Nos locais onde o produto foi comercializado, preço continua subindo
O preço do etanol hidratado continua nas alturas mesmo depois do governo Bolsonaro liberar, ainda no ano passado, os postos a comprar o combustível diretamente dos produtores ou importadores, em mais uma encenação de que estaria combatendo os altos preços dos insumos. De lá para cá, o preço pouca diferença fez no bolso do consumidor.
Dos volumes negociados diretamente, praticamente tudo foi vendido em fevereiro e por apenas duas usinas: a Verde, em Baía Formosa (RN), a 90 quilômetros de Natal, e a Usina Anicuns, na cidade goiana de mesmo nome, a 80 quilômetros de Goiânia, segundo reportagem do Valor Econômico. As usinas pertencem ao Grupo Farias, do empresário Eduardo Farias, uma das maiores companhias sucroalcooleiras do Nordeste e do Centro-Oeste, em recuperação judicial desde 2016.
Os volumes vendidos foram destinados aos postos dos respectivos estados onde ficam as usinas. O preço do combustível chegou a ter uma leve queda entre janeiro e fevereiro, mas, ao longo do mês de março, o preço do etanol voltou a subir.
Em Goiânia, capital de Goiás, na semana encerrada em 2 de abril, o litro do etanol atingiu R$ 4,959. Em Natal, a queda de preços entre janeiro e fevereiro foi ainda menor do que em Goiânia, uma redução de apenas R$ 0,214 o litro, mas logo também subiram acumulando alta de R$ 0,421 o litro, chegando a R$ 5,890 o litro no dia 2 de abril.
Na média nacional, o preço do etanol hidratado está em R$ 5,014 o litro, segundo os últimos dados atualizados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Márcio Martins, presidente do Sindicato dos Postos de Combustíveis de Goiás (Sindiposto), diz que a usina do Grupo Farias está com uma política de vender aos postos o etanol hidratado por preços parecidos com os das distribuidoras. Segundo o dirigente, a diferença seria de apenas 4 centavos por litro, o que não teria efeito para o consumidor.
O movimento de alta do biocombustível – derivado da cana-de-açúcar – acompanha a escalada do preço da gasolina – que se dá em virtude da política que o governo mantém na Petrobrás, de atrelar os preços dos combustíveis que são produzidos pela estatal ao dólar e à cotação do barril do petróleo no mercado internacional.
Com o mega-aumento de 18,8% no preço médio na venda da gasolina da Petrobrás para as distribuidoras, em 11 de março deste ano, o preço do etanol fechou o mês passado em alta de 3,02%, acumulando aumento de 24,59% em 12 meses até março, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. Em um ano, a gasolina acumula alta de 27,48%.
“Quando as distribuidoras vendem o combustível para os postos, o etanol já vem com essa paridade tendo como referência o preço da gasolina”, diz Alfredo Pinheiro Ramos, presidente do Sindcombustíveis.
Em agosto de 2021, o governo Bolsonaro editou a medida provisória que permite que produtores e importadores de etanol hidratado possam comercializá-lo diretamente com os postos de combustíveis, sem ter de passar pelas distribuidoras. Na época, o então secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, José Mauro Ferreira Coelho, atual presidente da Petrobrás, afirmou que a medida promoveria abertura do mercado e o aumento da concorrência, com potencial redução do preço dos combustíveis, gerando benefícios ao consumidor.
“Teremos aumento da concorrência, com potencial redução do preço dos combustíveis, o que traz importantes benefícios ao consumidor brasileiro”, declarou Coelho.
Em 2018, um estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-Log) mostrou que, no estado de São Paulo, haveria uma redução nos preços do etanol em mais de 30%, levando-se em conta apenas os custos de transporte rodoviário na ocasião.
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg), André Rocha, o setor “nunca passou a expectativa de que haveria redução” dos preços na bomba por causa da medida. “A questão é alinhar com a lei de liberdade econômica, pois abre uma porta para facilitar uma venda. É uma liberalidade para a empresa acessar mercado e ter relacionamento com postos”, disse. Segundo ele, para que o preço do etanol diminua nas bombas, são necessários “outros fatores. Não é tão simples”, completou.