizem às crianças que a faculdade as deixará endividadas para sempre e que é possível ganhar muito dinheiro sem um diploma.